São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

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Suspeita de irregularidade atinge 20 filmes

DA REPORTAGEM LOCAL

Além de "O Guarani", outros 19 projetos que se beneficiaram das leis Rouanet e do Audiovisual estão sob suspeita de irregularidade no uso de recursos. Desses, 13 são do produtor paulista Renato Bulcão, quatro da ADL Assessoria e Consultoria, também de São Paulo, e dois referem-se ao projeto "Chatô", de Guilherme Fontes.
Bulcão, 44, que até o ano passado era professor da disciplina produção de cinema e televisão na Escola de Comunicações e Arte da USP, despontou no cenário cinematográfico paulistano nos anos 80, como produtor da jovem geração de cineastas.
Produziu os longas "Um Céu de Estrelas", de Tata Amaral, "Os Matadores", de Beto Brant, "O Velho", de Toni Venturi, o curta "Amassa que Elas Gostam", de Fernando Coster, e co-produziu "O Evangelho das Maravilhas", do mexicano Arturo Ripstein.
Para realizar os 13 projetos aprovados em 94 e que têm suas contas agora questionadas, ele captou R$ 5,4 milhões. Até a semana passada, nenhum dos filmes havia sido entregue ao MinC, como determina a lei.
De acordo com o produtor, cinco deles foram concluídos ("A França Antártica", "Tesouros Americanos - O Ouro", "Pepe Bola", "Os Judeus", "Glorinha Leme"), mas não dispõem de cópia em 16 mm, formato previsto no projeto original. Ontem, Bulcão depositou na Delegacia Regional do MinC, em São Paulo, cópias beta de três desses projetos.
"Errei ao decidir por uma produção em escala. Assumi um risco alto. Houve uma desvalorização do real, e todos os custos da indústria cinematográfica são indexados em dólar. Quando olhei, tinha um rombo. Como não fiz meus projetos um a um, eu já tinha tomado a decisão errada e fiquei com filmes aos pedaços", diz.
Bulcão afirma que, com sua produtora "à míngua", pretende concluir os filmes com o dinheiro que ganha como assalariado. "Arrumei um emprego (na TV Futura), trabalho, ganho um salário e vou pagando as contas atrasadas. Por isso a produção hoje está a passo de cágado."
De seus 13 projetos em Tomada de Contas Especial, três encontram-se no Tribunal de Contas da União em São Paulo. As dívidas apuradas (em valores não atualizados) são de R$ 311.129, por "Tesouros Americanos - O Ouro", R$ 261.290, por "A Religião dos Bispos", e R$ 988.730, por "Pepe Bola".
A ADL também tem três de seus quatro processos entregues ao TCU. Neles, figuram como responsáveis os sócios-fundadores da empresa, José Roberto Bernardes de Luca e Ângela Maria do Prado Teixeira.
Procurada pela Folha, Prado Teixeira afirmou não ter nenhuma relação com o assunto. "Tenho um documento que me desliga de qualquer responsabilidade na empresa e a transfere ao sócio, o José Roberto Bernardes de Luca." Ela afirma também não manter contato algum com o ex-sócio, que não foi localizado pela reportagem. "Estou completamente desligada disso. Hoje faço um trabalho social, voluntário, com crianças. Quero esquecer que um dia houve a ADL." (SA)



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