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OUTROS LANÇAMENTOS
Atropelados pela história
Always Outnumbered, Never Outgunned
Tente imaginar o que pode ser feito em
sete anos. Melhor: tente lembrar o que
aconteceu na música nos últimos sete
anos. Se você tiver boa memória, vai
lembrar que em 1997 grupos como
Chemical Brothers, Underworld e Orbital
prometiam o utópico casamento entre a
cultura dance e o rock. Entre eles, o
Prodigy era o mais promissor, o grupo
que realmente deu uma cara a esse
"movimento". Pois essa cara envelheceu,
caducou e hoje é mero fantasma
ambulante. "Always Outnumbered,
Never Outgunned" é o novo disco do
Prodigy e levou sete anos para ficar
pronto. Nesse tempo, Liam Howlett, o
homem por trás da banda, deixou de
lado os companheiros Keith Flint e
Maxim Reality, casou, teve filho, ganhou
montanhas de dinheiro e encontrou pela
frente uma crise de criatividade. O
resultado não justifica a demora.
"Always" é um álbum sem
personalidade; no máximo, soa como
uma tentativa de imitar "Fat of the
Land", o penúltimo disco. Parece
também uma grande ode aos "velhos"
tempos, os anos 90, quando eram reis. A
participação vocal de uma das musas do
cinema indie do período, a atriz Juliette
Lewis, em "Spitfire", e o Oasis Liam
Gallagher em "Shootdown" entregam o
ar saudosista. Em outros momentos,
copia climas dos anos 80, como em "The
Way It Is", que surrupia a linha de baixo
de "Thriller", de Michael Jackson, ou nas
atmosferas góticas de "Action Radar". No
mais, jogam na salada hip hop,
electrofunk e punk. Claro que
originalidade não é pré-requisito para
fazer boa música dançante, e faixas
como "Girls", que lembra "Intergalactic"
(Beastie Boys), ou mesmo "Hot Ride"
-que faz uma viagem às bandas de
garagem sessentistas- mantêm certo
interesse. O mais deprimente é a
tentativa de, mesmo assim, soar como
novo, como agressivo. Aumentar o
volume da música não a torna melhor. E
aí, tudo naquilo que se destacou em 97
-o então surpreendente som punk, a
dance pesada e os climas orientais-
vira mera aula de história mal dada.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
ARTISTA: PRODIGY; GRAVADORA: SUM;
QUANTO: R$ 26, EM MÉDIA
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