São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

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THIAGO NEY
Quanto vale a música?

Enquanto Prince dá disco de graça com jornal, um inglês desconhecido vende seu compacto a R$ 400

NUNCA TINHA ouvido falar em Thurston Revival até esta semana. Quando veio a notícia de que a nova música mais cara do mundo é do Thurston Revival.
Essa banda é, na verdade, projeto de Dan O'Connell, um inglês de 24 anos desconhecido no meio musical. No próximo dia 28, ele coloca à venda o single "Somewhere There's An Angel", a 100 libras (na cotação de ontem, quase R$ 400). Veja: é um single em vinil, com apenas uma música. Serão vendidas apenas cem cópias, cada uma com capa desenhada por um jovem artista britânico.
"Esse preço escandaloso é uma forma de chamar a atenção para o valor da música em geral", disse O'Connell ao "Sunday Times". "O quanto você ama uma canção não tem nada a ver com o quanto você paga por ela. "Somewhere There's an Angel" está no meu MySpace [www.myspace.com/thurstonrevival], qualquer um pode ouvi-la de graça. Significa que a música não vale nada? Claro que não, mas é isso o que nos fazem acreditar."

 

Também nesta semana, foi divulgada uma pesquisa realizada por uma comissão européia para mapear dados sobre download entre os jovens de 29 países do continente. À pergunta "Por que você faz o download ilegal de músicas?", a resposta mais ouvida foi: "Porque todo o mundo está fazendo isso, inclusive os meus pais".
 

Não é de hoje que encontramos música em todo o lugar. Basta lembrar que "Play", disco de 1999 de Moby, teve todas as suas faixas vendidas para anúncios publicitários. A principal mudança de paradigma desses novos tempos da música pop veio com Prince.
O cantor irritou executivos da indústria e de cadeias de lojas ao fazer acordo com o jornal dominical britânico "The Mail on Sunday".
No Reino Unido, praticamente todas as publicações ligadas à música, como "NME", "Mojo", "Uncut", "Mixmag", "DJ Mag" e "Q", costumam soltar edições acompanhadas por um CD. Mas o brinde sempre foi um disco alternativo aos lançamentos oficiais dos artistas: novas versões de sucessos antigos, compilação de bandas etc. Prince foi o primeiro caso em que um artista de ponta abriu mão do lançamento tradicional oficial.
 

Recapitulando a história: em 15 de julho, o "Mail on Sunday", que normalmente vende 2,2 milhões de exemplares a cada domingo, saiu encartado com o novo disco de Prince, "Planet Earth". Naquele dia, o jornal vendeu 2,9 milhões de exemplares.
 

No Brasil, a Warner acaba de fazer acordo com uma marca de pastilhas: você troca duas caixinhas da tal pastilha por um download gratuito de gente como Simple Plan, Panic! At the Disco, O Rappa, Michael Bublé etc. Vale?

thiago@folhasp.com.br

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