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Em "Cordélia Brasil", Maria Padilha interpreta prostituta
DO ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Em "Cordélia Brasil", remontagem do texto sessentista
de Antônio Bivar que faz sua estréia nacional hoje, no festival
de Rio Preto, Maria Padilha encarna uma auxiliar de escritório que decide se prostituir para bancar o sonho do marido de
ser quadrinista - e, lá pelas
tantas, vive uma crise de identidade.
"A Cordélia vê que não é bem
uma "biscate", nem bem uma
auxiliar, nem bem uma dona-de-casa. Não é nada. Isso fala
muito ao povo brasileiro, à informalidade e à indefinição reinantes por aqui. Ser brasileiro
tem uma certa graça, mas é
cansativo", observa a atriz.
"[Essa hesitação] É algo que
está na fundação da nossa sociedade. Ainda tentamos construir as nossas liberdade e democracia. A ditadura econômica foi e é tão forte que a maioria
da população nem percebeu
que houve ditadura militar."
Padilha conta que vislumbrou no texto "uma falta de
pretensão que acaba se traduzindo numa imensa liberdade
com o fazer teatral". "Às vezes,
sinto que a dramaturgia brasileira é um pouco amarrada. No
Bivar, o teatro se impõe à teoria, à categorização."
Para o diretor Gilberto Gawronski (de "Por Uma Vida Um
Pouco Menos Ordinária"), as
artimanhas de Cordélia mantêm o frescor porque flagram
"uma revolução de comportamento que ainda não foi completamente assimilada": "A revolução sexual que acontece
em 68 e aponta para a inversão
de papéis e a busca de formas
fora da instituição para os relacionamentos parece passar por
um retrocesso hoje". A peça
cumpre temporada no Sesc
Paulista, em São Paulo, a partir
da semana que vem.
(LN)
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