São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2001

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CINEMA

Coletânea traz 18 textos críticos publicados pelo cineasta nos anos 60 e 80 na imprensa diária paulistana

Rogério Sganzerla reúne em livro seu "cinema escrito"

RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO

Houve um tempo, no início da década de 60, em que o Brasil passava necessariamente pelas telas do cinema. As "fitas" da nouvelle vague francesa e do neorealismo italiano traduziam em imagens as mudanças da vida, e vice-versa. A cinefilia era, então, um imperativo existencial.
"Por um Cinema sem Limite", coletânea de artigos que o cineasta Rogério Sganzerla, 55, lança hoje no Rio, é o retrato fiel desta época. Parte dos artigos reunidos no livro foi publicada no "Suplemento Literário" de "O Estado de S. Paulo", entre 64 e 65. O restante saiu na Folha no início dos 80.
À época de suas críticas de estréia, Sganzerla ainda não havia realizado suas primeiras obras, o curta "Documentário" e o longa "O Bandido da Luz Vermelha" (68), marco do início do cinema marginal brasileiro, com sua peculiar síntese a partir de Godard e da revisão crítica do cinema novo.
Aos 18 anos, o catarinense radicado desde os 11 em São Paulo havia publicado um livro infantil, quando tinha sete, tentara, sem êxito, fazer o primeiro longa aos 16 e se deparava com a possibilidade de organizar seu pensamento diante do que assistira em cinco anos de cinefilia sistemática, nas poltronas da Sociedade Amigos da Cinemateca, fundada por Rudá de Andrade e que exibia os "must see" da época em 16 mm.
O convite veio de Décio de Almeida Prado, então editor do "Suplemento" e a quem "Por um Cinema" é dedicado. "Eu não queria ser crítico. Então me disse: Vou fazer cinema com a máquina de escrever", conta Sganzerla.
As críticas do cineasta então em gestação refletem o momento. Hawks, Lang, Godard, Antonioni, Resnais e Mizoguchi desfilam pelos textos, que procuravam, criticamente, dividir cineastas "da alma" e "do corpo" e o cinema moderno do cinema clássico.
E Orson Welles, desde então uma obsessão de Sganzerla, era visto como o grande responsável pela ruptura do cinema moderno. À passagem do cineasta americano pelo Brasil, na década de 40, o brasileiro dedicou posteriormente três filmes: "Nem Tudo É Verdade" (85), "Tudo É Brasil" (98) e o recém-montado "O Signo do Caos", com estréia prevista para o meio do ano que vem.
"Todo cineasta do mundo deve tudo a Orson Welles", afirma. No caldeirão de Sganzerla, a cultura popular, a chanchada e os quadrinhos assumem papel também revelador. "Por um Cinema Sem Limite" tem o mérito de mostrar a gênese desta síntese.


POR UM CINEMA SEM LIMITE - De: Rogério Sganzerla. Editora: Azougue Editorial (tel. 0/xx/21/ 2239-6606, www.azougue.com.br). 120 págs., R$ 22. Lançamento hoje, às 20h, no Espaço Unibanco de Cinema (r. Voluntários da Pátria, 35, Rio, tel. 0/xx/21/2537-5843).




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