São Paulo, domingo, 17 de julho de 2005

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CINEMA

Peter Jackson constrói seu "King Kong"; "Pantera Cor-de-Rosa" terá Steve Martin na pele do inspetor Clouseau

Hollywood revisita seus filmes clássicos

CRÍTICO DA FOLHA

O universo encantador de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", filtrado por Tim Burton, é um tanto mais sombrio. À primeira vista, o roteiro desse novo filme é até mais moralista que o primeiro. Na versão de 1971, quatro das cinco crianças sorteadas para visitar a fábrica de Willy Wonka desapareciam de maneiras desgraçadamente assustadoras. Nessa nova versão, todas ressurgem vivas e em segurança no fim, ainda que transformadas pela experiência. No primeiro filme, durante a visita à fábrica, Charlie e seu avô caíam na tentação de provar um refrigerante em experiência e por um triz não eram triturados por um exaustor. Agora, Charlie é exemplo rigoroso de firmeza de caráter.
A diferença não se imprime no conteúdo, mas na forma. Como já havia feito em "O Planeta dos Macacos", Burton transforma universos fantasiosos preexistentes em uma visão altamente crítica ao mundo de hoje. Nunca sabemos ao certo se Burton vê poesia no horror do mundo ou se vê horror na poesia do mundo. No caso de "A Fantástica Fábrica", as quatro crianças que vão sendo eliminadas (e os parentes que as acompanham) parecem ser feitas de plástico. São figuras robotizadas pela experiência contemporânea -o consumismo, a obsessão pela boa forma, a televisão. Longe de ser uma figura adorável como o Willy Wonka de Gene Wilder, o personagem de Johnny Depp (em mais um desempenho genial) é uma espécie de mistura de Marilyn Mason e Michael Jackson (!). Os "remakes", como prova Tim Burton, podem ser ainda mais interessantes que os originais.
O que não significa que não exista, na lógica da indústria, um tanto de oportunismo e falta de criatividade. O tão malfadado "remake" de "Crepúsculo dos Deuses", por exemplo, é a versão da versão. Trata-se na verdade da filmagem do musical "Sunset Boulevard", de Andrew Lloyd Webber, inspirado no roteiro de Billy Wilder e Charles Brackett sobre o relacionamento entre uma atriz decadente e um roteirista desempregado.
Peter Jackson, que depois da glória e dos prêmios de "O Senhor dos Anéis" enfim conseguiu realizar o sonho de criar seu próprio "King Kong", também pisa em terreno batido. Antes de Naomi Watts cair nas mãos do macaco nesta nova versão, Fay Wray e Jessica Lange já passaram pela mesma situação, respectivamente, em 1933 e 1976. Um tanto mais difícil, talvez, será ver Steve Martin na pele do inspetor Clouseau em "A Pantera Cor-de-Rosa", um tipo tão marcado pela persona de um ator genial, Peter Sellers. (PEDRO BUTCHER)

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