São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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Álbuns trazem a velha bossa nova

Gravadora Albatroz, de Menescal, leva ao mercado releituras do gênero e relança discos antigos

RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Roberto Menescal é um baluarte da bossa nova. Como instrumentista, gravou com muita gente, lançou discos solo e deu aulas de violão no auge da batida moderna, nos anos 50. Como compositor, é autor (com o letrista Ronaldo Bôscoli) dos principais clichês barquinho-céu-azul-zona-sul da bossa.
O gênero foi uma revolução não só na música brasileira, mas na própria vida de Menescal, que até hoje vive dos respaldos da bossa. Há cerca de dez anos, ele fundou (com Raymundo Bittencourt) a gravadora Albatroz, "exclusivamente dedicada à bossa nova em todas as suas infinitas formas de expressão".
Agora, com a criação do selo Bossa58 e a série de discos ao vivo "Momentos Bons da Bossa", a Albatroz coloca no mercado um pacote de oito lançamentos, entre artistas novos e antigos. Há remixes de Marcos Valle, João Suplicy cantando Elvis em bossa, estréia de Marcela Mangabeira e ainda Leny Andrade, César Camargo Mariano, Pery Ribeiro, Os Cariocas e Maria Creuza.
Tudo muito novo, tudo muito velho. Apostando no espírito passadista ou na modernização cafona, os lançamentos caem no limbo de discos no meio do caminho das intenções, que morrem nas praias do clichê de "música de qualidade", cheia de acordes e teclados, mas sem personalidade. Uma das explicações: muitos dos discos são feitos para o exterior e têm o Brasil como mercado secundário -tendência desde pelo menos os anos 90 que gera todo tipo de bossa genérica.
Afinal, a bossa continua nova? "Na verdade, acho que ela só começa a ser assimilada agora", opina Menescal. "O resgate, o sucesso no exterior, isso são coisas recentes. Estamos vivendo o fim de uma era. Está na hora de surgir algo novo."
Com teclados, programações eletrônicas e clichês requentados, o novo certamente não parece que vai sair do velho mato da bossa -que continua moderna só nas mãos e voz de seu criador máximo, João Gilberto. O próprio Menescal explica a supremacia da estética vazia: "A emoção não é o que move as pessoas hoje. Veja como elas choravam vendo um filme do Fred Astaire. Hoje, vão ver o Cirque du Soleil e, assim que saem, a emoção acaba." Como discos que anunciam o novo sem qualquer novidade.


SELO BOSSA58 E SÉRIE MOMENTOS BONS DA BOSSA
Artistas:
vários
Gravadora: Albatroz
Quanto: R$ 25 cada, em média


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