FERNANDO BONASSI

Luciana tomou banho de banheira, lavou os cabelos com xampu de frutas e condicionador de ervas. Passou perfume de flores e esticou-se em cremes de colágeno. Desentocou vestido longo e sapato de salto. Um cinto de argolas de alumínio, para combinar com a bolsa de caquinhos de espelho, nos quais confere o batom café. Também perdeu a vergonha de usar aquela gargantilha de puta; comprou calcinha e sutiã novos. Pretos, por via das dúvidas. Agora passa as noites vestida com essas misturas, sentada numa cadeira diante de casa. Aos que a chamam de louca, diz apenas que "não perdem por esperar". Que é questão de dias. Que os homens vão começar a cair do céu. Que eles "vão chover". Como naquela música.


Texto Anterior: Música erudita: Stravinski, Stokowski, Espantovski
Próximo Texto: Artes plásticas: Brisa japonesa sopra nas dunas do Ceará
Índice