São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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OUTROS LANÇAMENTOS

Atropelados pela história

Always Outnumbered, Never Outgunned
 

Tente imaginar o que pode ser feito em sete anos. Melhor: tente lembrar o que aconteceu na música nos últimos sete anos. Se você tiver boa memória, vai lembrar que em 1997 grupos como Chemical Brothers, Underworld e Orbital prometiam o utópico casamento entre a cultura dance e o rock. Entre eles, o Prodigy era o mais promissor, o grupo que realmente deu uma cara a esse "movimento". Pois essa cara envelheceu, caducou e hoje é mero fantasma ambulante. "Always Outnumbered, Never Outgunned" é o novo disco do Prodigy e levou sete anos para ficar pronto. Nesse tempo, Liam Howlett, o homem por trás da banda, deixou de lado os companheiros Keith Flint e Maxim Reality, casou, teve filho, ganhou montanhas de dinheiro e encontrou pela frente uma crise de criatividade. O resultado não justifica a demora. "Always" é um álbum sem personalidade; no máximo, soa como uma tentativa de imitar "Fat of the Land", o penúltimo disco. Parece também uma grande ode aos "velhos" tempos, os anos 90, quando eram reis. A participação vocal de uma das musas do cinema indie do período, a atriz Juliette Lewis, em "Spitfire", e o Oasis Liam Gallagher em "Shootdown" entregam o ar saudosista. Em outros momentos, copia climas dos anos 80, como em "The Way It Is", que surrupia a linha de baixo de "Thriller", de Michael Jackson, ou nas atmosferas góticas de "Action Radar". No mais, jogam na salada hip hop, electrofunk e punk. Claro que originalidade não é pré-requisito para fazer boa música dançante, e faixas como "Girls", que lembra "Intergalactic" (Beastie Boys), ou mesmo "Hot Ride" -que faz uma viagem às bandas de garagem sessentistas- mantêm certo interesse. O mais deprimente é a tentativa de, mesmo assim, soar como novo, como agressivo. Aumentar o volume da música não a torna melhor. E aí, tudo naquilo que se destacou em 97 -o então surpreendente som punk, a dance pesada e os climas orientais- vira mera aula de história mal dada.
(BRUNO YUTAKA SAITO)

ARTISTA: PRODIGY; GRAVADORA: SUM; QUANTO: R$ 26, EM MÉDIA


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