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CINEMA
Coletânea traz 18 textos críticos publicados pelo cineasta nos anos 60 e 80 na imprensa diária paulistana
Rogério Sganzerla reúne em livro seu "cinema escrito"
RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO
Houve um tempo, no início da
década de 60, em que o Brasil passava necessariamente pelas telas
do cinema. As "fitas" da nouvelle
vague francesa e do neorealismo
italiano traduziam em imagens as
mudanças da vida, e vice-versa. A
cinefilia era, então, um imperativo existencial.
"Por um Cinema sem Limite",
coletânea de artigos que o cineasta Rogério Sganzerla, 55, lança
hoje no Rio, é o retrato fiel desta
época. Parte dos artigos reunidos
no livro foi publicada no "Suplemento Literário" de "O Estado de
S. Paulo", entre 64 e 65. O restante
saiu na Folha no início dos 80.
À época de suas críticas de estréia, Sganzerla ainda não havia
realizado suas primeiras obras, o
curta "Documentário" e o longa
"O Bandido da Luz Vermelha"
(68), marco do início do cinema
marginal brasileiro, com sua peculiar síntese a partir de Godard e
da revisão crítica do cinema novo.
Aos 18 anos, o catarinense radicado desde os 11 em São Paulo havia publicado um livro infantil,
quando tinha sete, tentara, sem
êxito, fazer o primeiro longa aos
16 e se deparava com a possibilidade de organizar seu pensamento diante do que assistira em cinco
anos de cinefilia sistemática, nas
poltronas da Sociedade Amigos
da Cinemateca, fundada por Rudá de Andrade e que exibia os
"must see" da época em 16 mm.
O convite veio de Décio de Almeida Prado, então editor do "Suplemento" e a quem "Por um Cinema" é dedicado. "Eu não queria
ser crítico. Então me disse: Vou
fazer cinema com a máquina de
escrever", conta Sganzerla.
As críticas do cineasta então em
gestação refletem o momento.
Hawks, Lang, Godard, Antonioni,
Resnais e Mizoguchi desfilam pelos textos, que procuravam, criticamente, dividir cineastas "da alma" e "do corpo" e o cinema moderno do cinema clássico.
E Orson Welles, desde então
uma obsessão de Sganzerla, era
visto como o grande responsável
pela ruptura do cinema moderno.
À passagem do cineasta americano pelo Brasil, na década de 40, o
brasileiro dedicou posteriormente três filmes: "Nem Tudo É Verdade" (85), "Tudo É Brasil" (98) e
o recém-montado "O Signo do
Caos", com estréia prevista para o
meio do ano que vem.
"Todo cineasta do mundo deve
tudo a Orson Welles", afirma. No
caldeirão de Sganzerla, a cultura
popular, a chanchada e os quadrinhos assumem papel também revelador. "Por um Cinema Sem Limite" tem o mérito de mostrar a
gênese desta síntese.
POR UM CINEMA SEM LIMITE - De: Rogério Sganzerla. Editora: Azougue
Editorial (tel. 0/xx/21/ 2239-6606,
www.azougue.com.br). 120 págs., R$ 22. Lançamento hoje, às 20h, no Espaço
Unibanco de Cinema (r. Voluntários da
Pátria, 35, Rio, tel. 0/xx/21/2537-5843).
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