São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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CRÍTICA

Produções de Natal ganham irmão bastardo

SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA

Numa cena do subestimado "Um Grande Garoto" (2002), o personagem de Hugh Grant está num supermercado e começa a ouvir no sistema de som a música natalina que fez a fama de seu pai e a fortuna e desgraça dos filhos. Desesperado, diz algo como: "Shit! Natal de novo?".
Ele não está sozinho. De meados de novembro até o começo de janeiro, os Estados Unidos e o Reino Unido são inundados por músicas, propagandas, roupas e filmes com temas natalinos que deixam os menos ligados ao feriado católico-cristão com vontade de mandar o bom velhinho cerrar fileiras com os marines em Fallujah.
Principalmente filmes. Só nos últimos dias estrearam por aqui (e por aí também) "O Expresso Polar", "Sobrevivendo ao Natal" e "Um Natal Muito, Muito Louco", todos com o final feliz padrão, pessoas se abraçando, sinos bimbalhando. Assim, é com a euforia de um porre de licor de ovos que "Papai Noel às Avessas", que estréia hoje no Brasil, deve ser recebido. É o antifilme de Natal, feito por um antidiretor de Hollywood, com um elenco de estrelas de médio porte colocado para suar. E é brilhante.
Quem comanda a festa a partir de uma idéia dos irmãos Coen, que são os produtores-executivos, é Terry Zwigoff, o diretor bissexto dos grandes "Crumb" (1994), perturbadora cinebiografia do desenhista Robert Crumb, e "Mundo Cão" (2000), perturbadora adaptação dos quadrinhos que revelou o talento de Thora Birch e Scarlett Johansson.
Agora, ele tem nas mãos Willie, um ladrão fracassado e alcoólatra (Billy Bob Thornton, em uma de suas melhores performances), que ajuda um anão (Tony Cox, de "Eu, Eu Mesmo e Irene") a dar uma série de golpes em lojas de departamento nos finais de ano. Para tanto, ele se veste de Papai Noel, e seu amigo, de duende. Logo encontram uma bartender (Lauren Graham, a mãe de "Gilmore Girls") cuja tara é transar com sujeitos vestidos de Papai Noel -e o que ela fala durante o sexo é hilariante e impublicável.
Só que o trio não contava com O Garoto (o nome do personagem é mesmo The Kid, uma homenagem ao clássico homônimo de Charles Chaplin de 1921).
Interpretado pela figuraça Brett Kelly, um miniator canadense na época com oito anos, o menino é o perdedor dos perdedores, no sentido norte-americano do termo.
Gordinho, com um catarro perene pendendo de seu nariz, abandonado, vivendo sozinho com uma avó senil (Cloris Leachman), ele vai ensinar a Willie o verdadeiro espírito, não do Natal, mas da vida -uma sucessão de fracassos e um dia você morre.
O menino também vai aprender que a vida é dura, mas vale a pena. Não sem antes ouvir 147 vezes a palavra "fuck", 34 vezes "shit" e um total de 243 palavrões (alguém do site IMDb contou) ditas pelo bom velhinho.


Papai Noel às Avessas
Bad Santa
    
Direção: Terry Zwigoff
Produção: EUA, 2003
Com: Billy Bob Thornton, Lauren Graham, Tony Cox
Quando: a partir de hoje nos cines Cinearte, Frei Caneca Unibanco Arteplex, Shopping D e circuito



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