São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2010

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"Espírito do tempo não é o do texto longo"

João Moreira Salles diz que Gay Talese teria dificuldade em despontar no jornalismo hoje

SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A OURO PRETO

"Muitas faculdades por aí estão criando cursos de jornalismo literário, mas o mercado não tem como absorver isso, estão treinando pessoas para fazer algo que dificilmente conseguirão praticar de verdade."
A frase provocou ruído numa audiência composta, em sua maioria, por estudantes de jornalismo. Principalmente pelo fato de ter vindo da boca do documentarista João Moreira Salles, diretor da "Piauí", a revista brasileira que melhor se encaixa no gênero conhecido por abarcar textos de não ficção que usam recursos literários.
As declarações foram feitas em debate sobre o tema dentro do Fórum das Letras de Ouro Preto, que ocorreu na cidade mineira, entre os últimos dias 10/11 e 15/11.
Moreira Salles elogiou grandes nomes do gênero e qualificou a "Piauí" como uma exceção na mídia brasileira por ter o "luxo do tempo" para melhorar seus textos e poder traçar perfis mais detalhados e profundos de personagens.
Porém, reforçou que um novo Gay Talese teria dificuldades de encontrar lugar para despontar hoje. "Há uma lógica econômica no mercado. O espírito do tempo não é o do texto longo."
Já o best seller da história nacional Laurentino Gomes, autor de "1808" e "1822", lembrou da cisão que existia na sociedade no pré-Independência para provocar reflexões sobre o Brasil de nossos dias.

LULA E D. JOÃO 6º
Ao comparar Lula com d. João 6º, por exemplo, disse que historiadores do futuro talvez entendam melhor o carisma do presidente, da mesma forma como hoje se fez uma revisão positiva da personalidade do monarca português.
E criticou os que vêm atacando Tiririca. "Temos de prestar atenção antes de falar mal de alguém que se supõe ser um analfabeto, mas que foi o deputado mais votado do Brasil. Ao atacá-lo, estamos revelando nosso preconceito contra os mais pobres."
Gomes diz que está ciente das críticas que são feitas a ele por historiadores da universidade e que as considera normais. "A academia tem um sistema de validação interno pelo qual eu não passei. Aí, chego de fora e vendo um monte de livros. É natural que haja incômodo."
Mas defendeu o trabalho que faz. "Não sou historiador, sou um jornalista que escreve livros de divulgação científica. Isso é comum nos países anglo-saxões, mas, aqui, quase não existe."


A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a convite da organização do evento


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