São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2000

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GASTRONOMIA
FRANÇA
Só o Brasil recebe, este ano, 434 mil garrafas do tradicional vinho francês
Beaujolais chega em uma de suas melhores safras

CLAUDIA ASSEF
DE PARIS

Se você adora sair para tomar vinho, hoje de manhã é muito provável que você acorde de ressaca.
É que a madrugada de ontem para hoje marcou a chegada do vinho beaujolais nouveau, uma festança mundial recheada de marketing que alcança cada vez mais países mundo afora -e que acontece impreterivelmente toda terceira quinta-feira do mês de novembro desde 1985.
Ou você ainda não viu as faixas dizendo "Le beaujolais nouveau est arrivé" (o beaujolais nouveau chegou) espalhadas por aí? O beaujolais nouveau, produzido na França, na região de Beaujolais -localizada ao norte da cidade de Lyon- é um vinho jovem, com sabor leve e com aroma de frutas, que deve ser consumido até seis meses após sua fabricação. Ah, e sempre resfriado à temperatura de 15 C.
Por ano, são consumidas cerca de 60 milhões de garrafas de beaujolais nouveau no mundo inteiro. Só para o Brasil, foram enviadas 434 mil garrafas do vinho este ano. Segundo a União Interprofissional dos Vinhos Beaujolais, o país tornou-se em 2000 o maior importador de beaujolais da América Latina.
Além de estar presente em dezenas de países do mundo todo, o beaujolais rompeu mais um barreira este ano: chegou, com festa e tudo, à Coréia do Sul.
Da Europa para o mundo, partiram para este 16 de novembro 7.000 toneladas de beaujolais nouveau. As caixas e garrafas encararam horas de viagem em caminhões, tratores, furgões, aviões e até helicópteros.
"O importante é que o vinho chegue ao maior número de países possível na data prevista", diz Anna Masson, porta-voz da União Interprofissional dos Vinhos Beaujolais.
Para fazer o beaujolais nouveau chegar a seus destinos sem atraso, uma verdadeira operação de guerra começa a ser montada no verão francês, cerca de quatro meses antes da data da "viagem".
"A logística é terrível. A cada ano, ficamos mais confusos com o volume de entregas que precisamos realizar", diz Bernard Georges, diretor de exportação da marca Georges Duboeuf, uma das "maisons" de beaujolais mais conhecidas no Brasil.
Em 2000, a Georges Duboeuf distribui 1.500 caixas de seu vinho jovem no Brasil. Ou seja, só a Duboeuf passou ontem com 18 mil garrafas de beaujolais pela alfândega brazuca.
Por conta disso, dessa operação de guerra, paga-se aí no Brasil pelo menos R$ 35 por uma garrafa do vinho. Na França, a garrafa de beaujolais custa o mesmo que uma de pinga no Brasil -cerca de R$ 5. O beaujolais sofre uma certa resistência por parte dos franceses apreciadores de vinho mais conservadores.
"Os puristas dizem que o beaujolais não é um grande vinho", diz Dominique Piron, sócia da "maison" Piron.
"Ele pode até não ser o vinho mais sofisticado do mundo, mas acho que nenhum outro combina tanto com o espírito de festa", avalia Dominique.
Segundo ela, o beaujolais do ano 2000 é um dos melhores feitos desde que o vinho começou a ser produzido, em 1951.
"O verão foi bastante seco e fez muito bem para as uvas da região. Este ano, teremos um vinho maduro, com um leve sabor de pêssego", diz. "Pode-se dizer que é um vinho tão leve que dá até para beber de manhã", empolga-se a vinicultora.
Para o diretor de exportação da Georges Duboeuf, o beaujolais é um vinho simples, que inspira o convívio entre as pessoas.
"É o tipo de vinho que não pede terno e gravata para ser consumido adequadamente", acredita. Bernard Georges acredita também que esta tenha sido a melhor safra do beaujolais nouveau até agora. "Para quem for beber, sugiro que se aprecie a cor. Esta safra está excepcional, viva e alegre como um beaujolais deve ser."
No Brasil, uma das importadoras é a Mistral Vinhos Importados que traz, este ano, a marca Joseph Drouhin, uma da mais tradicionais da França.


Onde: Mistral Vinhos Importados (r. Rocha, 288, Cerqueira César, tel. 0/xx/11/ 285-1422)


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