São Paulo, Sexta-feira, 17 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRÍTICA

Compositor começa a sacudir alguma poeira

da Reportagem Local

"Móbile" é um disco de inquietação. E isso desde início o coloca adiante dos trabalhos anteriores de Paulinho Moska, um artista que vinha se beneficiando do incenso de colegas de classe, mesmo sem nunca exibir um trabalho que primasse pela contundência.
"Móbile" não é, também, um disco contundente. Mas ganha muitos pontos por ser um trabalho de pesquisa, a busca por um caminho que não se apropriasse simplesmente das gracinhas da moda e do momento.
É o que há de mais proveitoso nele. O disco exibe, de fato, uma linguagem contemporânea, irriquieta, mas obtida por uma equipe de "operários" -ele, o percussionista Marcos Suzano, o produtor e músico Celso Fonseca- que extrai êmulos de trip hop de percussão, violão e "interferências" de Sacha Amback -"O Mundo", cantada com Chico César, Lenine e Zeca Baleiro, é onde tal uso se dá de forma mais bem acabada.
Contra a corrente nada certa pasmaceira que acomete a MPB -e a geração de Moska é a bucha desse canhão.
Ele ter sido promovido a "gênio" por vários -Gilberto Gil, Marina Lima, Jorge Mautner- não apaga que suas letras sejam, ainda, mais ingênuas que as de um "gênio", nem que ele seja, ainda, artista à procura de uma causa.
Sem causa é que apela, às vezes, a obviedades que o prejudicaram em momentos anteriores e que, agora, menos, reevidenciam a carência de causa. É o que ocorre, por exemplo, no cover de "País Tropical" (69), de Jorge Ben.
Jorge Ben é o predileto de nove entre dez dos artistas da geração de Paulinho, já se sabe, e tal filiação é mais que legítima. Mas não soa convincente que ele reafirme isso reinterpretando (e pouco adicionando a) justamente "País Tropical". O já habitual pedido de bênção ("moro no país de Ben Jor", termina ele) só desanda de vez a receita.
Por isso é que "Retalhos de Cetim", do infame Benito di Paula, com violão que lembra "Leãozinho", de Caetano, fala mais alto, sacode mais a poeira. Em "Móbile", o cantor/compositor Paulinho Moska ainda está nos trilhos, mas já começa a sacudir alguma poeira. (PAS)


Avaliação:   

Disco: Móbile
Artista: Paulinho Moska
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 18, em média


Texto Anterior: Ópera: Sesc traz ária inédita de Gomes
Próximo Texto: Netvox - Maria Ercilia: O melhor da Internet é...
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.