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CRÍTICA
"Amor pra Recomeçar" é calculado, mas tem entusiasmo
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando se ouve pela primeira vez "Amor pra Recomeçar" (que nominho, hein?), ele parece um disco muito cuidadoso,
muito calculado, muito moldado
por um artista que está em franco
processo de transição e não pode
prever como será seu futuro.
O CD começa com "Som e Fúria", rock-isca para fisgar os fãs de
sempre do Barão Vermelho. Mesmo com um dedilhado MPB à
Marisa Monte no fundo do rock, a
faixa cumpre os clichês de juventude do rock'n'roll. Mesmo engenhosa ("não adianta levar o mundo nas costas"), a letra de Bruno
Levinson acomoda clichês velhos
(o rock, sua fúria...) e novos (a
modinha sonsa de Nick Hornby e
seus seguidores). Todo mundo
está convidado.
A primeira faixa finge que o disco não será muito ousado, e de fato o que vem a seguir não há de
provocar nenhum grande sobressalto nos veteranos em Barão Vermelho. Por isso e pelo cálculo que
o envolve, as intervenções contemporâneas têm as bordas polidas CD afora.
As baladas são baladas, os rocks
são rápidos e a produção de Max
de Castro em "Mais que Perfeito"
e "Sol de Domingo" serve para
adequar Frejat a modelos antigos
da soul music e do movimento
black Rio que a algo mais contemporâneo ou inovador.
Um trunfo se dá ao pé da tradição, quando Frejat canta com
convicção (embora nem sempre
bem) naquele registro que o coloca num ponto de sonho entre Cazuza e Angela Ro Ro. Sempre deu
certo assim, hoje dá mais que
nunca -os belos semblantes de
Cazuza e Ro Ro apimentam a
tranquilidade madura de Frejat.
Cuidadoso e ressabiado, o disco
dispõe bem em seu centro, na dobradura entre as faixas sete e oito,
o máximo de ousadia a que Frejat
se permite em sua estréia solo.
A oito, "Ela", é uma parceria dele com Lenine e Arnaldo Antunes.
Não é ousada na forma musical,
mas dá ao CD um patamar de sofisticação quando Frejat pronuncia, emocionado, os versos tensos
de Antunes. Mas o coice formal já
se deu na música sete, "Mão de
Obra Ilegal" (produção de Max
com Tom Capone, chefe da empreitada), o grande momento do
álbum. A letra de Mauro Santa
Cecília atualiza "O Meu Guri", de
Chico Buarque, e acomoda poesia
e coloquialismo, sutileza e crueza
("o meu irmão morreu/ meu primo se fodeu/ a minha mãe pariu/
e o meu pai sumiu") no trato estranho de temática social.
Se ali está o pico, num indicativo do que se pode tornar a tal carreira solo de Frejat, o vale de
"Amor pra Recomeçar" é repleto
de árvores, riachos e violinos. Sem
ousadia, Frejat se confirma como
um homem em pleno domínio da
melodia, que sabe imprimir a ênfase exata de cada frase musical.
É o que se extravasa de pegajosas baladas soul-blues-pop quase
sempre infectadas de cordas como "Homem Não Chora" (sim, o
tema é careta, mas, sim, a sinceridade é comovente), a faixa-título,
"No Escuro e Vendo" (parceria
dele com Marisa Monte e Arnaldo
Antunes), "Você se Parece com
Todo Mundo" (de 84, do Barão
ainda com Cazuza), até a rapidinha "Quando o Amor Era Medo".
Ouvindo-se várias vezes "Amor
pra Recomeçar", ele continua parecendo calculado, cuidadoso.
Parece não ter som e fúria na medida espertamente prometida pela faixa de início. Mas que transborda de sinceridade, entusiasmo
e faro melódico, ah, isso sim.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
Amor pra Recomeçar
Artista: Frejat
Lançamento: Warner
Quanto: R$ 25, em média
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