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ANÁLISE
"Flores do mal" continuam a exalar perfume
DA REPORTAGEM LOCAL
Segue ímpar a trajetória
da família carioca que
"quer tudo como quem não
quer nada" e no início da década passada forjou para o
Brasil uma "nação Planet
Hemp", centralizada em figuras como as de Marcelo
D2, BNegão e Black Alien,
mas também na militância
sócio-política e musical de O
Rappa, de Marcelo Yuka.
No caso do Planet Hemp, a
crença e o marketing se fundaram no hip hop e na defesa do uso de maconha, indexando mitos sobre o mal que
a droga causa e a hipocrisia
social no trato do assunto.
A reação foi feroz, com rejeição e perseguição ao grupo, até mesmo prisão de
seus integrantes. No contrapeso, eles iam à prisão, mas
mantinham o respeito (o desafio também rendia lucros
ideológicos e mercadológicos. Planet Hemp vendia).
D2 se destacou do grupo
não só pelo topete (esnobou
Caetano, falou mal de Faustão e Hebe etc. etc.); ele queria compactar uma inédita
experiência de fusão entre
rap e samba, a que seu próprio grupo resistia.
Quase à revelia, iniciou
uma temerária carreira solo
paralela (o Planet ainda existe, embora hoje se veja atropelado pelas próprias contradições e por lances como
o "Acústico MTV" redundante de seu líder).
Seu segundo CD solo, "À
Procura da Batida Perfeita"
(2003), foi ao extremo da fusão samba-rap e conquistou
inesperada unanimidade.
Vendeu 100 mil cópias (mais
que razoável se considerada
a grande crise atual), seduziu
a crítica, conquistou adeptos
entre crianças, jovens e adultos. Havia substância por
trás da cortina de fumaça.
De pouco tempo para cá,
D2 recebe o reforço e o contraponto de seus companheiros lá de trás. O co-fundador Skunk morreu cedo
demais, de Aids (D2 sempre
o cita e tributa, até no "Acústico MTV"). Mas BNegão
(ainda membro do Planet) e
Black Alien hoje compensam os "pecados" mercadológicos do parceiro erigindo
carreiras "underground" altivas, incipientes mas com
plenas condições de crescer
como a do hoje "primo rico"
que toca até em butique fina
de madame rica.
Cada um a seu modo, realçam o que pregavam desde o
início. D2 ressitua o rap dentro do Brasil, via samba.
BNegão revalida o peso
hardcore, mas com doses de
humor. Alien fortifica a ponte com gêneros gringos como gangsta rap, raggamufin,
reggae clássico etc. As "flores
do mal" de 1994 não param
de exalar perfume.
(PAS)
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