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"É dramático parecer o que não se deve", diz Maxwell
Peça do dramaturgo teve ingressos esgotados para apresentações no FIT
Em entrevista, autor diz buscar fugir de padrões teatrais e gostar de cineastas como Spike Lee e David Lynch
MARCOS GRINSPUM FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A SÃO
JOSÉ DO RIO PRETO
Um dos nomes mais
aguardados do 10º FIT (Festival Internacional de Teatro
de São José do Rio Preto), Richard Maxwell, 43, é considerado dos mais inventivos
entre os dramaturgos experimentais norte-americanos
da atualidade.
No festival, com sua companhia New York City Players, o diretor apresenta
"Ode ao Homem que se Ajoelha" (2007), um "western"
musical que nada se assemelha ao padrão da Broadway.
Dizendo-se feliz e surpreendido em saber que uma
"peça experimental" estava
com ingressos esgotados para suas seis apresentações,
Maxwell conversou com a
Folha antes do ensaio do espetáculo, no qual toca piano.
Folha - Esta edição do FIT se
propõe a apresentar artistas
singulares e originais. Como
você acha que seu trabalho se
encaixa nisso?
Richard Maxwell - Quando
comecei a escrever peças e a
dirigi-las, eu queria que elas
parecessem comuns, com
forte impacto emocional.
Mas, por alguma razão, isso
não funcionava. Algo ficava
comicamente errado.
Foi quando eu vi que a
possibilidade de as coisas parecerem o que não deviam
parecer podia ter um maior
efeito dramático. Acho que
foi aí que tudo começou. Eu
percebi que não há por que
obedecer a um sistema de como fazer teatro. Esta foi minha verdadeira investigação.
Uma peça recente sua se chama "The End of Reality" (o
fim da realidade) e o realismo
é um assunto importante no
seu trabalho. Como você lida
com esse conceito?
Realismo é um conceito
complicado, enganoso. As
pessoas não entendem que
realismo é, na verdade, um
estilo. Pensam que é uma
tentativa de ser "real", de ser
preciso ou honesto em relação ao passado.
Eu não vejo razão para seguir isso. Teatro não é sobre o
passado, é o momento em
que estamos. Realidade é o
simples fato de estarmos fazendo uma peça. Seria um
desperdício não aproveitar o
fato de ter pessoas sentadas
numa sala assistindo a outras, que estão contando
uma história.
Você se considera afiliado a
alguma tradição teatral?
Eu não estaria onde estou
hoje sem coletivos como The
Wooster Group. Eles me deixaram confortável com meus
instintos, me tiraram a impressão de que eu sou algum
esquisitão tentando ser diferente. Se você for sincero com
o que está fazendo, pode descobrir sua voz.
Gosto de diretores de cinema como Spike Lee e David
Lynch ou de teatro como Elizabeth LeCompte e Richard
Foreman, que estão mais interessados em descobrir
quem são e dividir isso do
que em querer adivinhar o
que o público quer ver.
No Brasil existe uma tradição
de companhias trabalharem
de forma colaborativa, com
atores e diretores criando
juntos, inclusive os textos.
Como é seu trabalho com a
New York City Players?
Não há uma típica colaboração, em que o ator traria
sua proposta de texto. Mas eu
assisto e ouço o ator, e o texto
muda baseado em quem é o
ator, em vez de o ator mudar
em função do texto. Há algo
autêntico na linguagem de
cada um. Não penso no ator
como ator, mas como pessoa.
Colaborou CHRISTIANE RIERA, crítica da
Folha
Os jornalistas MARCOS GRINSPUM FERRAZ, LENISE PINHEIRO e CHRISTIANE
RIERA hospedam-se a convite do festival
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