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Trocando as uvas
Pinot noir, chardonnay, merlot, pinot meunier...
Taças e mais taças de vinho e muito sol acompanham a visita ao vale do Napa, na Califórnia
CRISTINA FIBE
ENVIADA ESPECIAL AO VALE DO NAPA
O plano é pegar um ônibus às
10h da manhã rumo ao vale do
Napa, a cerca de uma hora de
San Francisco, Califórnia, para
visitar três das melhores vinícolas da região, com intervalo
para comer em um luxuoso restaurante -tudo programado
por uma agência local.
Com um mínimo de café da
manhã no estômago, ainda não
é hora do almoço quando o grupo do qual a Folha participa,
com cerca de dez pessoas, chega à Artesa, vinícola de propriedade espanhola. É recebido
com um espumante "meio pinot noir, meio chardonnay" de
primeira, e com taça cheia.
Sem jeito para recusar a bebida, o grupo brinda. Taças nas
mãos, a guia-sommelier Jen
Brady, 29, conta que os espanhóis se estabeleceram em Napa como uma casa de espumantes, em 1991, para depois
se especializarem nos vinhos
pinot noir, chardonnay e um
pouco de cabernet sauvignon
-a Artesa também produzia
muitos merlot, mas houve redução depois que o filme "Sideways",
levou à desvalorização dessa uva de fácil
cultivo.
Para chegar à recepção do
prédio contemporâneo, "incorporado às montanhas", os visitantes sobem as escadas "pisando" nas adegas em que os
vinhos envelhecem -no salão
subterrâneo e gelado, "não gastam tanta energia".
Enquanto passeia, ela procura explicar o processo: defende
a colheita das frutas à mão ("Já
trabalhei em uma vinícola que
usava máquinas, vi vários tipos
de lagartixa"), aconselha aos
leigos que fiquem "longe das
grandes produtoras", resume
as complexas diferenças entre
os sabores das bebidas...
Conseguimos acompanhar o
raciocínio rápido, já que ninguém bebeu mais do que uma
taça (ainda): o barril de carvalho francês (usado na fermentação) dá o gosto de baunilha, o
americano, um sabor de especiarias, o vinho branco pode ficar em um barril usado. A conversa é interrompida quando
alguém nota a música ao fundo,
solene, típica de monastérios.
"A tradição diz que, se você
trouxer beleza até o vinho, ele a
trará de volta a você. Mas os
trabalhadores não gostam", ri a
guia, antes de levar o grupo ao
salão de degustação.
A palavra de ordem é "limited release", que se refere às
garrafas produzidas em pequena escala. A primeira, um branco chardonnay, é seguida por
um clássico da mesma uva, enquanto a guia mostra como
arejar a bebida balançando levemente a taça e ensina a colocar o gole "embaixo da língua",
"respirando" o seu cheiro.
Enquanto alguns tentam
imitá-la, disfarçando os goles
mal dados, ela abre os tintos.
Serve um pinot noir reserva,
elogiando o poder de "Sideways" na produção da uva (venerada pelos personagens do
filme), para logo contar sobre a
queda dos merlot, que, em uma
versão um tanto ácida (a falta
de conhecimento impede a
identificação de outros elementos), fecha a degustação.
Mas, na quinta taça, já não é
possível dizer o que é pinot,
merlot ou cabernet...
Luxo espumante
Já passa do meio-dia quando
o ônibus deixa o grupo na Domaine Chandon (são cinco filiais da francesa Chandon pelo
mundo; uma delas fica em Garibaldi, na Serra Gaúcha).
"Está um dia lindo, será uma
experiência muito especial",
diz a sorridente guia, sob um
sol escaldante. Não que o calor
atrapalhe: o grupo não irá se
aventurar por plantações; ao ar
livre, terá que se contentar com
uma "vitrine" de uvas.
A maior atração é a pinot
meunier, "prima" da noir. A vinícola é a primeira a cultivar a
uva fora de Champagne, na
França, segundo a guia.
Depois de mais uma dose de
explicações sobre cultivo, fermentação e envelhecimento,
vamos à degustação, em um
charmoso jardim, onde estão
cinco garrafas a serem abertas
-com classe, sem estouro.
Todos olham as bolhas subindo pela taça, arejando o
"brut classic" que a guia diz
gostar de tomar no cinema,
com pipoca. Um pinot noir vem
em segundo; depois, um "étoile
brut". No terceiro, já é difícil
identificar o que os diferencia.
No quarto (um extra-seco) e
no quinto (um pinot noir adocicado), o desafio aumenta, embora parte do grupo chute aromas e temperos pelo ar.
Terminada a degustação, os
visitantes levam as suas taças e
imploram pelo almoço. Depois
de muita comida e mais alguma
dose de álcool, desistem da terceira vinícola do plano inicial.
A jornalista CRISTINA FIBE viajou a convite do
Discovery Channel
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