São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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"PAPAI NOEL ÀS AVESSAS"

Fábula de Terry Zwigoff destrói tradicional redenção natalina com bêbado ladrão de lojas

Diretor de "Crumb" cria Papai Noel incorreto

DO "NEW YORK TIMES"

O filme "Papai Noel às Avessas", dirigido por Terry Zwigoff, conta a história de Willie T. Stokes (Billy Bob Thornton), que trabalha como Papai Noel em lojas de departamento -teve uma infância horrível, é um tremendo boca suja, bebe sem parar e ostenta intenções criminosas-, e do relacionamento que estabelece quase contra a vontade com um moleque bundão de oito anos.
É a nova porrada de Zwigoff, que tem no currículo "Crumb" (1994), documentário sobre a vida, obra e família disfuncional do artista Robert Crumb, e "Mundo Cão" (2000), baseado em "Ghost World", quadrinhos criados por Daniel Clowes. Leia a seguir trechos de sua entrevista.
 

Pergunta - Quando o sr. era criança, acreditava em Papai Noel?
Terry Zwigoff -
Não tínhamos muitas crenças religiosas. A religião da minha mãe era o medo. A única foto natalina que encontrei de minha infância me mostra abrindo um presente, e o presente era uma lanterna. Era uma espécie de piada, "caso as luzes se apaguem". E eu olhando para a lanterna, intrigado, aos quatro anos.

Pergunta - O que o levou a dirigir este filme?
Zwigoff -
Meu agente me enviou o roteiro com um bilhete dizendo que eu adoraria a história, mas o filme jamais seria produzido e que, portanto, eu não devia me animar demais. Evidentemente, eu me animei demais. E levamos a idéia a alguns estúdios que imediatamente a rejeitaram. Depois de uns dois meses disso, recebi um telefonema de Bob Weinstein, dizendo que ele e o irmão haviam acabado de assistir a "Mundo Cão" e queriam que eu fizesse um filme para eles. Leram o roteiro na hora e disseram que queriam produzir o longa. Muitas vezes, eu olhava em torno de mim no estúdio e não conseguia acreditar que eles estivessem me deixando dirigir este trabalho.

Pergunta - Houve alguma mudança?
Zwigoff -
No começo, faríamos uns flashbacks mostrando o personagem de Billy Bob Thornton quando menino, em companhia do pai. Achei que eles pareciam pedaços de outro filme, por isso os eliminei. E acrescentei um par de cenas que acabei cortando na edição. Escrevi uma cena em que Bernie Mac é morto. No filme ele morre muito rápido e não dá para ter certeza de que ele morreu. É apenas provável. Mas, na cena que eu tinha escrito, você tem muita certeza de que ele morreu. Leva cerca de quatro minutos. Eu me inspirei em "O Poderoso Chefão". Originalmente, tinha essa cena em que eles acabam passando com o carro sobre a cabeça dele. Era muito engraçada. Também tornei a redenção menos acentuada em certos pontos do filme.

Pergunta - Considerou a idéia de não apresentar redenção?
Zwigoff -
Sim, pensei nisso. Na verdade, um dos grupos de discussão que conduzimos considerou que tínhamos acrescentado um final hollywoodiano à história quando o Papai Noel não morre no final.

Pergunta - Como o senhor escalou Billy Bob Thornton?
Zwigoff -
Quando Bob Weinstein me ligou e perguntou quem eu queria estrelando o filme, eu disse que achava que Bill Murray era uma boa idéia. Depois fui informado de que Bill Murray nem mesmo tinha lido o roteiro, que iria demorar um ano para responder, mas ele respondeu em uma semana, dizendo que queria fazer o filme. Chegamos ao ponto de contactá-lo duas vezes, deixando recados na secretária eletrônica e falando que, se quisesse fazer o filme, ótimo, mas, se não quisesse, pelo menos nos avisasse. Mas ele desapareceu. Não o culpo. Se tivesse o dinheiro que ele tem, faria o mesmo: "Não estou a fim hoje, desculpe, procure outra pessoa". Foi quando, então, eu conheci Billy Bob Thornton.


Tradução de Paulo Migliacci


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