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MÚSICA
"Dwitza" chega às lojas em janeiro e traz o cantor tocando teclados, guitarra e usando a voz como instrumento
Ed Motta dá descanso ao gogó em novo CD
EDSON FRANCO
EDITOR DE IMÓVEIS E CONSTRUÇÃO
Para os fãs da fase mais "Manoel" de Ed Motta, 30, o nome do
novo CD do cantor carioca,
"Dwitza", é um dos aspectos que
vai soar menos estranho. Depois
de 15 anos alicerçando sua carreira com os dançantes soul e funk,
ele resolveu descansar o gogó e
mostrar o que é capaz de fazer
com as mãos e com a cabeça.
Com previsão de chegada ao
mercado em janeiro, o álbum é
basicamente instrumental e será
lançado simultaneamente no Brasil (pela Universal), na Europa e
no Japão (pelo selo Whatmusic).
São 14 composições próprias,
das quais apenas duas receberam
letra. Motta toca teclados, guitarra
e usa a voz como instrumento.
Na semana passada, ele recebeu
a Folha em um estúdio paulistano, onde foi feita a masterização
de "Dwitza". Além de exibir com
exclusividade todas as faixas, o
cantor explicou a origem da obra
e o desvio de rota na carreira.
"Quando chega a hora de renovar o contrato com a gravadora,
tem gente que pede dinheiro, carro importado, apartamento, férias no Havaí. Eu pedi um disco
de música instrumental."
Segundo o cantor, a Universal
recebeu bem o projeto e investiu
na produção montantes similares
aos despendidos nos discos anteriores. "Eles até absorveram um
estouro no orçamento."
E não houve um momento em
que questionaram as escolhas estilísticas? "Nem tentaram. Além
do contrato [no qual ele exige assinar a produção de seus discos],
eu garanto isso com a minha tacanhice. Sou um cara turrão."
Audiófilo obsessivo e exigente,
Motta viu atendidas todas as suas
reivindicações em termos de estúdios, equipamentos e músicos.
"Gravei numa sala de pedra, para obter uma reverberação natural. É uma coisa baseada no trabalho de mestres da produção, como Rudy van Gelder, Tom Dowd
e Al Schmidt. Isso tem uma conotação romântica e purista, mas
não esnobe e segregacionista."
Além da ambientação, Motta teve liberdade e verba para contratar músicos como o saxofonista
Teco Cardoso e o guitarrista Paulinho Guitarra. "Sigo uma frase do
Godard, de quem não sou muito
fã. Ele diz que todo artista é um ditador por excelência. Eu não consigo trabalhar com quem tem
uma palavra maior ou igual à minha dentro da minha arte."
Na hora de falar sobre a unidade
estilística da obra, o cantor diz
que a linha do disco é não ter linha
e que os críticos que tentarem encontrá-la vão "quebrar a cara".
Entre os estilos musicais que
desfilam pelo trabalho, Motta
destaca o jazz "afrocêntrico"
-praticado por músicos como
Randy Weston e Arthur Blythe-,
a música orquestral brasileira e a
sonoridade das trilhas de cinema.
E os fãs antigos vão saber degustar isso? "É uma questão de costume. Se há dez anos você colocasse
na frente de um brasileiro um pedaço de salmão, ele perguntaria:
"Que peixe fedorento é esse?". Hoje, ele baba por uma torrada com
salmão", conjetura Motta.
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