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CRÍTICA
Produções de Natal ganham irmão bastardo
SÉRGIO DÁVILA
DA CALIFÓRNIA
Numa cena do subestimado "Um Grande Garoto"
(2002), o personagem de Hugh
Grant está num supermercado
e começa a ouvir no sistema de
som a música natalina que fez a
fama de seu pai e a fortuna e
desgraça dos filhos. Desesperado, diz algo como: "Shit! Natal
de novo?".
Ele não está sozinho. De meados de novembro até o começo
de janeiro, os Estados Unidos e
o Reino Unido são inundados
por músicas, propagandas,
roupas e filmes com temas natalinos que deixam os menos ligados ao feriado católico-cristão com vontade de mandar o
bom velhinho cerrar fileiras
com os marines em Fallujah.
Principalmente filmes. Só
nos últimos dias estrearam por
aqui (e por aí também) "O Expresso Polar", "Sobrevivendo
ao Natal" e "Um Natal Muito,
Muito Louco", todos com o final feliz padrão, pessoas se
abraçando, sinos bimbalhando. Assim, é com a euforia de
um porre de licor de ovos que
"Papai Noel às Avessas", que
estréia hoje no Brasil, deve ser
recebido. É o antifilme de Natal, feito por um antidiretor de
Hollywood, com um elenco de
estrelas de médio porte colocado para suar. E é brilhante.
Quem comanda a festa a partir de uma idéia dos irmãos
Coen, que são os produtores-executivos, é Terry Zwigoff, o
diretor bissexto dos grandes
"Crumb" (1994), perturbadora
cinebiografia do desenhista
Robert Crumb, e "Mundo Cão"
(2000), perturbadora adaptação dos quadrinhos que revelou o talento de Thora Birch e
Scarlett Johansson.
Agora, ele tem nas mãos Willie, um ladrão fracassado e alcoólatra (Billy Bob Thornton,
em uma de suas melhores performances), que ajuda um
anão (Tony Cox, de "Eu, Eu
Mesmo e Irene") a dar uma série de golpes em lojas de departamento nos finais de ano. Para
tanto, ele se veste de Papai
Noel, e seu amigo, de duende.
Logo encontram uma bartender (Lauren Graham, a mãe de
"Gilmore Girls") cuja tara é
transar com sujeitos vestidos
de Papai Noel -e o que ela fala
durante o sexo é hilariante e
impublicável.
Só que o trio não contava
com O Garoto (o nome do personagem é mesmo The Kid,
uma homenagem ao clássico
homônimo de Charles Chaplin
de 1921).
Interpretado pela figuraça
Brett Kelly, um miniator canadense na época com oito anos,
o menino é o perdedor dos perdedores, no sentido norte-americano do termo.
Gordinho, com um catarro
perene pendendo de seu nariz,
abandonado, vivendo sozinho
com uma avó senil (Cloris
Leachman), ele vai ensinar a
Willie o verdadeiro espírito,
não do Natal, mas da vida
-uma sucessão de fracassos e
um dia você morre.
O menino também vai aprender que a vida é dura, mas vale
a pena. Não sem antes ouvir
147 vezes a palavra "fuck", 34
vezes "shit" e um total de 243
palavrões (alguém do site
IMDb contou) ditas pelo bom
velhinho.
Papai Noel às Avessas
Bad Santa
Direção: Terry Zwigoff
Produção: EUA, 2003
Com: Billy Bob Thornton, Lauren
Graham, Tony Cox
Quando: a partir de hoje nos cines
Cinearte, Frei Caneca Unibanco
Arteplex, Shopping D e circuito
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