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Grupo Espanca! discute o medo
Festival de Rio Preto recebe terceira peça da companhia mineira, "Congresso Internacional do Medo'
Para a diretora Grace Passô, a idéia é "dar mobilidade e subverter a situação aparentemente fria, formal e antiteatral de um congresso"
LUCAS NEVES
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO (SP)
Depois de encenar as aflições
comezinhas de uma vizinhança
em "Por Elise" e as fissuras da
comunicação familiar em
"Amores Surdos", a companhia
mineira Espanca! cai no mundo
em "Congresso Internacional
do Medo".
A peça estreou há duas semanas em Belo Horizonte e tem
sessões a partir de hoje no Festival Internacional de Teatro
de São José do Rio Preto.
"É um espetáculo bem diferente dos anteriores, pautados
pelo intimismo. Aqui, temos
pessoas de países imaginários
convidadas a participar de um
evento que trata do medo, sem
saber por que estão ali", explica
a dramaturga e diretora Grace
Passô, 28. "Mas o discurso sobre as relações humanas persiste: os participantes do congresso descobrem sentimentos
em comum, dentre os quais o
medo da finitude das coisas",
completa.
Drummond
Também atriz, ela desta vez
não está em cena. "Em "Elise" e
"Amores", partimos de textos
que já existiam [de autoria dela]. No caso de "Congresso",
houve uma idéia teatral que foi
sendo desenvolvida durante o
processo. Intuí que seria difícil
conduzir isso tendo de ser também atriz. Precisava do olhar
radicalmente distanciado de
diretora", diz.
A tal idéia surgiu após a leitura do poema "Congresso Internacional do Medo", de Carlos
Drummond de Andrade. "Foi
um disparo. Quis ver se era possível dar mobilidade e subverter a situação aparentemente
fria, formal e antiteatral de um
congresso", conta Passô. "Buscava também um sentimento
que unisse pessoas de culturas
e etnias diferentes. O medo tem
regido as nossas vidas; é assustador como nos relacionamos a
partir dele."
Medo que bateu à porta do
Espanca! depois da acolhida calorosa do trabalho de estréia,
"Por Elise", em 2005 -o texto
rendeu a Passô os prêmios
Shell e da APCA (Associação
Paulista dos Críticos de Arte).
"A partir da segunda peça
["Amores Surdos'], tivemos a
obrigação de revelar uma identidade. Foi um trabalho árduo,
um tanto amedrontador até entendermos qual era ela", lembra Passô.
Risco
Caminho escolhido, a trupe
optou por uma "forma ousada"
(nas palavras da diretora) para
o terceiro esforço. "Agora, sabemos bem o nosso lugar. É o
de um grupo de pessoas que está entrando e tentando refletir
a arte, a estética do teatro e nossa condição neste mundo. Estamos com menos medo do risco", diz.
Nessa disposição em colocar
um espelho diante do homem
atual, o Espanca! tem farta
companhia em Minas. Coletivos como a cia. Clara (de "Alguns Leões Falam" e "Coisas
Invisíveis") e a cia. Luna Lunera (de "Aqueles Dois") têm colecionado elogios por onde passam. Para a diretora, a boa safra
se deve ao fato de o Estado abrigar "grupos de trabalho continuado, o que torna possível investigar uma linguagem artística de forma complexa e viabiliza o amadurecimento".
Mas há algo mais nas Alterosas: "Minas e os mineiros têm
essa memória humana muito
latente. Por isso, a gente acaba
fazendo peças sensíveis".
A produção de "Congresso"
foi bancada pelo Núcleo dos
Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil, que destina R$ 150 mil, a cada dois anos,
a um projeto de montagem.
O espetáculo, que estreou no
Festival Internacional de Teatro de Belo Horizonte, faz escala agora em São José do Rio
Preto e aporta no Festival de
Londrina no ano que vem. Ainda não há data fechada de apresentação em São Paulo.
O jornalista LUCAS NEVES viajou a convite da
organização do Festival Internacional de Teatro
de São José do Rio Preto
NA INTERNET
cacilda.folha.blog.uol.com.br
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