São Paulo, sexta, 17 de julho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Beuys discute comunicação com Warhol

CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Londres

Não é à toa que o americano Andy Warhol e o alemão Joseph Beuys estão lado a lado na mostra que a fundação alemã Froehlich organizou para a Tate Gallery.
Os dois artistas são grandes referências para a arte contemporânea e trabalharam a relação do indivíduo com a arte e com a celebridade, embora de maneira distinta.
O educador e ativista político Beuys trabalhou com o conceito da "escultura social", que colocava a escultura como um instrumento do processo de evolução humana em um mundo em que "todo mundo é um artista".
Warhol preferiu a relação do indivíduo com a fama. Nem todos são artistas, mas todos terão direito à celebridade por meio da exposição aos meios de comunicação.
A mostra começa com um retrato feito por Warhol do próprio Beuys, com fundo dourado. O ouro é uma remissão à alquimia, que transformaria o chumbo em ouro, em puro o que é impuro, tema recorrente em Beuys, e ao ouro enquanto signo de glamour, uma recorrência em Warhol (vide "Gold Marilyn", de 62, na mostra).
Mas a Tate apresenta Warhol de uma maneira muito mais complexa. Além de retratos glamourosos, apresenta o lado negro do "american way of life" na série "Death and Disaster", dos anos 60, sobre desastres de carro.
O automóvel, símbolo de ascensão social e de uma economia de sucesso, aparece aqui como símbolo de morte e destruição.
Os anos 60 são repletos de trabalhos com empenho social e político. Em 1963, o artista produziu a série "Tunafish Disaster", sobre duas senhoras mortas com botulismo depois de dividir uma lata de atum. Nos dois exemplos, as mortes não são mais célebres e cercadas de glamour, mas anônimas.
No ano seguinte, retratou confrontos entre policiais e manifestantes durante passeata por direitos humanos em Birmingham (Alabama).
A parte reservada a Joseph Beuys é mais reduzida, mas igualmente impactante. "Plateau Central", desenho com lápis em pedra de mármore disposta em caixa de zinco, escultura de 1964, utiliza as marcas do mármore para representar a região entre a Europa e a Ásia, um lugar de trânsito, confrontos e troca de comunicação entre leste e oeste.
O poder da comunicação, assim como em Warhol, é um de seus temas mais constantes, representada em fios de cobre.
A escultura "Earth Telephone", feita com terra, telefone e palha, estabelece uma relação entre energia da Terra (veiculada pelos veios de cobre) e da informação (fios de cobre do telefone).


Mostra: Warhol and Beuys: Loans from the Froelich Collection Onde: Tate Gallery (Milbank, metrô Pimlico, tel. 0171/887-8000) Quando: diariamente, das 10h às 17h30. Até 20 de setembro


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