São Paulo, Sexta-feira, 17 de Dezembro de 1999


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O DIRETOR
"Bonecos são para brincar, não para ficar em museus"

PAULO SANTOS LIMA
especial para a Folha

Quem arriscaria dizer que Woody e Gasparzinho têm fortes laços? Só mesmo o diretor John Lasseter, que fez crescer a importância desse boneco, já "protagonista" no "Toy Story" de 1995.
"Meu brinquedo favorito, quando criança, era o Gasparzinho. Ele era atoalhado e tinha a cabeça de plástico, como Woody. Assim como Andy (o menino), eu dormia sempre com ele."
Munido dos bonecos Woody e Buzz Lightyear, Lasseter explicou à Folha como veio a idéia de "Toy Story 2", apertando botões, puxando cordinhas, deixando respeitoso tempo aos ruídos das engenhocas.
"Sempre amei meus brinquedos, que ficavam intactos numa prateleira em meu escritório. Muito especiais para mim, eu os tirava das mãos de meus filhos, dizendo que não eram para brincar. Com o primeiro "Toy Story", aprendi que os bonecos foram feitos para brincar, para ficar com as crianças e não em museus. Veio aí a idéia dessa continuação", afirmou o diretor.
Co-dirigido por Lee Unkrich e Ash Brannon, "Toy Story 2" aprofunda a psique dos personagens, aumenta a ação, os efeitos e os detalhes.
Foi "Vida de Inseto" (98), outro filme inteiramente feito em computação gráfica e dirigido por Lasseter, que possibilitou o avanço tecnológico em relação ao primeiro "Toy Story".
""Vida de Inseto" lidava com seres orgânicos, exigindo um minucioso trabalho gráfico. Não menos minucioso, porém mais geométrico, os brinquedos de "Toy Story" ganharam mais vida nessa continuação, com mais detalhes de expressão, movimentos e em ambientes mais diversos, herdados das técnicas de "Vida de Inseto". E é esta a vantagem da computação gráfica: você pegar, por exemplo, um gramado de um filme e colocá-lo, intacto, em outro filme mais moderno", explica.
O dilema de um brinquedo ser preterido por outras descobertas na vida dos humanos, ou seja, pela vida adulta, é o cerne do filme e a discussão apenas sugerida no primeiro filme.
Se os brinquedos querem ser brinquedos, choram e aceitam passivamente a maturidade e esquecimento de seus donos, nada tem aí de conformismo. Ao menos, é assim que Lasseter deixou bem claro.
Ele mostrou seus bonecos e simulou uma "revolta" dos brinquedos contra o esquecimento dos homens. "Apesar de ver seu dono crescer ser a coisa mais trágica para um brinquedo, ele não deixa de querer ser manipulado por uma criança, ou seja, de ser um brinquedo. É a razão de sua existência."
Lasseter, diretor de três longas e alguns curtas de animação, não sabe escolher seu melhor filme. "É como dizer qual é o predileto de meus cinco filhos", explica. "Mas, se você não pensar que aquele é o melhor projeto que você já fez, nada sai. Você tem de gostar dele para suportar o trabalho árduo."


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