São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Trocando as uvas

Pinot noir, chardonnay, merlot, pinot meunier... Taças e mais taças de vinho e muito sol acompanham a visita ao vale do Napa, na Califórnia

CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL AO VALE DO NAPA

O plano é pegar um ônibus às 10h da manhã rumo ao vale do Napa, a cerca de uma hora de San Francisco, Califórnia, para visitar três das melhores vinícolas da região, com intervalo para comer em um luxuoso restaurante -tudo programado por uma agência local.
Com um mínimo de café da manhã no estômago, ainda não é hora do almoço quando o grupo do qual a Folha participa, com cerca de dez pessoas, chega à Artesa, vinícola de propriedade espanhola. É recebido com um espumante "meio pinot noir, meio chardonnay" de primeira, e com taça cheia.
Sem jeito para recusar a bebida, o grupo brinda. Taças nas mãos, a guia-sommelier Jen Brady, 29, conta que os espanhóis se estabeleceram em Napa como uma casa de espumantes, em 1991, para depois se especializarem nos vinhos pinot noir, chardonnay e um pouco de cabernet sauvignon -a Artesa também produzia muitos merlot, mas houve redução depois que o filme "Sideways", levou à desvalorização dessa uva de fácil cultivo.
Para chegar à recepção do prédio contemporâneo, "incorporado às montanhas", os visitantes sobem as escadas "pisando" nas adegas em que os vinhos envelhecem -no salão subterrâneo e gelado, "não gastam tanta energia".
Enquanto passeia, ela procura explicar o processo: defende a colheita das frutas à mão ("Já trabalhei em uma vinícola que usava máquinas, vi vários tipos de lagartixa"), aconselha aos leigos que fiquem "longe das grandes produtoras", resume as complexas diferenças entre os sabores das bebidas...
Conseguimos acompanhar o raciocínio rápido, já que ninguém bebeu mais do que uma taça (ainda): o barril de carvalho francês (usado na fermentação) dá o gosto de baunilha, o americano, um sabor de especiarias, o vinho branco pode ficar em um barril usado. A conversa é interrompida quando alguém nota a música ao fundo, solene, típica de monastérios.
"A tradição diz que, se você trouxer beleza até o vinho, ele a trará de volta a você. Mas os trabalhadores não gostam", ri a guia, antes de levar o grupo ao salão de degustação.
A palavra de ordem é "limited release", que se refere às garrafas produzidas em pequena escala. A primeira, um branco chardonnay, é seguida por um clássico da mesma uva, enquanto a guia mostra como arejar a bebida balançando levemente a taça e ensina a colocar o gole "embaixo da língua", "respirando" o seu cheiro.
Enquanto alguns tentam imitá-la, disfarçando os goles mal dados, ela abre os tintos.
Serve um pinot noir reserva, elogiando o poder de "Sideways" na produção da uva (venerada pelos personagens do filme), para logo contar sobre a queda dos merlot, que, em uma versão um tanto ácida (a falta de conhecimento impede a identificação de outros elementos), fecha a degustação.
Mas, na quinta taça, já não é possível dizer o que é pinot, merlot ou cabernet...

Luxo espumante
Já passa do meio-dia quando o ônibus deixa o grupo na Domaine Chandon (são cinco filiais da francesa Chandon pelo mundo; uma delas fica em Garibaldi, na Serra Gaúcha).
"Está um dia lindo, será uma experiência muito especial", diz a sorridente guia, sob um sol escaldante. Não que o calor atrapalhe: o grupo não irá se aventurar por plantações; ao ar livre, terá que se contentar com uma "vitrine" de uvas.
A maior atração é a pinot meunier, "prima" da noir. A vinícola é a primeira a cultivar a uva fora de Champagne, na França, segundo a guia.
Depois de mais uma dose de explicações sobre cultivo, fermentação e envelhecimento, vamos à degustação, em um charmoso jardim, onde estão cinco garrafas a serem abertas -com classe, sem estouro.
Todos olham as bolhas subindo pela taça, arejando o "brut classic" que a guia diz gostar de tomar no cinema, com pipoca. Um pinot noir vem em segundo; depois, um "étoile brut". No terceiro, já é difícil identificar o que os diferencia.
No quarto (um extra-seco) e no quinto (um pinot noir adocicado), o desafio aumenta, embora parte do grupo chute aromas e temperos pelo ar.
Terminada a degustação, os visitantes levam as suas taças e imploram pelo almoço. Depois de muita comida e mais alguma dose de álcool, desistem da terceira vinícola do plano inicial.


A jornalista CRISTINA FIBE viajou a convite do Discovery Channel


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