São Paulo, segunda, 17 de agosto de 1998

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CINEMA
Festival de Gramado
"Pizza, Birra, Faso" e "Amores" dividem prêmios de Gramado

JOSÉ GERALDO COUTO
enviado especial a Gramado

Dizer que o 26º Festival de Gramado do Cinema Latino e Brasileiro terminou em pizza seria uma piada fácil e falsa.
Os grandes vencedores da competição terminada anteontem -o argentino "Pizza, Birra, Faso", de Bruno Stagnaro e Israel Caetano, e o brasileiro "Amores", de Domingos Oliveira- são dois filmes fortes, íntegros e inquietantes.
São, à parte isso, contrastantes: o argentino é um registro seco e realista da vida de jovens marginais de Buenos Aires; o brasileiro é um ensaio confessional sobre o amor e suas arestas.
Na falta dos diretores, os três kikitos de "Pizza, Birra, Faso" (filme, diretor e roteiro) foram recebidos com euforia no palco pelos dois atores principais do filme, Héctor Anglada e Jorge Sesán. Este último, operário da construção civil, nunca tinha saído de Buenos Aires antes de vir a Gramado.
Ao receber o prêmio do júri popular, depois de já ter arrebatado o da crítica, o ator e diretor Domingos Oliveira, de "Amores", declarou: "Dizem que quando agrada a crítica e o público, o filme vai bem. Tomara que seja verdade".
A premiação foi a mais criteriosa e equilibrada dos últimos anos. A tradicional repartição diplomática de kikitos ficou restrita, desta vez, aos prêmios secundários.
Só isso explica os três troféus -cenografia, figurino e ator (Ricardo Couto)- conferidos ao fraco longa uruguaio "Otario".
Dois filmes mereciam mais atenção do júri: o brasileiro "Reunião dos Demônios", de Cecílio Neto, e o português "O Rio do Ouro", de Paulo Rocha.
O primeiro, uma delicada homenagem à infância anterior à hipnose televisiva, só não saiu de mãos abanando porque o autor da trilha musical, Leo Henkin, ganhou um prêmio paralelo, de melhor contribuição de um profissional gaúcho.
Já o longa português, um dos mais rigorosos na construção de um universo poético próprio, levou apenas o justo kikito de melhor fotografia (para Elso Roque).
O filme já havia sido penalizado na exibição, na sexta-feira, quando foi visto tarde da noite por não mais de 50 cansados espectadores, depois da sangreira de "Perdita Durango" (longa-metragem espanhol) e "Paulo e Ana Luiza em Porto Alegre" (curta brasileiro).
Curtas e gafes
A premiação dos curtas-metragens em 35 milímetros refletiu a pobreza desanimadora da safra deste ano.
"O Trabalho dos Homens", de Fernando Bonassi, e "Um Dia e Logo Depois um Outro", de Nando Olival e Renato Rossi, dividiram o prêmio de melhor filme. Bonassi, que também é escritor e colunista da Folha, ganhou ainda o prêmio de melhor direção e o de melhor roteiro.
O curta "Novembrada", de Eduardo Paredes, que reconstitui o confronto entre estudantes e o presidente Figueiredo em Florianópolis em 1979, ganhou o prêmio do júri popular e o de melhor direção de arte.
"Clandestina Felicidade", de Beto Normal e Marcelo Gomes, ganhou o prêmio da crítica e o de melhor atriz, para a menina Luiza Phebo, encantadora no papel de Clarice Lispector quando criança.
A entrega dos kikitos, apresentada pelos atores Marcos Breda e Cissa Guimarães, teve de tudo: gafes, momentos comoventes e até um princípio de pânico (que se transformou em riso), quando uma lâmpada explodiu, espalhando vidro sobre o palco.
A gafe mais divertida foi do diretor de "Clandestina Felicidade", Beto Normal. Ao receber um prêmio oferecido pelo Canal Brasil (de TV por assinatura), agradeceu dizendo: "Obrigado ao canal... Que canal que é mesmo?".
Um dos premiados mais aplaudidos foi o ator argentino Mario Lozano, 85, melhor coadjuvante pelo brasileiro "O Toque do Oboé". Ele comoveu o público ao dizer que se sentia muito próximo de seu personagem no filme: um morto que ganha uma sobrevida.


O jornalista José Geraldo Couto viajou a Gramado a convite da organização do festival



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