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"Espírito do tempo não é o do texto longo"
João Moreira Salles diz que Gay Talese teria dificuldade em despontar no jornalismo hoje
SYLVIA COLOMBO
ENVIADA ESPECIAL A OURO PRETO
"Muitas faculdades por aí
estão criando cursos de jornalismo literário, mas o mercado não tem como absorver
isso, estão treinando pessoas
para fazer algo que dificilmente conseguirão praticar
de verdade."
A frase provocou ruído numa audiência composta, em
sua maioria, por estudantes
de jornalismo. Principalmente pelo fato de ter vindo da
boca do documentarista João
Moreira Salles, diretor da
"Piauí", a revista brasileira
que melhor se encaixa no gênero conhecido por abarcar
textos de não ficção que
usam recursos literários.
As declarações foram feitas em debate sobre o tema
dentro do Fórum das Letras
de Ouro Preto, que ocorreu
na cidade mineira, entre os
últimos dias 10/11 e 15/11.
Moreira Salles elogiou
grandes nomes do gênero e
qualificou a "Piauí" como
uma exceção na mídia brasileira por ter o "luxo do tempo" para melhorar seus textos e poder traçar perfis mais
detalhados e profundos de
personagens.
Porém, reforçou que um
novo Gay Talese teria dificuldades de encontrar lugar para despontar hoje. "Há uma
lógica econômica no mercado. O espírito do tempo não é
o do texto longo."
Já o best seller da história
nacional Laurentino Gomes,
autor de "1808" e "1822",
lembrou da cisão que existia
na sociedade no pré-Independência para provocar reflexões sobre o Brasil de nossos dias.
LULA E D. JOÃO 6º
Ao comparar Lula com d.
João 6º, por exemplo, disse
que historiadores do futuro
talvez entendam melhor o
carisma do presidente, da
mesma forma como hoje se
fez uma revisão positiva da
personalidade do monarca
português.
E criticou os que vêm atacando Tiririca. "Temos de
prestar atenção antes de falar
mal de alguém que se supõe
ser um analfabeto, mas que
foi o deputado mais votado
do Brasil. Ao atacá-lo, estamos revelando nosso preconceito contra os mais pobres."
Gomes diz que está ciente
das críticas que são feitas a
ele por historiadores da universidade e que as considera
normais. "A academia tem
um sistema de validação interno pelo qual eu não passei. Aí, chego de fora e vendo
um monte de livros. É natural
que haja incômodo."
Mas defendeu o trabalho
que faz. "Não sou historiador, sou um jornalista que escreve livros de divulgação
científica. Isso é comum nos
países anglo-saxões, mas,
aqui, quase não existe."
A jornalista SYLVIA COLOMBO viajou a
convite da organização do evento
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