|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Festival de Gramado
"Pizza, Birra, Faso" e "Amores" dividem prêmios de Gramado
JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado
Dizer que o 26º Festival de Gramado do Cinema Latino e Brasileiro terminou em pizza seria uma
piada fácil e falsa.
Os grandes vencedores da competição terminada anteontem -o
argentino "Pizza, Birra, Faso", de
Bruno Stagnaro e Israel Caetano, e
o brasileiro "Amores", de Domingos Oliveira- são dois filmes
fortes, íntegros e inquietantes.
São, à parte isso, contrastantes: o
argentino é um registro seco e realista da vida de jovens marginais
de Buenos Aires; o brasileiro é um
ensaio confessional sobre o amor e
suas arestas.
Na falta dos diretores, os três kikitos de "Pizza, Birra, Faso" (filme, diretor e roteiro) foram recebidos com euforia no palco pelos
dois atores principais do filme,
Héctor Anglada e Jorge Sesán. Este
último, operário da construção civil, nunca tinha saído de Buenos
Aires antes de vir a Gramado.
Ao receber o prêmio do júri popular, depois de já ter arrebatado o
da crítica, o ator e diretor Domingos Oliveira, de "Amores", declarou: "Dizem que quando agrada a
crítica e o público, o filme vai bem.
Tomara que seja verdade".
A premiação foi a mais criteriosa
e equilibrada dos últimos anos. A
tradicional repartição diplomática
de kikitos ficou restrita, desta vez,
aos prêmios secundários.
Só isso explica os três troféus
-cenografia, figurino e ator (Ricardo Couto)- conferidos ao fraco longa uruguaio "Otario".
Dois filmes mereciam mais atenção do júri: o brasileiro "Reunião
dos Demônios", de Cecílio Neto, e
o português "O Rio do Ouro", de
Paulo Rocha.
O primeiro, uma delicada homenagem à infância anterior à hipnose televisiva, só não saiu de mãos
abanando porque o autor da trilha
musical, Leo Henkin, ganhou um
prêmio paralelo, de melhor contribuição de um profissional gaúcho.
Já o longa português, um dos
mais rigorosos na construção de
um universo poético próprio, levou apenas o justo kikito de melhor fotografia (para Elso Roque).
O filme já havia sido penalizado
na exibição, na sexta-feira, quando foi visto tarde da noite por não
mais de 50 cansados espectadores,
depois da sangreira de "Perdita
Durango" (longa-metragem espanhol) e "Paulo e Ana Luiza em
Porto Alegre" (curta brasileiro).
Curtas e gafes
A premiação dos curtas-metragens em 35 milímetros refletiu a
pobreza desanimadora da safra
deste ano.
"O Trabalho dos Homens", de
Fernando Bonassi, e "Um Dia e
Logo Depois um Outro", de Nando Olival e Renato Rossi, dividiram o prêmio de melhor filme. Bonassi, que também é escritor e colunista da Folha, ganhou ainda o
prêmio de melhor direção e o de
melhor roteiro.
O curta "Novembrada", de
Eduardo Paredes, que reconstitui
o confronto entre estudantes e o
presidente Figueiredo em Florianópolis em 1979, ganhou o prêmio
do júri popular e o de melhor direção de arte.
"Clandestina Felicidade", de
Beto Normal e Marcelo Gomes,
ganhou o prêmio da crítica e o de
melhor atriz, para a menina Luiza
Phebo, encantadora no papel de
Clarice Lispector quando criança.
A entrega dos kikitos, apresentada pelos atores Marcos Breda e
Cissa Guimarães, teve de tudo: gafes, momentos comoventes e até
um princípio de pânico (que se
transformou em riso), quando
uma lâmpada explodiu, espalhando vidro sobre o palco.
A gafe mais divertida foi do diretor de "Clandestina Felicidade",
Beto Normal. Ao receber um prêmio oferecido pelo Canal Brasil
(de TV por assinatura), agradeceu
dizendo: "Obrigado ao canal...
Que canal que é mesmo?".
Um dos premiados mais aplaudidos foi o ator argentino Mario
Lozano, 85, melhor coadjuvante
pelo brasileiro "O Toque do
Oboé". Ele comoveu o público ao
dizer que se sentia muito próximo
de seu personagem no filme: um
morto que ganha uma sobrevida.
O jornalista
José Geraldo Couto viajou a Gramado a convite da organização do festival
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|