São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2010

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"Sempre me senti como uma ovelha negra"

Marina Abramovic abre em SP mostra em que propõe retorno à simplicidade e reflexão sobre consumo excessivo

Obra da artista, que teve 850 mil visitantes em retrospectiva no MoMA neste ano, inspirará peça em junho de 2011

FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

Marina Abramovic, 63, está com pneumonia. Só que, ao contrário de Frank Sinatra, que por conta de um simples resfriado ficou meses escapando de Gay Talese, o que acabou na produção de um dos melhores textos na histórica do jornalismo, ela concede entrevistas mesmo assim.
Após dormir duas horas à tarde, anteontem, ela acordou energética como sempre e, por quase uma hora, falou à Folha sobre sua nova mostra, "Back to Simplicity" (de volta à simplicidade) na galeria Luciana Brito. "Pode fazer mais perguntas agora que chegou o chá", dizia, empolgada, depois de meia hora de conversa.
Entre março e abril, Abramovic passou 730 minutos sentada no átrio do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), sua performance na retrospectiva "A Artista Está Presente". Ficou de frente com 1.675 pessoas, perdeu 16 kg, mas encontrou um novo sentido para seu trabalho.
"Realmente, senti uma imensa necessidade de voltar à natureza. Isso é, de retornar a uma certa ritualística do cotidiano, como aproveitar o ato de beber água."
Vem dessa inspiração o título para a nova exposição, em que apresenta seis novos trabalhos, entre eles um vídeo que a capta dormindo sob uma imensa árvore e uma foto que a mostra segurando uma ovelha negra.
"Sempre me senti como uma ovelha negra, que não pertencia a nenhum lugar", conta, hoje não mais uma figura assim tão deslocada, afinal, levou ao MoMA 850 mil pessoas, um recorde para um artista vivo no museu.
Agora, para Abramovic, menos vale mais: "Estamos tão envolvidos com consumo, uma sociedade que nos faz querer tanto, que eu quero menos".
"Back to Simplicity" apresenta ainda vários registros de antigas ações, como sua famosa performance "Arte Deve Ser Bonita, a Artista Deve Ser Bonita", na qual, por uma hora, em 1975, ficou se penteando de forma violenta, repetindo o título da ação. Na galeria, ela apresenta fotos inéditas desse trabalho.

MEMÓRIA ATIVADA
Agora, todo o seu arquivo está sendo revisto. "Nos anos 1970, quando fizemos nossas performances, nós as registramos como documentação, memórias. Mas nunca vendi os registros. Realmente acredito que a memória do público precisa ser ativada, porque pouca gente viu aqueles trabalhos e, agora, eu os estou mostrando", afirma.
Desde 1985, quando participou com o então companheiro Ulay da Bienal de São Paulo, Abramovic vem regularmente ao Brasil. "Tenho a sensação de que a jovem geração de artistas aqui realmente admira meu trabalho", conta.
Por isso, diz que seu "maior sonho" é trazer a retrospectiva do MoMA para cá e apresentar a nova peça, sobre sua vida, que tem direção de Robert Wilson.
Segundo a galerista Luciana Brito, a vinda da mostra é uma possibilidade. Abramovic até já decidiu que irá apresentar uma videoinstalação com o registro das 730 horas que permaneceu sentada no MoMA, em vez de refazer aqui a performance.
"Mas vou colocar as cadeiras para que as pessoas possam se observar", afirma. Já o espetáculo "The Life and Death of Marina Abramovic" (a vida e a morte de Marina Abramovic) terá estreia em junho do próximo ano, em Manchester, com um elenco estelar, que inclui Willem Dafoe e Antony (Antony & The Johnsons).
A peça inclui partes da vida de Abramovic, mas Wilson tem liberdade ao mostrá-las, pois a artista não quer ficar olhando o passado: "Muito gente tem nostalgia ou apreço pelo "vintage". Estou de saco cheio do "vintage'!".

BACK TO SIMPLICITY

QUANDO a partir de amanhã; de ter. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 11h às 17h; até 29/1
ONDE Galeria Luciana Brito (r. Gomes de Carvalho, 842, tel. 0/xx/ 11/3842-0634)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO não informada


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