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Suspeita de irregularidade atinge 20 filmes
DA REPORTAGEM LOCAL
Além de "O Guarani", outros 19
projetos que se beneficiaram das
leis Rouanet e do Audiovisual estão sob suspeita de irregularidade
no uso de recursos. Desses, 13 são
do produtor paulista Renato Bulcão, quatro da ADL Assessoria e
Consultoria, também de São Paulo, e dois referem-se ao projeto
"Chatô", de Guilherme Fontes.
Bulcão, 44, que até o ano passado era professor da disciplina
produção de cinema e televisão
na Escola de Comunicações e Arte
da USP, despontou no cenário cinematográfico paulistano nos
anos 80, como produtor da jovem
geração de cineastas.
Produziu os longas "Um Céu de
Estrelas", de Tata Amaral, "Os
Matadores", de Beto Brant, "O
Velho", de Toni Venturi, o curta
"Amassa que Elas Gostam", de
Fernando Coster, e co-produziu
"O Evangelho das Maravilhas",
do mexicano Arturo Ripstein.
Para realizar os 13 projetos
aprovados em 94 e que têm suas
contas agora questionadas, ele
captou R$ 5,4 milhões. Até a semana passada, nenhum dos filmes havia sido entregue ao MinC,
como determina a lei.
De acordo com o produtor, cinco deles foram concluídos ("A
França Antártica", "Tesouros
Americanos - O Ouro", "Pepe Bola", "Os Judeus", "Glorinha Leme"), mas não dispõem de cópia
em 16 mm, formato previsto no
projeto original. Ontem, Bulcão
depositou na Delegacia Regional
do MinC, em São Paulo, cópias
beta de três desses projetos.
"Errei ao decidir por uma produção em escala. Assumi um risco alto. Houve uma desvalorização do real, e todos os custos da
indústria cinematográfica são indexados em dólar. Quando olhei,
tinha um rombo. Como não fiz
meus projetos um a um, eu já tinha tomado a decisão errada e fiquei com filmes aos pedaços", diz.
Bulcão afirma que, com sua
produtora "à míngua", pretende
concluir os filmes com o dinheiro
que ganha como assalariado. "Arrumei um emprego (na TV Futura), trabalho, ganho um salário e
vou pagando as contas atrasadas.
Por isso a produção hoje está a
passo de cágado."
De seus 13 projetos em Tomada
de Contas Especial, três encontram-se no Tribunal de Contas da
União em São Paulo. As dívidas
apuradas (em valores não atualizados) são de R$ 311.129, por "Tesouros Americanos - O Ouro", R$
261.290, por "A Religião dos Bispos", e R$ 988.730, por "Pepe Bola".
A ADL também tem três de seus
quatro processos entregues ao
TCU. Neles, figuram como responsáveis os sócios-fundadores
da empresa, José Roberto Bernardes de Luca e Ângela Maria do
Prado Teixeira.
Procurada pela Folha, Prado
Teixeira afirmou não ter nenhuma relação com o assunto. "Tenho um documento que me desliga de qualquer responsabilidade
na empresa e a transfere ao sócio,
o José Roberto Bernardes de Luca." Ela afirma também não manter contato algum com o ex-sócio,
que não foi localizado pela reportagem. "Estou completamente
desligada disso. Hoje faço um trabalho social, voluntário, com
crianças. Quero esquecer que um
dia houve a ADL."
(SA)
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