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ARTES PLÁSTICAS
Leirner vê a
violência e
a explicita
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Chega hoje a São Paulo a exposição de Nelson Leirner que mexeu
com o Rio de Janeiro em fevereiro
último e provocou um movimento
de artistas e pessoas da área contra
a censura nas artes.
Apresentados no 16º Salão Nacional de Artes Plásticas, no
MAM-Rio, os trabalhos foram
apreendidos a pedido da 1ª Vara
da Infância e da Juventude do Rio.
A busca e apreensão se baseou
no artigo 241 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, que
prevê pena para quem "fotografar
ou publicar cenas de sexo explícito
ou pornográfico envolvendo
crianças ou adolescentes".
Os trabalhos acabaram sendo
devolvidos a Leirner, que ainda
aguarda uma decisão judicial para
saber se vai ser processado.
Para evitar problemas, a galeria
colocou em convites e cartazes a
tarja "Rigorosamente proibido
para menores de 18 anos".
Além do peso daquela ameaça,
do episódio carioca, Leirner conservou os pregos que restaram na
parede do museu depois que as
obras foram retiradas. "Ver aqueles pregos na parede foi muito
mais violento que qualquer
obra", disse o artista, que acabou
incorporando-os à instalação que
abre hoje na galeria Brito Cimino.
A mostra traz 72 trabalhos da série "Trabalhos Feitos em Cadeira
de Balanço Assistindo à Televisão", em que o artista plástico intervém graficamente, com desenhos, em fotografias de bebês realizadas pela neozelandesa Anne
Geddes.
Os bebês de Geddes, porém, não
são protagonistas de situações
inocentes. Surgem sempre descontextualizados, circundados
por flores, vestidos de galinhas ou
dentro de pias, cestos, latas, sacos
de papel e até mesmo melancias.
Enfim, deslocados de qualquer
ambiente considerado natural.
"O meu trabalho é conscientizador dessa violência. Todas essas
fotografias foram feitas com crianças ao vivo. Elas sim são violentas
e carregam um subtexto muito perigoso", disse Nelson Leirner.
Essa nova série de desenhos se
insere perfeitamente no discurso
estético do artista.
Leirner é um discípulo confesso
de Duchamp e muitos de seus trabalhos partem de apropriações de
objetos ou imagens do cotidiano,
como as fotografias de Geddes.
"Eu apenas reforço o grotesco
que a fotógrafa já utiliza", disse.
Também vai ao encontro do perfil de provocador que o artista angariou em 40 anos de carreira.
"Acho que o artista tem que ter
consciência política e social e eu
exerço minha função de artista."
Mostra: Nelson Leirner - Uma Instalação
Onde: galeria Brito Cimino (r. Adolfo
Tabacow, 144, tel. 011/822-0634, Itaim)
Vernissage: hoje, às 19h30
Quando: de segunda a sexta, das 11h às
19h30; sábado, das 11h às 14h. Até 12 de
setembro
Quanto: R$ 8.000 (lote com vários
desenhos)
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