São Paulo, sábado, 17 de julho de 2010

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"É dramático parecer o que não se deve", diz Maxwell

Peça do dramaturgo teve ingressos esgotados para apresentações no FIT

Em entrevista, autor diz buscar fugir de padrões teatrais e gostar de cineastas como Spike Lee e David Lynch

MARCOS GRINSPUM FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO

Um dos nomes mais aguardados do 10º FIT (Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto), Richard Maxwell, 43, é considerado dos mais inventivos entre os dramaturgos experimentais norte-americanos da atualidade.
No festival, com sua companhia New York City Players, o diretor apresenta "Ode ao Homem que se Ajoelha" (2007), um "western" musical que nada se assemelha ao padrão da Broadway.
Dizendo-se feliz e surpreendido em saber que uma "peça experimental" estava com ingressos esgotados para suas seis apresentações, Maxwell conversou com a Folha antes do ensaio do espetáculo, no qual toca piano.

 

Folha - Esta edição do FIT se propõe a apresentar artistas singulares e originais. Como você acha que seu trabalho se encaixa nisso?
Richard Maxwell -
Quando comecei a escrever peças e a dirigi-las, eu queria que elas parecessem comuns, com forte impacto emocional. Mas, por alguma razão, isso não funcionava. Algo ficava comicamente errado.
Foi quando eu vi que a possibilidade de as coisas parecerem o que não deviam parecer podia ter um maior efeito dramático. Acho que foi aí que tudo começou. Eu percebi que não há por que obedecer a um sistema de como fazer teatro. Esta foi minha verdadeira investigação.

Uma peça recente sua se chama "The End of Reality" (o fim da realidade) e o realismo é um assunto importante no seu trabalho. Como você lida com esse conceito?
Realismo é um conceito complicado, enganoso. As pessoas não entendem que realismo é, na verdade, um estilo. Pensam que é uma tentativa de ser "real", de ser preciso ou honesto em relação ao passado. Eu não vejo razão para seguir isso. Teatro não é sobre o passado, é o momento em que estamos. Realidade é o simples fato de estarmos fazendo uma peça. Seria um desperdício não aproveitar o fato de ter pessoas sentadas numa sala assistindo a outras, que estão contando uma história.

Você se considera afiliado a alguma tradição teatral?
Eu não estaria onde estou hoje sem coletivos como The Wooster Group. Eles me deixaram confortável com meus instintos, me tiraram a impressão de que eu sou algum esquisitão tentando ser diferente. Se você for sincero com o que está fazendo, pode descobrir sua voz. Gosto de diretores de cinema como Spike Lee e David Lynch ou de teatro como Elizabeth LeCompte e Richard Foreman, que estão mais interessados em descobrir quem são e dividir isso do que em querer adivinhar o que o público quer ver.

No Brasil existe uma tradição de companhias trabalharem de forma colaborativa, com atores e diretores criando juntos, inclusive os textos. Como é seu trabalho com a New York City Players?
Não há uma típica colaboração, em que o ator traria sua proposta de texto. Mas eu assisto e ouço o ator, e o texto muda baseado em quem é o ator, em vez de o ator mudar em função do texto. Há algo autêntico na linguagem de cada um. Não penso no ator como ator, mas como pessoa.

Colaborou CHRISTIANE RIERA, crítica da Folha
Os jornalistas MARCOS GRINSPUM FERRAZ, LENISE PINHEIRO e CHRISTIANE RIERA hospedam-se a convite do festival


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