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"Sempre me senti como uma ovelha negra"
Marina Abramovic abre em SP mostra em que propõe retorno à simplicidade e reflexão sobre consumo excessivo
Obra da artista, que teve 850 mil visitantes em retrospectiva no MoMA neste ano, inspirará peça em junho de 2011
FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO
Marina Abramovic, 63, está com pneumonia. Só que,
ao contrário de Frank Sinatra, que por conta de um simples resfriado ficou meses escapando de Gay Talese, o que
acabou na produção de um
dos melhores textos na histórica do jornalismo, ela concede entrevistas mesmo assim.
Após dormir duas horas à
tarde, anteontem, ela acordou energética como sempre
e, por quase uma hora, falou
à Folha sobre sua nova mostra, "Back to Simplicity" (de
volta à simplicidade) na galeria Luciana Brito.
"Pode fazer mais perguntas agora que chegou o chá",
dizia, empolgada, depois de
meia hora de conversa.
Entre março e abril, Abramovic passou 730 minutos
sentada no átrio do Museu de
Arte Moderna de Nova York
(MoMA), sua performance na
retrospectiva "A Artista Está
Presente". Ficou de frente
com 1.675 pessoas, perdeu 16
kg, mas encontrou um novo
sentido para seu trabalho.
"Realmente, senti uma
imensa necessidade de voltar à natureza. Isso é, de retornar a uma certa ritualística do cotidiano, como aproveitar o ato de beber água."
Vem dessa inspiração o título para a nova exposição,
em que apresenta seis novos
trabalhos, entre eles um vídeo que a capta dormindo
sob uma imensa árvore e
uma foto que a mostra segurando uma ovelha negra.
"Sempre me senti como
uma ovelha negra, que não
pertencia a nenhum lugar",
conta, hoje não mais uma figura assim tão deslocada,
afinal, levou ao MoMA 850
mil pessoas, um recorde para
um artista vivo no museu.
Agora, para Abramovic,
menos vale mais: "Estamos
tão envolvidos com consumo, uma sociedade que nos
faz querer tanto, que eu quero menos".
"Back to Simplicity" apresenta ainda vários registros
de antigas ações, como sua
famosa performance "Arte
Deve Ser Bonita, a Artista Deve Ser Bonita", na qual, por
uma hora, em 1975, ficou se
penteando de forma violenta, repetindo o título da ação.
Na galeria, ela apresenta fotos inéditas desse trabalho.
MEMÓRIA ATIVADA
Agora, todo o seu arquivo
está sendo revisto. "Nos anos
1970, quando fizemos nossas
performances, nós as registramos como documentação,
memórias. Mas nunca vendi
os registros. Realmente acredito que a memória do público precisa ser ativada, porque pouca gente viu aqueles
trabalhos e, agora, eu os estou mostrando", afirma.
Desde 1985, quando participou com o então companheiro Ulay da Bienal de São
Paulo, Abramovic vem regularmente ao Brasil. "Tenho a
sensação de que a jovem geração de artistas aqui realmente admira meu trabalho", conta.
Por isso, diz que seu
"maior sonho" é trazer a retrospectiva do MoMA para cá
e apresentar a nova peça, sobre sua vida, que tem direção
de Robert Wilson.
Segundo a galerista Luciana Brito, a vinda da mostra é
uma possibilidade. Abramovic até já decidiu que irá
apresentar uma videoinstalação com o registro das 730
horas que permaneceu sentada no MoMA, em vez de refazer aqui a performance.
"Mas vou colocar as cadeiras para que as pessoas possam se observar", afirma.
Já o espetáculo "The Life
and Death of Marina Abramovic" (a vida e a morte de
Marina Abramovic) terá estreia em junho do próximo
ano, em Manchester, com
um elenco estelar, que inclui
Willem Dafoe e Antony (Antony & The Johnsons).
A peça inclui partes da vida de Abramovic, mas Wilson tem liberdade ao mostrá-las, pois a artista não quer ficar olhando o passado: "Muito gente tem nostalgia ou
apreço pelo "vintage". Estou
de saco cheio do "vintage'!".
BACK TO SIMPLICITY
QUANDO a partir de amanhã; de
ter. a sex., das 10h às 19h, sáb.,
das 11h às 17h; até 29/1
ONDE Galeria Luciana Brito
(r. Gomes de Carvalho, 842,
tel. 0/xx/ 11/3842-0634)
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO não informada
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