São Paulo, segunda, 17 de agosto de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Leirner vê a violência e a explicita

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

Chega hoje a São Paulo a exposição de Nelson Leirner que mexeu com o Rio de Janeiro em fevereiro último e provocou um movimento de artistas e pessoas da área contra a censura nas artes.
Apresentados no 16º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM-Rio, os trabalhos foram apreendidos a pedido da 1ª Vara da Infância e da Juventude do Rio.
A busca e apreensão se baseou no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que prevê pena para quem "fotografar ou publicar cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes".
Os trabalhos acabaram sendo devolvidos a Leirner, que ainda aguarda uma decisão judicial para saber se vai ser processado.
Para evitar problemas, a galeria colocou em convites e cartazes a tarja "Rigorosamente proibido para menores de 18 anos".
Além do peso daquela ameaça, do episódio carioca, Leirner conservou os pregos que restaram na parede do museu depois que as obras foram retiradas. "Ver aqueles pregos na parede foi muito mais violento que qualquer obra", disse o artista, que acabou incorporando-os à instalação que abre hoje na galeria Brito Cimino.
A mostra traz 72 trabalhos da série "Trabalhos Feitos em Cadeira de Balanço Assistindo à Televisão", em que o artista plástico intervém graficamente, com desenhos, em fotografias de bebês realizadas pela neozelandesa Anne Geddes.
Os bebês de Geddes, porém, não são protagonistas de situações inocentes. Surgem sempre descontextualizados, circundados por flores, vestidos de galinhas ou dentro de pias, cestos, latas, sacos de papel e até mesmo melancias. Enfim, deslocados de qualquer ambiente considerado natural.
"O meu trabalho é conscientizador dessa violência. Todas essas fotografias foram feitas com crianças ao vivo. Elas sim são violentas e carregam um subtexto muito perigoso", disse Nelson Leirner.
Essa nova série de desenhos se insere perfeitamente no discurso estético do artista.
Leirner é um discípulo confesso de Duchamp e muitos de seus trabalhos partem de apropriações de objetos ou imagens do cotidiano, como as fotografias de Geddes. "Eu apenas reforço o grotesco que a fotógrafa já utiliza", disse.
Também vai ao encontro do perfil de provocador que o artista angariou em 40 anos de carreira. "Acho que o artista tem que ter consciência política e social e eu exerço minha função de artista."


Mostra: Nelson Leirner - Uma Instalação Onde: galeria Brito Cimino (r. Adolfo Tabacow, 144, tel. 011/822-0634, Itaim) Vernissage: hoje, às 19h30 Quando: de segunda a sexta, das 11h às 19h30; sábado, das 11h às 14h. Até 12 de setembro Quanto: R$ 8.000 (lote com vários desenhos)


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