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Crítica/"O Caminho para Guantánamo"
História contada em filme ainda continua a acontecer
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Acaba de sair a lista dos
documentários pré-selecionados para as cinco vagas do Oscar de 2007. Dos
15 títulos, quatro tratam diretamente da Guerra do Iraque ou
de suas conseqüências. Não é
coincidência. Com o barateamento dos meios de produção
(uma câmera digital de qualidade sai por US$ 1.500) e de distribuição (o site YouTube, por
exemplo), o documentário ocupa na produção cultural atual o
lugar que nos anos 70 foi dos
jornais alternativos e de mimeógrafo.
Se algo preocupa uma parcela importante da população, e a
indústria cultural não satisfaz o
desejo de saber mais sobre o assunto, entra em cena esse gênero cinematográfico. Guardadas
as proporções (o filme custou
1,5 milhão de libras e mistura
fato e ficção), é o caso deste "O
Caminho para Guantánamo".
Muito se escreveu sobre as
condições sub-humanas, o desrespeito aos direitos civis básicos, os interrogatórios inúteis
baseados em inteligência falha
e a falta de resultados que envolvem a prisão militar dos
EUA mantida no Caribe, para
onde são encaminhados os suspeitos de atividades terroristas.
Poucas imagens são tão poderosas quanto as mostradas no
docudrama do britânico Michael Winterbottom, em parceria com Mat Whitecross.
O longa de 95 minutos intercala depoimentos de uma turma de amigos britânicos de origem islâmica, presos por engano ao irem ao Paquistão para
um casamento no meio da
Guerra do Afeganistão (2001), e
a reconstrução dramática do
que aconteceu com eles.
Se o primeiro recurso guarda
a força do factual, o segundo
permite que as platéias tenham
uma idéia mais próxima do que
realmente acontece com os detidos de Guantánamo -o acesso da mídia à prisão é controlado e sofre censura militar.
Nos dois anos em Guantánamo, os três passarão por tortura e humilhação, sem que saibam do que são acusados nem
tenham direito a defesa. Que o
espectador se lembre, ao assistir ao filme, que nesse momento há centenas de casos semelhantes na mesma prisão. Com
uma diferença: agora, os algozes têm o amparo legal do Congresso dos EUA.
O CAMINHO PARA GUANTÁNAMO
Direção: Michael Winterbottom, Mat Whitecross
Produção: Reino Unido, 2006
Com: Riz Ahmed, Farhad Harun, Waqar Siddiqui, Afran Usman
Quando: a partir de hoje nos cines Belas Artes, Jardim Sul e circuito
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