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ANÁLISE
"Galera" é "Malhação" com menos glamour
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
A vida na escola é o assunto
do seriado que a TV Cultura
estreou neste início de férias (!?).
O visual de "Galera" é moderno.
O projeto é cheio de boas intenções. Mas a trama é fraca em personagens e enredo.
O primeiro episódio mostrou o
grupo em sala de aula, no recreio,
com o diretor. O papo das cocotas
que cuidam da dieta para não engordar. A convencional falta de
interesse pela matemática que o
professor insiste em ensinar. A
vocação skate dos garotos. O desejo insaciável de todos pelo beijo
de língua.
"Galera" é uma versão mirim e
"light" de "A Turma do Gueto"
(Record). A composição multicultural dos personagens admite
negros, brancos, nisseis -e essa é
a sua única característica marcante. Mais nova, essa galera não lida
diretamente com o tráfico, mas a
ele se refere.
Ainda distantes da violência que
assola o cotidiano dos estudantes
do curso noturno de "A Turma do
Gueto", os adolescentes de "Galera" vivem em crise existencial. O
seriado pode ser visto como uma
versão menos glamourosa e mais
estilizada de "Malhação".
"Galera" é mais uma manifestação de um gênero que prolifera
em diversos canais em horários
parecidos. A sala de aula com suas
carteiras enfileiradas, os corredores do colégio povoados de bedéis, além de professores compreensivos, lembram enlatados
de sucessos como "Carrossel".
A preocupação pedagógica-liberal que predomina nesses seriados acentua um misto de novela
açucarada e auto-ajuda adolescente, que não amplia repertórios.
Há uma espécie de complacência
nessas produções que não aponta
caminhos ou incentiva pesquisas
que ultrapassem o consumo entediante de libido, que assola o cotidiano televisivo de adultos e
crianças.
Poderia a TV Cultura ousar
vôos diferentes. Mais do que navegar em formatos e horários
consolidados, deveria romper as
convenções e desafiar a imaginação.
A indefinida textura da sequência de abertura, a montagem que
confronta imaginação subjetiva
do personagem com a sua banal
realidade, por mais bem realizadas que sejam, não compensam a
fragilidade do roteiro. Apesar do
empenho da turma da Escola Estadual Professor Ascendino Reis.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
GALERA. Quando: seg. a sex., às 18h15,
na TV Cultura.
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