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TEATRO
Montagem concorrida no Central Park tem Meryl Streep, Kevin Kline e Philip Seymour Hoffman
"De graça", "A Gaivota" em NY sai por US$ 130
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Madonna? Michael Jackson?
"The Producers"? Esqueça. O ingresso mais quente e disputado
deste verão nova-iorquino é o de
uma peça escrita em 1896 pelo
dramaturgo Anton Tchecov
(1860-1904) sobre um grupo de
russos infelizes que se encontram
na propriedade rural de um deles.
Desde o dia 26 último e pelo menos até o final do mês, um elenco
hollywoodiano liderado por
Meryl Streep vem fazendo das
exibições da peça "A Gaivota", no
meio do Central Park, o espetáculo de mais sucesso entre a centena
em cartaz na cidade.
O passe começa a ser distribuído às 13h do dia do espetáculo e
teoricamente é gratuito. Desde
que você se disponha a enfrentar
uma fila de até 15 horas, que começa a ser formada às 22h do dia
anterior em frente ao Public
Theater, no sul de Manhattan, ou
na porta do próprio Delacorte
Theater, no meio do parque.
Provando que o despachante
não é prerrogativa brasileira nem
herança exclusiva da colonização
portuguesa, pequenas empresas
de fundo de quintal floresceram
em torno do evento.
Por um ingresso para um dia de
semana, cobram-se US$ 130, ou
US$ 30 por hora que um estudante em férias ou um aspirante a
ator recebe para ficar na fila por
você, mais o lucro do atravessador.
Foi o que este repórter teve de
gastar para conseguir assistir à
montagem. Se vale a pena?
Vale, pelo privilégio de ver em
ação Philip Seymour Hoffman,
um dos atores mais talentosos de
sua geração.
Você pode não estar ligando o
nome à pessoa: no cinema, foi o
amigo esnobe de "Talentoso Ripley", o masturbador de "Felicidade", o crítico Lester Bangs de
"Quase Famosos".
No teatro, o nova-iorquino de
34 anos esteve ótimo como um
dos irmãos de "True West", de
Sam Shepard, que encenou no
ano passado na Broadway, e mostrou outra faceta de suas habilidades ao dirigir o modesto espetáculo "Jesus Hopped the A-Train",
num pequeno teatro do East Village há alguns meses.
Século 19
"Gaivota" começa com dia ainda claro e um bem-humorado locutor explicando as consequências nefastas de um celular ligado
(eletrocução é uma delas) e pedindo que você imagine estar na
Rússia do século 19, mesmo que
os aviões rumo ao aeroporto JFK
teimem em continuar passando
no céu do teatro ao ar livre.
É a deixa para entrarem em cena nomes mais conhecidos do público de cinema do que do frequentador habitual da Broadway.
Meryl Streep é Arkadina, Kevin
Kline, seu amante, Trigorin. Ambos vão visitar o filho dela, Konstantin (Seymour Hoffman), que
mora no campo com o tio, Sorin
(Christopher Walken).
Lá vivem o capataz Shmrayev
(John Goodman) com a mulher e
a filha, Masha (Marcia Gay Harden), além da jovem Nina (Natalie Portman). A direção é de Mike
Nichols, também do cinema
("Lembranças de Hollywood",
"Uma Secretária de Futuro").
Involuntariamente, Meryl
Streep interpreta com trejeitos de
grande atriz decadente a grande
atriz decadente que é seu papel.
Da mesma maneira, Natalie Portman está insegura e amedrontada
como a aspirante a atriz insegura
e amedrontada. Destaca-se no
elenco feminino apenas a oscarizada Marcia Gay Harden, excelente como a rejeitada Masha.
Christopher Walken e John
Goodman são, respectivamente,
Christopher Walken e John
Goodman, não exatamente um
elogio em se tratando de um drama ambientado na Rússia do século 19.
Mas a noite é de Kevin Kline, o
escritor medíocre que seduz Nina,
além do próprio Hoffman, o personagem central, alter ego de
Tchecov como o jovem dramaturgo incompreendido, passional
e apaixonado.
E do insuperável Tom Stoppard, que adaptou essa versão da
peça mais difícil da tetralogia do
russo, composta ainda por "Tio
Vânia", "As Três Irmãs" e "O Jardim das Cerejeiras".
Por incongruente que possa parecer, já que se trata de um Tchecov, "A Gaivota" no Delacorte
Theater faz parte do já tradicional
evento anual "Shakespeare in the
Park", criado por Joseph Papp, o
fundador do Public Theater de
Nova York.
Está fazendo tanto sucesso que
deve chegar à Broadway para uma
temporada de oito semanas a partir de novembro.
O preço do ingresso: US$ 100.
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