São Paulo, domingo, 17 de outubro de 2004

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SEMINÁRIO

Socióloga Vera Zolberg abre evento na quarta com palestra sobre criação da identidade a partir do ato de consumir

Encontro discute prazer, consumo e arte

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode existir algo em comum entre adolescentes que jogam videogames e apreciadores de pintores impressionistas como Pierre Auguste Renoir (1841-1919) e Claude Monet (1840-1926)? Segundo a socióloga norte-americana Vera Zolberg, sim, mas por uma via, digamos, não convencional.
"Os colecionadores dos impressionistas, no século 19, especialmente na França, eram proprietários de grandes lojas de departamento, burgueses em ascensão, no início do que se chama hoje de consumismo, que buscavam o novo como estilo de vida. Hoje, os grandes colecionadores, ao menos nos EUA, estão vinculados à indústria do entretenimento e da informática, como os fabricantes de games. Colecionam obras de arte que valorizam a tecnologia, portanto, geram uma nova forma de percepção, da mesma forma vanguardista exercida pelos impressionistas", disse por telefone, à Folha, de Nova York, onde vive.
Na próxima semana, a socióloga é responsável pela abertura do seminário "Modernidade, Cultura Material e Estilos de Vida", promovido pelo Senac. Especialistas estrangeiros e brasileiros, como Peter Burke, professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, irão debater a influência da moda, das artes, do consumo, do prazer, do erotismo e do turismo na sociedade contemporânea (veja quadro nesta pág.).
Cabe a Zolberg tratar "do triunfo do consumismo como criador de identidade", segundo palavras da própria palestrante. "Recentemente, estive na Bienal do Whitney [museu de Nova York], com muitas obras, metade do que estava exposto, que demandavam interação e compostas por computadores. Todas as obras funcionavam e com boa manutenção, o que não é comum nesse tipo de mostra, e havia grande número de jovens, muito mais do que eu imaginava, o oposto do público de um concerto ou uma ópera, em geral idosos, o que mostra que há um novo público para esse tipo de produção", conta a socióloga da cultura e da arte, professora da New School University de Nova York desde 83 e autora de diversos livros sobre arte.
Com isso, a socióloga revela uma intrincada relação entre produção de arte e patrocínio, já que grandes empresas da área de tecnologia estariam validando sua forma de atuação por meio da arte, tanto em coleções como em exposições, como recentemente ocorreu no festival sonarsound, no qual uma empresa de telefones celulares encomendou trabalhos usando o aparelho que vende como suporte. Arte como propaganda? "Os reis já expunham suas coleções para demonstrar poder. Há uma linha tênue entre quem mostra arte como manifesto social e quem a usa como propaganda, o que me parece o caso desse tipo de festival, fenômeno que tem sido muito criticado."
Sem ser apocalíptica, no entanto, Zolberg acredita que a presença de empresas de tecnologia na arte tem também uma ressonância positiva, ao estar em diálogo com a vida cotidiana: "Eu diria que essa é a arte do presente e do futuro, apesar de eu não poder afirmar o que vem aí, mas esse tipo de arte apela a jovens profissionais de hoje, e eles são o futuro da vida cultural".


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