São Paulo, quinta-feira, 17 de julho de 2008

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Grupo Espanca! discute o medo

Festival de Rio Preto recebe terceira peça da companhia mineira, "Congresso Internacional do Medo'

Para a diretora Grace Passô, a idéia é "dar mobilidade e subverter a situação aparentemente fria, formal e antiteatral de um congresso"


LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)

Depois de encenar as aflições comezinhas de uma vizinhança em "Por Elise" e as fissuras da comunicação familiar em "Amores Surdos", a companhia mineira Espanca! cai no mundo em "Congresso Internacional do Medo".
A peça estreou há duas semanas em Belo Horizonte e tem sessões a partir de hoje no Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto.
"É um espetáculo bem diferente dos anteriores, pautados pelo intimismo. Aqui, temos pessoas de países imaginários convidadas a participar de um evento que trata do medo, sem saber por que estão ali", explica a dramaturga e diretora Grace Passô, 28. "Mas o discurso sobre as relações humanas persiste: os participantes do congresso descobrem sentimentos em comum, dentre os quais o medo da finitude das coisas", completa.

Drummond
Também atriz, ela desta vez não está em cena. "Em "Elise" e "Amores", partimos de textos que já existiam [de autoria dela]. No caso de "Congresso", houve uma idéia teatral que foi sendo desenvolvida durante o processo. Intuí que seria difícil conduzir isso tendo de ser também atriz. Precisava do olhar radicalmente distanciado de diretora", diz.
A tal idéia surgiu após a leitura do poema "Congresso Internacional do Medo", de Carlos Drummond de Andrade. "Foi um disparo. Quis ver se era possível dar mobilidade e subverter a situação aparentemente fria, formal e antiteatral de um congresso", conta Passô. "Buscava também um sentimento que unisse pessoas de culturas e etnias diferentes. O medo tem regido as nossas vidas; é assustador como nos relacionamos a partir dele."
Medo que bateu à porta do Espanca! depois da acolhida calorosa do trabalho de estréia, "Por Elise", em 2005 -o texto rendeu a Passô os prêmios Shell e da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).
"A partir da segunda peça ["Amores Surdos'], tivemos a obrigação de revelar uma identidade. Foi um trabalho árduo, um tanto amedrontador até entendermos qual era ela", lembra Passô.

Risco
Caminho escolhido, a trupe optou por uma "forma ousada" (nas palavras da diretora) para o terceiro esforço. "Agora, sabemos bem o nosso lugar. É o de um grupo de pessoas que está entrando e tentando refletir a arte, a estética do teatro e nossa condição neste mundo. Estamos com menos medo do risco", diz.
Nessa disposição em colocar um espelho diante do homem atual, o Espanca! tem farta companhia em Minas. Coletivos como a cia. Clara (de "Alguns Leões Falam" e "Coisas Invisíveis") e a cia. Luna Lunera (de "Aqueles Dois") têm colecionado elogios por onde passam. Para a diretora, a boa safra se deve ao fato de o Estado abrigar "grupos de trabalho continuado, o que torna possível investigar uma linguagem artística de forma complexa e viabiliza o amadurecimento".
Mas há algo mais nas Alterosas: "Minas e os mineiros têm essa memória humana muito latente. Por isso, a gente acaba fazendo peças sensíveis".
A produção de "Congresso" foi bancada pelo Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil, que destina R$ 150 mil, a cada dois anos, a um projeto de montagem.
O espetáculo, que estreou no Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, faz escala agora em São José do Rio Preto e aporta no Festival de Londrina no ano que vem. Ainda não há data fechada de apresentação em São Paulo.


O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da organização do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto

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