São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Crítica/"Batman - O Cavaleiro das Trevas"

Nolan volta a Batman em ritmo excitante

Filme evidencia a função de prólogo psicológico de "Batman Begins" e eleva a crise do herói a seu patamar mais interessante

Divulgação
Christian Bale como o super-herói no novo filme

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

E ntre todos os super-heróis de HQ reencarnados nos últimos tempos no cinema, Batman foi o que aprendeu com mais dureza a lição de que não basta ter asas para voar. Ressuscitado em 1989 pelas mãos do diretor Tim Burton, o homem-morcego alcança em "O Cavaleiro das Trevas", sua sexta aventura na franquia, a condição de anjo caído, demonstração da linha de diálogo que serve de mote para esta desventura: "Ou se morre como herói, ou vive-se o bastante para se tornar o vilão".
O filme, que estréia no Brasil amanhã, põe o milionário Bruce Wayne na desconfortável tarefa de sobreviver à chegada de Coringa a Gotham City. De quebra, mostra a gênese do Duas Caras. E eleva a condição generalizada de crise -moral, social, existencial- ao patamar mais interessante da franquia.
O responsável pela tarefa de risco foi o britânico Christopher Nolan, que, além de dirigir, assina o roteiro com seu irmão Jonathan. Para os fãs insatisfeitos com "Batman Begins" (2005), a estréia de Nolan na série, fica o veredicto: desta vez ele acertou em cheio.
"O Cavaleiro das Trevas" segue à risca o modelo seriado de aventuras da qual o super-herói é exemplo desde seus primórdios em quadrinhos. E justifica retrospectivamente as escolhas feitas por Nolan na estrutura de "Batman Begins".
No longa anterior, o modelo de filme de ação era relativamente descumprido em toda a primeira hora, num visível esforço de Nolan de refundar a mitologia do personagem. Pouca movimentação seguia a narrativa das origens do super-herói, que deslocava o filme para o terreno psicológico, interrompido aqui e ali por combates.
Agora fica mais clara a função de prólogo de "Batman Begins", e "O Cavaleiro das Trevas" pode se concentrar na ação desde os minutos iniciais, mantendo-se num excitante ritmo por quase duas horas e meia.
Para se distinguir da imagem marcante criada pelo refundador da série, Nolan impõe uma visão mais realista ao personagem e seu universo. Burton marcou Batman com a inclinação gótica e carnavalesca de seu estilo, elegendo as máscaras e fantasias como foco da atenção.
E foi seguido com muito menos talento por Joel Schumacher nos dois títulos seguintes.
Nolan prefere desvalorizar as máscaras, seja usando-as na forma reproduzida, como nos falsos Coringa e Batman que aparecem nas duas primeiras seqüências do novo filme, seja mostrando a maquiagem do Coringa se derretendo sobre a face de Heath Ledger, numa última aparição assombrosa.
Para se livrar do peso excessivo de outro antecessor (Jack Nicholson) na pele do vilão, Ledger oferece outra encarnação aos maus modos do personagem, mais grotesco e menos caricato. Sua face degradada é o duplo monstruoso do Bruce Wayne com o rosto limpo e a pele cuidada de Christian Bale, dualidade que só se confirma com a irrupção de Duas Caras.
Conceitos e simbolismos à parte, o que não falta ao filme é espaço para o arsenal de truques visuais e encantamentos, como o Bat-Pod, a supermoto e as seqüências com câmeras Imax, capazes de deixar qualquer marmanjo boquiaberto.



BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS
Produção: EUA, 2008
Direção: Christopher Nolan Com: Christian Bale, Heath Ledger, Gary Oldman, Aaron Eckhart
Onde: estréia amanhã nos cines Bristol, TAM, Pátio Higienópolis e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Avaliação: ótimo




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