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RUÍDO
Discos internacionais duplicam títulos no país
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dados divulgados nesta
semana pela Associação
Brasileira dos Produtores de
Discos (ABPD) explicitam o que
tem sido outra das bóias salva-vidas da indústria fonográfica
local durante a grande crise que
teve em 2003 um ano de ápice: o
lançamento nacional de CDs estrangeiros cresceu no ano passado 54%, em contraponto com
uma queda de 27% no número
de CDs de música brasileira.
O texto do anuário da ABPD
explica a vantagem: "É reflexo
da retração do mercado nacional, demonstrando mais cautela
nos investimentos em produtos
brasileiros, que requerem significativamente mais custos que
os internacionais para serem
lançados no mercado interno".
Lembrando que em 2003 as
vendas de música brasileira no
país significaram 76% das vendagens gerais, o diretor-geral da
ABPD, Paulo Rosa, nega que tal
retração signifique recuo da
música nacional diante da estrangeira: "Não houve aumento
de venda de produtos internacionais, só um ligeiro crescimento na quantidade de títulos
estrangeiros". O "ligeiro" a que
ele se refere significa mais que o
dobro do que havia em 2002.
Um dado que lhe dá razão está
no ranking das 20 músicas mais
tocadas aqui em 2003: apenas a
20ª colocada ("I'm with You",
Avril Lavine) não é brasileira.
Um dado que agrava a situação está no ranking dos CDs
mais vendidos no ano: dos cinco
primeiros, apenas o quinto colocado ("Maria Rita") é de um artista estreante com menos de 30
anos. Maria Rita perde, nesta ordem crescente, para Zezé di Camargo & Luciano, Xuxa, Roberto Carlos e a trilha de "Mulheres
Apaixonadas". O índice de renovação do cenário musical nacional aparece, assim, como outro grande sacrificado pela crise.
O NÃO-LANÇAMENTO
Dizem que Jair Rodrigues
antecipou o rap mundial em
algumas décadas, ao gravar
em canto e fala a animada
"Deixa Isso pra Lá", em
1964. Apesar do exagero da
afirmação, o disco que continha essa música, "Vou de
Samba com Você" (Philips),
mostra que Jair em 64 não
era mesmo assim tão diferente dos rappers de hoje em
dia. Cantava e falava, misturava samba com jazz, jovem
guarda ("Garota do Biquíni") com canção de protesto
("Diz Que Fui por Aí"), afro-samba de Baden Powell e Vinicius de Moraes ("Berimbau") com samba de breque
de Geraldo Pereira e Jorge de
Castro ("Você Está Sumindo")... A busca, ainda que
desabalada e imatura em seu
segundo LP, era pela mistura, era pelas novas linguagens. Igualzinho o rap faz
hoje, 40 anos depois. E hoje a
Universal, dona do catálogo
da Philips e de discos de Jair
Rodrigues lançados entre 63
e 84, já sabe da existência de
Helião e Negra Li, mas esqueceu esse seu passado.
INDIES LIDERAM
O mercado mundial de
música foi liderado pelas
gravadoras independentes em
2003. Segundo dados globais
da IFPI, elas foram donas de
25,3% dos mercados, contra
23,5% da Universal, 13,4% da
EMI, 13,2% da Sony, 12,7% da
Warner e 11,9% da BMG.
INDIES COM DVD
O incendiário grupo
Mombojó grava hoje e amanhã
seu primeiro DVD, durante
shows em São Paulo. É que o
projeto "Toca Brasil", do Itaú
Cultural, contemplará a
gravação de dez DVDs de
artistas independentes, a
serem lançados em série em
2005. Já estão gravados os
volumes de Edith do Prato, Nei
Lisboa, o trio Suzana Salles,
Ivan Vilela e Lenine Santos,
Katia B, Carmina Juarez,
Berimbrown e Banda Pequi.
VANDRÉ COM SIMONAL
Contou com espectador
ilustre a exibição, na última
terça, do filme "É Simonal"
(70), no CCBB de São Paulo,
dentro de ciclo dedicado ao
diretor Domingos de Oliveira.
Max de Castro pôde ver pela
primeira vez o misto de
documentário e ficção
estrelada por seu pai, Wilson
Simonal, e relata: "Esperei 31
anos pra ver esse filme e
imaginava que fosse tipo um
pastelão musical, mas me
surpreendi de ser totalmente
mergulhado no surrealismo. E
como surpresa maior, uma das
15 pessoas presentes na sessão
era Geraldo Vandré."
psanches@folhasp.com.br
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