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"HARRY CHEGOU PARA AJUDAR"
Thriller faz exploração imatura e incapaz do universo hitchcockiano
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
A perfeita banalidade das
primeiras cenas de "Harry
Chegou para Ajudar" está longe
de justificar o suspense da trilha
sonora que o diretor Dominik
Moll encomendou a David Whitaker, um velho compositor de filmes de horror: em férias com as
três filhas, um jovem casal contorna os problemas da viagem.
Trata-se de um suspense quase
involuntário, esse expresso pelo
descompasso entre a tensão da
música e a banalidade da situação. É a única vez em que a inabilidade de Moll conta a seu favor: o
diretor cria, a partir desse hiato,
um presságio de morte. De resto,
quando tenta deter-se nos mecanismos do suspense, Moll se revela sempre incapaz de dominá-los.
"Harry Chegou para Ajudar"
pertence à extensa e malfadada
tradição da cinematografia francesa dos filmes sub-hitchcockianos. Nos anos 50, quando ainda
era preciso afirmar a genialidade
de Hitchcock contra detratores
que o consideravam um mero diretor comercial, jovens críticos
como Claude Chabrol e François
Truffaut puseram-se a tratar o
mestre como autor maiúsculo.
Uma das recorrências estilísticas do autor Hitchcock era o que
se costumava chamar de "culpabilidade intercambiável": o que
importa não é o crime em si, nem
quem o cometeu, mas a transferência simbólica da culpa.
Tal como nos filmes de Hitchcock, no thriller de Moll o assassino comete o seu crime em nome
de um inocente que já não o é
mais. Ambos tornam-se cúmplices. Harry é o ex-colega de escola
que o protagonista do filme, Michel, encontra na estrada.
Quando jovem, Harry venerava
os contos macabros de Michel, e,
para redespertar o dom literário
do amigo, ele começa a aprontar
das suas. Sintomático o fato de os
crimes de Harry serem cometidos
em nome de uma nostalgia da
adolescência: "Harry" não passa,
afinal, de uma exploração imatura do universo hitchcockiano.
Harry Chegou para Ajudar
Harry, un Ami qui Vous Veut du Bien
Direção: Dominik Moll
Produção: França, 2000
Com: Laurent Lucas, Sergi López
Quando: a partir de hoje nos cines ABC
Plaza Shopping, Belas Artes, Top Cine e
Unibanco Arteplex
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