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Antifreudianos pediram "o outro lado"
de Washington
A confusão em torno da exposição "Freud: Conflito e Cultura" começou em julho de 1995, quando o
psicanalista freudiano Harold
Blum falou a respeito dela numa
reunião de colegas em Nova York.
A descrição feita por Blum do
evento ("uma celebração do gênio
revolucionário de Freud e de seu
eterno legado") ofendeu alguns
dos presentes, como o crítico literário Frederick Crews. Ele e outros
acharam errado que dinheiro e
prédios do governo dos EUA fossem usados para dar ao público só
um lado de uma questão polêmica.
O historiador Peter Swales, que
ficou famoso por sugerir que
Freud teve um caso com a cunhada, organizou o famoso abaixo-assinado ("de uma violência inaudita", segundo a freudiana Elizabeth
Roudinesco), que sustou o prosseguimento do projeto.
A reação inicial da Biblioteca do
Congresso foi de cancelar a exibição. Duas vezes antes, em 95, a biblioteca, uma das mais veneráveis
instituições culturais de Washington, havia se metido em controvérsias. A primeira foi com a mostra
"Contra Hitler: A Resistência Alemã ao Nacional-Socialismo", que
alguns críticos chamaram de propaganda do governo alemão.
O segundo incidente foi com a
exibição "A Volta da Casa-Grande:
A Paisagem Cultural das Plantações", com fotos da vida dos escravos nos EUA no século 19. Antes
mesmo de sua abertura, funcionários negros da biblioteca que haviam visto os painéis serem instalados protestaram contra ela, porque a consideraram depreciativa
para os integrantes de sua raça.
A Biblioteca do Congresso decidiu não abrir a exposição e, por isso, foi acusada de se deixar manipular pelo pensamento "politicamente correto" e impedir o público de ver importante acervo de fotos históricas.
Quando o abaixo-assinado organizado por Swales começou a ser
noticiado em jornais e a resolução
inicial de cancelar a mostra recebeu novos ataques de que a biblioteca se submetia a qualquer tipo de
pressão, houve uma mudança de
rota: a exibição sobre Freud seria
apenas adiada, pela alegada razão
de falta de verbas para realizá-la.
Nos dois anos seguintes, os curadores da mostra incorporaram alguns dos seus críticos à comissão
organizadora, e os textos de dois
deles foram incluídos no catálogo
da exibição, o que ajudou a acalmar a fúria antifreudiana.
(CELS)
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