São Paulo, Sábado, 17 de Julho de 1999
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CINEMA
Resenhas dos jornais destoam do consenso positivo das revistas
"De Olhos Bem Fechados" divide a crítica americana

AMIR LABAKI
enviado especial a Nova York

O cinema de Stanley Kubrick (1928-99) continua provocando polêmica mesmo em seu último capítulo. A estréia ontem nos EUA de "De Olhos Bem Fechados" (no Brasil, em 3 de setembro) rachou a crítica da imprensa americana, com pequena vantagem para resenhas favoráveis. O consenso positivo inicial, desenhado pela "Time", "Newsweek" e "Variety", é passado.
Resenhas no "New York Times", "USA Today", "Chicago Sun-Times" e "Los Angeles Times" aplaudiram o filme. A obra de Kubrick não convenceu os críticos do "Wall Street Journal", "Washington Post", "New York Post" e "Boston Globe".
Escrevendo no "NYT", Janet Maslin classifica "De Olhos Bem Fechados" como "o mais arriscado filme" da carreira de Kubrick. "Acusado seguidamente de criar personagens gélidos, desta vez ele atingiu a parte escondida do iceberg." Roger Ebert, do "Sun-Times", sustenta que "a grande proeza no filme é encontrar e sustentar um tom esquisito e perturbador, por vezes também erótico, para os estranhos encontros do médico vivido por Cruise".
Já Mike Clark, do "USA Today", atribuiu a cotação máxima de quatro estrelas. Para Clark, trata-se de "uma das mais bravamente perturbadoras obras fílmicas já tentadas sobre os pensamentos retidos mesmo pelos mais devotados casais".
No "LA Times", Kenneth Turan classifica o filme de "mais europeu que hollywoodiano no tom" e o reconhece "metade brilhante, metade banal". Turan critica o roteiro, defendendo que "as impressões mais fortes não (vêm) com o diálogo, mas com o virtuosístico trabalho visual".
As resenhas mais ferinas foram publicadas ontem pelo tablóide "NY Post". Dois de seus críticos se manifestaram. Rod Dreher atribuiu ao filme duas estrelas e meia, chamando-o de "A Ameaça Fantasma" do circuito de cinema de arte. Jonathan Foreman, por sua vez, concedeu apenas duas.
Mais reverente a Kubrick, Jay Carr, do "Boston Globe", afirma que, "ambicioso como poucos filmes", o lançamento fracassa "por vezes de forma risível" a "realizar suas ambições". "É um filme sobre sexo feito por -e talvez para- quem tem medo de sexo."
"De Olhos Bem Fechados" é o filme mais sujo de 1958", graceja Stephen Hunter na abertura de sua resenha no "Washington Post". É "estalante, antigo, desesperadamente fora de sintonia, apaixonado pelos tabus da juventude (de Kubrick) e incapaz de conectar-se com essa coisa enrolada que a sexualidade contemporânea se tornou".
Joe Morgenstern considera o filme "muitas vezes triste, datado e até bobo". "Num mundo melhor, não seria esta a última obra de uma carreira ilustre."


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