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"PAPAI NOEL ÀS AVESSAS"
Fábula de Terry Zwigoff destrói tradicional redenção natalina com bêbado ladrão de lojas
Diretor de "Crumb" cria Papai Noel incorreto
DO "NEW YORK TIMES"
O filme "Papai Noel às Avessas", dirigido por Terry Zwigoff,
conta a história de Willie T. Stokes (Billy Bob Thornton), que trabalha como Papai Noel em lojas
de departamento -teve uma infância horrível, é um tremendo
boca suja, bebe sem parar e ostenta intenções criminosas-, e do
relacionamento que estabelece
quase contra a vontade com um
moleque bundão de oito anos.
É a nova porrada de Zwigoff,
que tem no currículo "Crumb"
(1994), documentário sobre a vida, obra e família disfuncional do
artista Robert Crumb, e "Mundo
Cão" (2000), baseado em "Ghost
World", quadrinhos criados por
Daniel Clowes. Leia a seguir trechos de sua entrevista.
Pergunta - Quando o sr. era criança, acreditava em Papai Noel?
Terry Zwigoff - Não tínhamos
muitas crenças religiosas. A religião da minha mãe era o medo. A
única foto natalina que encontrei
de minha infância me mostra
abrindo um presente, e o presente
era uma lanterna. Era uma espécie de piada, "caso as luzes se apaguem". E eu olhando para a lanterna, intrigado, aos quatro anos.
Pergunta - O que o levou a dirigir
este filme?
Zwigoff - Meu agente me enviou
o roteiro com um bilhete dizendo
que eu adoraria a história, mas o
filme jamais seria produzido e
que, portanto, eu não devia me
animar demais. Evidentemente,
eu me animei demais. E levamos a
idéia a alguns estúdios que imediatamente a rejeitaram. Depois
de uns dois meses disso, recebi
um telefonema de Bob Weinstein,
dizendo que ele e o irmão haviam
acabado de assistir a "Mundo
Cão" e queriam que eu fizesse um
filme para eles. Leram o roteiro na
hora e disseram que queriam produzir o longa. Muitas vezes, eu
olhava em torno de mim no estúdio e não conseguia acreditar que
eles estivessem me deixando dirigir este trabalho.
Pergunta - Houve alguma mudança?
Zwigoff - No começo, faríamos
uns flashbacks mostrando o personagem de Billy Bob Thornton
quando menino, em companhia
do pai. Achei que eles pareciam
pedaços de outro filme, por isso
os eliminei. E acrescentei um par
de cenas que acabei cortando na
edição. Escrevi uma cena em que
Bernie Mac é morto. No filme ele
morre muito rápido e não dá para
ter certeza de que ele morreu. É
apenas provável. Mas, na cena
que eu tinha escrito, você tem
muita certeza de que ele morreu.
Leva cerca de quatro minutos. Eu
me inspirei em "O Poderoso Chefão". Originalmente, tinha essa
cena em que eles acabam passando com o carro sobre a cabeça dele. Era muito engraçada. Também
tornei a redenção menos acentuada em certos pontos do filme.
Pergunta - Considerou a idéia de
não apresentar redenção?
Zwigoff - Sim, pensei nisso. Na
verdade, um dos grupos de discussão que conduzimos considerou que tínhamos acrescentado
um final hollywoodiano à história
quando o Papai Noel não morre
no final.
Pergunta - Como o senhor escalou Billy Bob Thornton?
Zwigoff - Quando Bob Weinstein me ligou e perguntou quem
eu queria estrelando o filme, eu
disse que achava que Bill Murray
era uma boa idéia. Depois fui informado de que Bill Murray nem
mesmo tinha lido o roteiro, que
iria demorar um ano para responder, mas ele respondeu em uma
semana, dizendo que queria fazer
o filme. Chegamos ao ponto de
contactá-lo duas vezes, deixando
recados na secretária eletrônica e
falando que, se quisesse fazer o filme, ótimo, mas, se não quisesse,
pelo menos nos avisasse. Mas ele
desapareceu. Não o culpo. Se tivesse o dinheiro que ele tem, faria
o mesmo: "Não estou a fim hoje,
desculpe, procure outra pessoa".
Foi quando, então, eu conheci
Billy Bob Thornton.
Tradução de Paulo Migliacci
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