São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

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Vai encarar?

Divulgação
Godzilla atravessa ponte sobre o East River para arrasar Manhattan, no filme de Roland Emmerich, que estréia hoje



Estréia em 310 salas brasileiras o tão-falado filme "Godzilla", sobre monstro que invade Manhattan; megaprodução é considerada o supra-sumo do cinema de entretenimento, mas está sendo impiedosamente malhada pela crítica americana


LÚCIO RIBEIRO
Editor-adjunto da Ilustrada

O mais aguardado, hypado, escondido, badalado, preparado, discutido e, dizem, talvez o mais frustrante produto hollywoodiano dos últimos tempos chega hoje aos cinemas brasileiros.
A megaprodução "Godzilla", que também estréia nesta sexta-feira nas telas das principais capitais européias, pega lugar em 310 salas brasileiras no exato instante em que os EUA discutem se o filme esgotou todas as possibilidades que o chamado "filme de entretenimento" tem a oferecer.
Para o cinéfilo de São Paulo, por exemplo, é curioso perceber que um filme "só para os olhos" como "Godzilla" ganha espaço nas estréias da semana acompanhado de três "filmes para pensar", como "A Cicatriz", do diretor polonês Krysztof Kieslowski, o pseudocabeça "Lucie Aubrac", do francês Claude Berri, e "O Mundo de Luz e Sombras", do sueco Ingmar Bergman (este estreando só na TV).
Assim, o mote de "Godzilla", a frase "Tamanho é documento?", vai muito mais além da brincadeira com os custos de produção e com as próprias dimensões de um mero lagarto japonês que por causa de um desastre radioativo se transformou em um monstro descomunal de 300 metros de altura.
Afogando em números: "Godzilla" custou quase US$ 180 milhões, somando os US$ 125 milhões da produção com o avassalador gasto em publicidade. Para comparar, chega perto dos US$ 200 milhões de "Titanic".
O longa estreou nos EUA, em maio, em 7.000 salas -o maior número de telas ocupado por um filme na história do cinema.
Nos dois primeiros dias de exibição, abocanhou das bilheterias US$ 12,5 milhões, performance superior à de blockbusters como "Missão Impossível" e "O Mundo Perdido - Jurassic Park".
Esses números iniciais, que já despencaram à medida que a crítica especializada dos EUA malhava sem parar "Godzilla", refletem o que viveu um cidadão médio americano no ano que antecedeu a estréia do filme de trailer enigmático no qual o monstro, personagem principal, nunca apareceu.
Ao sair de casa todos os dias nos últimos 12 meses, era praticamente impossível uma pessoa, por onde quer que andasse, não ser bombardeada com informações visuais do tipo:
"Ele é duas vezes maior do que este prédio". "Sua calda é seis vezes o tamanho deste ônibus", "Ele é mais alto que a estátua da Liberdade (93 metros de altura)", "Ele é duas vezes maior que um Jumbo 747 (148 metros)".
A partir de hoje, o público cinematográfico brasileiro pode conferir se valeu mais a pena esperar por "Godzilla" do que propriamente assisti-lo.



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