Ciclo reflete a boa fase da Cinemateca, que agora "se abre para o mundo"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O fim de semana da 1ª Jornada Brasileira de Cinema Silencioso parece programado para marcar época. Por hoje, o destaque são filmes do Ciclo de Recife recém-restaurados pela Cinemateca Brasileira, sobretudo o documentário "Veneza Americana" (19h, sala BNDES).
Amanhã, a BNDES exibe, às 17h, "No Caminho da Noite", de 1920, o mais antigo filme preservado de F.W. Murnau, no qual ele já demonstra por que se tornaria um enorme cineasta: a beleza dos enquadramentos, o uso apurado da profundidade, as repartições de claro e escuro -tudo serve à história do médico que deixa a mulher para ficar com uma atriz, mais tarde opera um pintor e devolve-lhe a visão, antes de descobrir que ele era amante da atriz.
Às 19h, na Petrobras, uma oportunidade para ver o célebre "O Estudante de Praga" (1913, Stellan Rye). Por fim, às 21h, a BNDES exibe vários episódios de "Na Trilha de Octopus", seriado de 1919. No domingo, às 19h, reprise de "No Caminho da Noite", na Petrobras, enquanto a BNDES estará mostrando "Harakiri", de Fritz Lang.
Feito entre os dois episódios de "As Aranhas" e com a mesma Lil Dagover, "Harakiri" não é um filme central na obra de Lang. Mas nesta aventura se sobressai, já, o gosto do diretor pelas tramas diabólicas.
A Jornada termina com "O Gabinete do Dr. Caligari" (21h, BNDES). Mas termina não é, no caso, uma boa palavra: a 1ª Jornada é o auge de um movimento que começou com a obtenção da sede própria no antigo Matadouro pela Cinemateca Brasileira, no começo dos anos 90, ganhou força com a inauguração do arquivo climatizado de matrizes, a progressiva reforma das instalações e, por fim, a instalação de uma sala de projeção modelo. Faltava abrir-se ao mundo. Está feito.