São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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MÚSICA/CRÍTICA

MPB eletrônica ainda precisa evoluir

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Assim como os acústicos, os álbuns ao vivo e as trilhas de novela, os discos de MPB eletrônica já se tornaram um padrão do mercado fonográfico nacional. Realizações surgem para preencher esse espaço e agradar a um público crescente, como é o caso de dois lançamentos atuais: "Na Pista, Etc.", com regravações eletrônicas de Djavan pelo próprio, e "Quero Dizer a que Vim", com remixes de músicas brasileiras variadas pelo DJ Zé Pedro, notório como personalidade do programa de Adriane Galisteu.
Antes que alguém pergunte qual a relevância de um disco do DJ Zé Pedro, vale lembrar que sua função é mais que lançar discos, é efetivamente ser disc-jóquei. Amigo das estrelas, autor de trilhas de desfiles de moda, ele atua também como animador de baladas. Naturalmente, o bom gosto de quem o convida para animar sua festa pode ser discutível, mas a justificativa é real.
Seu disco, que tem várias boas idéias e seleciona algumas canções bacanas, funciona para mostrar que a MPB eletrônica ainda precisa comer muito arroz e feijão para fugir das obviedades e se tornar interessante para quem busca mais que a animação sem senso crítico.
Chico Buarque, Gal Costa, Jorge Ben, Jair Rodrigues, Marina Lima, Fernanda Porto e Ana Carolina, além de alguns bons achados como Banda Black Rio e Baiano & os Novos Caetanos, estão entre os remixados por Zé Pedro em electro, house e drum'n'bass. Não é difícil perceber que a qualidade do CD não dura muito mais do que uma festa na Vila Olímpia.
Já Djavan é um caso mais delicado. Admirado por muitos, tido como cafona por tantos outros, sua importância e qualidade são, sob certos aspectos, indiscutíveis. Mas o fato é que ele, com 30 anos de carreira, já chegou naquele ponto em que joga pra ganhar. Seu público já está estabelecido e é para ele que Djavan faz música. Não há, portanto, uma apreciação do disco por sua inovação, mas pelo potencial perante o mercado.
Djavan é Djavan. Seu público vai gostar do álbum eletrônico? Provavelmente sim. Quem não gosta dele vai gostar? Provavelmente não. Produzido por Liminha e Donatinho (filho de João Donato, também pianista, adepto de eletrônicos e sempre atrás de timbres, pianos e teclados antigos), o disco traz regravações de músicas como "Sina" e "Se".
Os detalhes interessantes existem -uma levada latina aqui, um "talk box" acolá-, mas estes se perdem entre timbres, batidas e maneirismos de interpretação manjados. Com tudo isso, fica claro que o que move a eletrônica na MPB não é apenas buscar uma maneira nova de fazer e ouvir música, mas toda uma "cena". Tomara apenas que isso seja um processo evolutivo que desemboque, em breve, em músicas mais originais e interessantes.


Na Pista, Etc.
 
Artista: Djavan
Lançamento: Luanda Records
Quanto: R$ 23, em média

Quero Dizer a que Vim
 
Artista: DJ Zé Pedro
Lançamento: Distribuidora Indepentente
Quanto: R$ 18, em média


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