|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"O TESOURO DA CIDADE PERDIDA"
Com problemas na Globo, apresentadora faz papel de poucas palavras em novo filme
Em crise na TV, Xuxa se cala no cinema
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em uma cena do novo filme de
Xuxa Meneghel, que estréia hoje,
uma criança diz, impressionada:
"Ela falou 40 palavras!". Na mais
grave crise de audiência na televisão desde os áureos anos 80, a
apresentadora volta ao cinema
em um papel de poucas palavras.
Desta vez, ela é Bárbara, uma
bióloga tímida e monossilábica,
como informa a sinopse de "Xuxa
e o Tesouro da Cidade Perdida".
No roteiro de Flávio de Souza
("Ilha Rá-Tim-Bum"), a apresentadora não é mais o centro absoluto da história, a exemplo de seus
longas-metragens anteriores. Parece desanimada, sem vida, e está
a milhas da personagem falante e
onipresente que interpretou no
ano passado, em "Xuxa Abracadabra", do mesmo roteirista.
No final da narrativa, a bióloga
vira deusa e se mostra desconfortável ("É tudo tão estranho, estou
tão diferente"), como se a fantasia
de rainha não servisse mais. Não
entende por que todos a colocam
no lugar da heroína e tem dificuldades para dizer de que forma salvará seus "baixinhos". "Será? Talvez", responde, insegura, quando
a escalam para líder da aventura.
Bárbara tem apenas problemas
amorosos -rompeu com o noivo Igor (Marcos Pasquim)-,
mas parece preocupada com as
várias manhãs nas quais o SBT
vence a Globo no Ibope.
A missão da moça do filme é salvar um baú de tesouro cheio de
folhas (metáfora da biodiversidade), e não o programa "Xuxa no
Mundo da Imaginação" -que
mudou de formato a fim de obter
mais audiência e deverá ser significativamente alterado em 2005
por pressão da direção da Globo.
Bárbara e sua intérprete, no entanto, mostram sintonia na dificuldade de segurar a coroa.
Será estratégica, então, a idéia
de tirar os holofotes de Xuxa no
longa-metragem: "De forma nenhuma. As dificuldades na televisão em nada interferem no trabalho dela no cinema", afirma Diler
Trindade, produtor deste e de outros filmes da apresentadora.
Para ele, é "estranho" que ela esteja em crise na televisão. "Talvez
seja por um problema de química
com os diretores, e isso deve mudar agora com a entrada de Jorge
Fernando." A marca Xuxa, acredita, mantém-se intacta no cinema e deverá continuar com recordes de bilheteria.
"Xuxa é tão forte quanto era em
"Lua de Cristal" [de 1990, com 5
milhões de espectadores, uma das
maiores bilheterias do país]."
Para "O Tesouro", Trindade espera resultado semelhante, "talvez um pouco melhor", do que o
de "Abracadabra" (2,3 milhões).
"Caiu do patamar de 5 milhões de
"Lua" para 2 milhões e pouco porque as 3.300 salas de cinema existentes no país à época foram reduzidas pela metade."
Prova de que no cinema o ibope
de Xuxa continua alto, diz Trindade, é o fato de ele estar investindo num longa de animação da
Xuxinha, miniatura da apresentadora, para 2005 (leia abaixo). "E
quero continuar a fazer filmes da
Xuxa por anos, até ela interpretar
uma vovó de 70 anos que conta
histórias para os netinhos."
Segundo o produtor, Xuxa se
cala no novo filme por uma opção
de roteiro. "O Flávio [de Souza]
criou um personagem que não fala, monossilábico. A Xuxa, inclusive, questionou isso: "Eu, que falo
tanto, serei monossilábica...", disse. Ficou até meio preocupada."
Num livreto de apresentação de
"O Tesouro", a apresentadora filosofa sobre a questão: "A mensagem que quero passar nesse filme
não está tão na cara, já que ter um
respeito pela natureza é uma das
falas que não tive em nenhum
diálogo, por meu personagem falar pouco, de propósito. Quero
deixar claro que, quando a gente
respeita cada ser vivo, cada bichinho, cada planta, tudo em geral, a
gente está respeitando tudo o que
Deus fez e nos deu de melhor".
O roteirista tem sua versão: "Em
"Abracadabra", Xuxa interpretou
um personagem que falava muito. Desta vez, a Bárbara é bem tímida e monossilábica. A Xuxa
curtiu essa história de ser uma
mulher introvertida e que, de repente, descobre que é deusa".
Com direção de Moacyr Goes e
custo total de R$ 6 milhões, "Xuxa
e o Tesouro da Cidade Perdida"
estréia em 320 salas do país.
O próximo longa já está nos planos, apesar de a apresentadora ter
divagado sobre sua aposentadoria numa entrevista coletiva, na
semana passada: "Vou me aposentar quando perceber que os
baixinhos não me querem mais.
Ou que as famílias não estão satisfeitas comigo. Acho que vou perceber quando isso acontecer...".
Texto Anterior: "Zatoichi": Kitano põe sangue na beleza da vida Próximo Texto: Desenho da Xuxinha estréia em junho Índice
|