São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

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"O TESOURO DA CIDADE PERDIDA"

Com problemas na Globo, apresentadora faz papel de poucas palavras em novo filme

Em crise na TV, Xuxa se cala no cinema

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma cena do novo filme de Xuxa Meneghel, que estréia hoje, uma criança diz, impressionada: "Ela falou 40 palavras!". Na mais grave crise de audiência na televisão desde os áureos anos 80, a apresentadora volta ao cinema em um papel de poucas palavras.
Desta vez, ela é Bárbara, uma bióloga tímida e monossilábica, como informa a sinopse de "Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida".
No roteiro de Flávio de Souza ("Ilha Rá-Tim-Bum"), a apresentadora não é mais o centro absoluto da história, a exemplo de seus longas-metragens anteriores. Parece desanimada, sem vida, e está a milhas da personagem falante e onipresente que interpretou no ano passado, em "Xuxa Abracadabra", do mesmo roteirista.
No final da narrativa, a bióloga vira deusa e se mostra desconfortável ("É tudo tão estranho, estou tão diferente"), como se a fantasia de rainha não servisse mais. Não entende por que todos a colocam no lugar da heroína e tem dificuldades para dizer de que forma salvará seus "baixinhos". "Será? Talvez", responde, insegura, quando a escalam para líder da aventura.
Bárbara tem apenas problemas amorosos -rompeu com o noivo Igor (Marcos Pasquim)-, mas parece preocupada com as várias manhãs nas quais o SBT vence a Globo no Ibope.
A missão da moça do filme é salvar um baú de tesouro cheio de folhas (metáfora da biodiversidade), e não o programa "Xuxa no Mundo da Imaginação" -que mudou de formato a fim de obter mais audiência e deverá ser significativamente alterado em 2005 por pressão da direção da Globo.
Bárbara e sua intérprete, no entanto, mostram sintonia na dificuldade de segurar a coroa.
Será estratégica, então, a idéia de tirar os holofotes de Xuxa no longa-metragem: "De forma nenhuma. As dificuldades na televisão em nada interferem no trabalho dela no cinema", afirma Diler Trindade, produtor deste e de outros filmes da apresentadora.
Para ele, é "estranho" que ela esteja em crise na televisão. "Talvez seja por um problema de química com os diretores, e isso deve mudar agora com a entrada de Jorge Fernando." A marca Xuxa, acredita, mantém-se intacta no cinema e deverá continuar com recordes de bilheteria.
"Xuxa é tão forte quanto era em "Lua de Cristal" [de 1990, com 5 milhões de espectadores, uma das maiores bilheterias do país]."
Para "O Tesouro", Trindade espera resultado semelhante, "talvez um pouco melhor", do que o de "Abracadabra" (2,3 milhões). "Caiu do patamar de 5 milhões de "Lua" para 2 milhões e pouco porque as 3.300 salas de cinema existentes no país à época foram reduzidas pela metade."
Prova de que no cinema o ibope de Xuxa continua alto, diz Trindade, é o fato de ele estar investindo num longa de animação da Xuxinha, miniatura da apresentadora, para 2005 (leia abaixo). "E quero continuar a fazer filmes da Xuxa por anos, até ela interpretar uma vovó de 70 anos que conta histórias para os netinhos."
Segundo o produtor, Xuxa se cala no novo filme por uma opção de roteiro. "O Flávio [de Souza] criou um personagem que não fala, monossilábico. A Xuxa, inclusive, questionou isso: "Eu, que falo tanto, serei monossilábica...", disse. Ficou até meio preocupada."
Num livreto de apresentação de "O Tesouro", a apresentadora filosofa sobre a questão: "A mensagem que quero passar nesse filme não está tão na cara, já que ter um respeito pela natureza é uma das falas que não tive em nenhum diálogo, por meu personagem falar pouco, de propósito. Quero deixar claro que, quando a gente respeita cada ser vivo, cada bichinho, cada planta, tudo em geral, a gente está respeitando tudo o que Deus fez e nos deu de melhor".
O roteirista tem sua versão: "Em "Abracadabra", Xuxa interpretou um personagem que falava muito. Desta vez, a Bárbara é bem tímida e monossilábica. A Xuxa curtiu essa história de ser uma mulher introvertida e que, de repente, descobre que é deusa".
Com direção de Moacyr Goes e custo total de R$ 6 milhões, "Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida" estréia em 320 salas do país.
O próximo longa já está nos planos, apesar de a apresentadora ter divagado sobre sua aposentadoria numa entrevista coletiva, na semana passada: "Vou me aposentar quando perceber que os baixinhos não me querem mais. Ou que as famílias não estão satisfeitas comigo. Acho que vou perceber quando isso acontecer...".


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