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São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2003

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ANÁLISE

"Galera" é "Malhação" com menos glamour

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A vida na escola é o assunto do seriado que a TV Cultura estreou neste início de férias (!?). O visual de "Galera" é moderno. O projeto é cheio de boas intenções. Mas a trama é fraca em personagens e enredo.
O primeiro episódio mostrou o grupo em sala de aula, no recreio, com o diretor. O papo das cocotas que cuidam da dieta para não engordar. A convencional falta de interesse pela matemática que o professor insiste em ensinar. A vocação skate dos garotos. O desejo insaciável de todos pelo beijo de língua.
"Galera" é uma versão mirim e "light" de "A Turma do Gueto" (Record). A composição multicultural dos personagens admite negros, brancos, nisseis -e essa é a sua única característica marcante. Mais nova, essa galera não lida diretamente com o tráfico, mas a ele se refere.
Ainda distantes da violência que assola o cotidiano dos estudantes do curso noturno de "A Turma do Gueto", os adolescentes de "Galera" vivem em crise existencial. O seriado pode ser visto como uma versão menos glamourosa e mais estilizada de "Malhação".
"Galera" é mais uma manifestação de um gênero que prolifera em diversos canais em horários parecidos. A sala de aula com suas carteiras enfileiradas, os corredores do colégio povoados de bedéis, além de professores compreensivos, lembram enlatados de sucessos como "Carrossel".
A preocupação pedagógica-liberal que predomina nesses seriados acentua um misto de novela açucarada e auto-ajuda adolescente, que não amplia repertórios. Há uma espécie de complacência nessas produções que não aponta caminhos ou incentiva pesquisas que ultrapassem o consumo entediante de libido, que assola o cotidiano televisivo de adultos e crianças.
Poderia a TV Cultura ousar vôos diferentes. Mais do que navegar em formatos e horários consolidados, deveria romper as convenções e desafiar a imaginação.
A indefinida textura da sequência de abertura, a montagem que confronta imaginação subjetiva do personagem com a sua banal realidade, por mais bem realizadas que sejam, não compensam a fragilidade do roteiro. Apesar do empenho da turma da Escola Estadual Professor Ascendino Reis.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

GALERA. Quando: seg. a sex., às 18h15, na TV Cultura.


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