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CINEMA
Resenhas dos jornais destoam do consenso positivo das revistas
"De Olhos Bem Fechados"
divide a crítica americana
AMIR LABAKI
enviado especial a Nova York
O cinema de Stanley Kubrick
(1928-99) continua provocando
polêmica mesmo em seu último
capítulo. A estréia ontem nos
EUA de "De Olhos Bem Fechados" (no Brasil, em 3 de setembro) rachou a crítica da imprensa
americana, com pequena vantagem para resenhas favoráveis. O
consenso positivo inicial, desenhado pela "Time", "Newsweek"
e "Variety", é passado.
Resenhas no "New York Times", "USA Today", "Chicago
Sun-Times" e "Los Angeles Times" aplaudiram o filme. A obra
de Kubrick não convenceu os críticos do "Wall Street Journal",
"Washington Post", "New York
Post" e "Boston Globe".
Escrevendo no "NYT", Janet
Maslin classifica "De Olhos Bem
Fechados" como "o mais arriscado filme" da carreira de Kubrick.
"Acusado seguidamente de criar
personagens gélidos, desta vez ele
atingiu a parte escondida do iceberg." Roger Ebert, do "Sun-Times", sustenta que "a grande
proeza no filme é encontrar e sustentar um tom esquisito e perturbador, por vezes também erótico,
para os estranhos encontros do
médico vivido por Cruise".
Já Mike Clark, do "USA Today",
atribuiu a cotação máxima de
quatro estrelas. Para Clark, trata-se de "uma das mais bravamente
perturbadoras obras fílmicas já
tentadas sobre os pensamentos
retidos mesmo pelos mais devotados casais".
No "LA Times", Kenneth Turan
classifica o filme de "mais europeu que hollywoodiano no tom" e
o reconhece "metade brilhante,
metade banal". Turan critica o roteiro, defendendo que "as impressões mais fortes não (vêm) com o
diálogo, mas com o virtuosístico
trabalho visual".
As resenhas mais ferinas foram
publicadas ontem pelo tablóide
"NY Post". Dois de seus críticos se
manifestaram. Rod Dreher atribuiu ao filme duas estrelas e meia,
chamando-o de "A Ameaça Fantasma" do circuito de cinema de
arte. Jonathan Foreman, por sua
vez, concedeu apenas duas.
Mais reverente a Kubrick, Jay
Carr, do "Boston Globe", afirma
que, "ambicioso como poucos filmes", o lançamento fracassa "por
vezes de forma risível" a "realizar
suas ambições". "É um filme sobre sexo feito por -e talvez para- quem tem medo de sexo."
"De Olhos Bem Fechados" é o
filme mais sujo de 1958", graceja
Stephen Hunter na abertura de
sua resenha no "Washington
Post". É "estalante, antigo, desesperadamente fora de sintonia,
apaixonado pelos tabus da juventude (de Kubrick) e incapaz de
conectar-se com essa coisa enrolada que a sexualidade contemporânea se tornou".
Joe Morgenstern considera o filme "muitas vezes triste, datado e
até bobo". "Num mundo melhor,
não seria esta a última obra de
uma carreira ilustre."
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