São Paulo, sábado, 17 de outubro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Antifreudianos pediram "o outro lado"

de Washington

A confusão em torno da exposição "Freud: Conflito e Cultura" começou em julho de 1995, quando o psicanalista freudiano Harold Blum falou a respeito dela numa reunião de colegas em Nova York.
A descrição feita por Blum do evento ("uma celebração do gênio revolucionário de Freud e de seu eterno legado") ofendeu alguns dos presentes, como o crítico literário Frederick Crews. Ele e outros acharam errado que dinheiro e prédios do governo dos EUA fossem usados para dar ao público só um lado de uma questão polêmica.
O historiador Peter Swales, que ficou famoso por sugerir que Freud teve um caso com a cunhada, organizou o famoso abaixo-assinado ("de uma violência inaudita", segundo a freudiana Elizabeth Roudinesco), que sustou o prosseguimento do projeto.
A reação inicial da Biblioteca do Congresso foi de cancelar a exibição. Duas vezes antes, em 95, a biblioteca, uma das mais veneráveis instituições culturais de Washington, havia se metido em controvérsias. A primeira foi com a mostra "Contra Hitler: A Resistência Alemã ao Nacional-Socialismo", que alguns críticos chamaram de propaganda do governo alemão.
O segundo incidente foi com a exibição "A Volta da Casa-Grande: A Paisagem Cultural das Plantações", com fotos da vida dos escravos nos EUA no século 19. Antes mesmo de sua abertura, funcionários negros da biblioteca que haviam visto os painéis serem instalados protestaram contra ela, porque a consideraram depreciativa para os integrantes de sua raça.
A Biblioteca do Congresso decidiu não abrir a exposição e, por isso, foi acusada de se deixar manipular pelo pensamento "politicamente correto" e impedir o público de ver importante acervo de fotos históricas.
Quando o abaixo-assinado organizado por Swales começou a ser noticiado em jornais e a resolução inicial de cancelar a mostra recebeu novos ataques de que a biblioteca se submetia a qualquer tipo de pressão, houve uma mudança de rota: a exibição sobre Freud seria apenas adiada, pela alegada razão de falta de verbas para realizá-la.
Nos dois anos seguintes, os curadores da mostra incorporaram alguns dos seus críticos à comissão organizadora, e os textos de dois deles foram incluídos no catálogo da exibição, o que ajudou a acalmar a fúria antifreudiana. (CELS)



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.