São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2001

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MÚSICA

Max de Castro atua na produção do CD "Amor pra Recomeçar"

Frejat deixa Barão na reserva e se lança solo

DA REPORTAGEM LOCAL

O Barão Vermelho acabou ou não? Ao lançar seu primeiro álbum solo em 20 anos de carreira, o vocalista e guitarrista Frejat, 39, diz que não acabou, mas não consegue dissipar a dúvida no ar.
Primeiro, ele diz que não vai fazer como outros membros de sua geração pop-rock, que quando se aventuraram por discos solo o fizeram discretamente, sem sobrepujar a história dos grupos.
"A maioria dos que gravaram solo fizeram como descarrego de material, dando uma pausa no dia-a-dia com a banda. O meu é diferente, eu estou instalando uma carreira solo, que será minha prioridade a partir de agora", diz.
O Barão está na reserva, então? "O Barão vai acontecer de tempos em tempos a partir de agora. Tenho uma maneira própria de compor, preciso ter controle total disso", afirma, referindo-se indiretamente a atritos com outro compositor da banda, Guto Goffi.
"Quando entrei para o Barão Vermelho, com Cazuza como líder, nunca me imaginei onde estou hoje. Mas quero mais é botar minha cara na rua, quero que me vejam tocando com outras pessoas, inclusive com pessoas mais jovens, como Max de Castro e Tom Capone, que atuaram na produção do disco. Mas isso não quer dizer que daqui a quatro anos eu não faça um disco e saia em turnê com o Barão", amacia.
Sua nova posição não deixaria a velha banda sem chão? "Tudo foi colocado claramente para o grupo. O Barão não está sem chão, porque ele está suspenso. Todos temos potencial e vigor físico para criar novas condições. Ficar como estava poderia ser a sentença de morte, a gente ia cair no clichê do grupo de rock que se esgota. O Barão se desgarrou do contemporâneo, não tem mais essa obrigação", crava.
Alguma possibilidade de comparação com uma banda-referência para o Barão, Rolling Stones? "Os Stones estão fazendo discos horrorosos. É diferente, porque a carreira de Mick Jagger já estava destruída quando ele lançou um disco solo. Não deu certo, ninguém sai dos Stones para ser George Michael. Aprendi muito observando os Stones."
Não escapa de certo pragmatismo em relação a sua tentativa solo: "Vai ser assim enquanto meu projeto particular der certo. Se não der, estarei nas mesmas condições dos outros integrantes".
Frejat fala da preocupação com contemporaneidade, que acredita não pertencer mais ao Barão. "Tenho mais vinculação contemporânea que o grupo. Nós todos juntos somos uma coisa, que acaba sendo eternamente jovem e jovial. Estou sendo contemporâneo, usando texturas atuais, mas sem a preocupação de ser "up to date", de integrar imediatamente a última novidade da esquininha de Londres. Essa é uma pretensão esnobe de elite cultural que não me permito", diz o co-autor, há três anos, do controverso CD de pop eletrônico "Puro Êxtase".
Continua: "Meu filtro de quase 40 anos de idade existe o tempo todo, senão eu daria margem ao conflito de geração. Adoro Planet Hemp, que é algo muito novo em atitude e sonoridade. Coincidentemente, é a banda mais perseguida, mais massacrada pelos fascistas que estão aí. Minha geração precisa se manifestar contra isso, precisa se posicionar".
Fala da participação ainda discreta dos "mais novos" em seu trabalho (faixas produzidas por Max de Castro e Apollo 9 ficaram de fora do CD): "Meu universo principal é de pop-rock. Achei importante deixar o soul como um sabor, uma porta aberta. Meu disco não veio para reestruturar e refazer, mas para esclarecer onde estou hoje", fecha.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)



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