São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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RUÍDO

Discos internacionais duplicam títulos no país

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dados divulgados nesta semana pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD) explicitam o que tem sido outra das bóias salva-vidas da indústria fonográfica local durante a grande crise que teve em 2003 um ano de ápice: o lançamento nacional de CDs estrangeiros cresceu no ano passado 54%, em contraponto com uma queda de 27% no número de CDs de música brasileira.
O texto do anuário da ABPD explica a vantagem: "É reflexo da retração do mercado nacional, demonstrando mais cautela nos investimentos em produtos brasileiros, que requerem significativamente mais custos que os internacionais para serem lançados no mercado interno".
Lembrando que em 2003 as vendas de música brasileira no país significaram 76% das vendagens gerais, o diretor-geral da ABPD, Paulo Rosa, nega que tal retração signifique recuo da música nacional diante da estrangeira: "Não houve aumento de venda de produtos internacionais, só um ligeiro crescimento na quantidade de títulos estrangeiros". O "ligeiro" a que ele se refere significa mais que o dobro do que havia em 2002.
Um dado que lhe dá razão está no ranking das 20 músicas mais tocadas aqui em 2003: apenas a 20ª colocada ("I'm with You", Avril Lavine) não é brasileira.
Um dado que agrava a situação está no ranking dos CDs mais vendidos no ano: dos cinco primeiros, apenas o quinto colocado ("Maria Rita") é de um artista estreante com menos de 30 anos. Maria Rita perde, nesta ordem crescente, para Zezé di Camargo & Luciano, Xuxa, Roberto Carlos e a trilha de "Mulheres Apaixonadas". O índice de renovação do cenário musical nacional aparece, assim, como outro grande sacrificado pela crise.

O NÃO-LANÇAMENTO

Dizem que Jair Rodrigues antecipou o rap mundial em algumas décadas, ao gravar em canto e fala a animada "Deixa Isso pra Lá", em 1964. Apesar do exagero da afirmação, o disco que continha essa música, "Vou de Samba com Você" (Philips), mostra que Jair em 64 não era mesmo assim tão diferente dos rappers de hoje em dia. Cantava e falava, misturava samba com jazz, jovem guarda ("Garota do Biquíni") com canção de protesto ("Diz Que Fui por Aí"), afro-samba de Baden Powell e Vinicius de Moraes ("Berimbau") com samba de breque de Geraldo Pereira e Jorge de Castro ("Você Está Sumindo")... A busca, ainda que desabalada e imatura em seu segundo LP, era pela mistura, era pelas novas linguagens. Igualzinho o rap faz hoje, 40 anos depois. E hoje a Universal, dona do catálogo da Philips e de discos de Jair Rodrigues lançados entre 63 e 84, já sabe da existência de Helião e Negra Li, mas esqueceu esse seu passado.

INDIES LIDERAM
O mercado mundial de música foi liderado pelas gravadoras independentes em 2003. Segundo dados globais da IFPI, elas foram donas de 25,3% dos mercados, contra 23,5% da Universal, 13,4% da EMI, 13,2% da Sony, 12,7% da Warner e 11,9% da BMG.

INDIES COM DVD
O incendiário grupo Mombojó grava hoje e amanhã seu primeiro DVD, durante shows em São Paulo. É que o projeto "Toca Brasil", do Itaú Cultural, contemplará a gravação de dez DVDs de artistas independentes, a serem lançados em série em 2005. Já estão gravados os volumes de Edith do Prato, Nei Lisboa, o trio Suzana Salles, Ivan Vilela e Lenine Santos, Katia B, Carmina Juarez, Berimbrown e Banda Pequi.

VANDRÉ COM SIMONAL
Contou com espectador ilustre a exibição, na última terça, do filme "É Simonal" (70), no CCBB de São Paulo, dentro de ciclo dedicado ao diretor Domingos de Oliveira. Max de Castro pôde ver pela primeira vez o misto de documentário e ficção estrelada por seu pai, Wilson Simonal, e relata: "Esperei 31 anos pra ver esse filme e imaginava que fosse tipo um pastelão musical, mas me surpreendi de ser totalmente mergulhado no surrealismo. E como surpresa maior, uma das 15 pessoas presentes na sessão era Geraldo Vandré."

psanches@folhasp.com.br


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