São Paulo, sexta-feira, 17 de dezembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ERIKA PALOMINO

UÉ? VOCÊ NÃO REPAROU QUE O MUNDO MUDOU?

Você notou? Não teve Melhores da Noite Ilustrada neste ano. Por quê????? Porque o mundo mudou. A vida mudou, as pessoas mudaram, eu mudei. Em 92, quando o prêmio começou, ninguém olhava para a cena noturna. Era tudo tão restrito, um gueto mesmo, que tudo isso era chamado "mundinho". O prêmio servia então para chamar a atenção das pessoas em relação à cultura dos clubes e DJs. De lá para cá, nem preciso perder seu tempo e gastar espaço explicando tudo o que aconteceu -até porque esta coluna nunca quis explicar nada mesmo. A cultura da música eletrônica virou mainstream e é compreendida hoje por milhares de pessoas. Nos anos 90, vivemos a era da segmentação. Os DJs precisaram se especializar nos gêneros musicais, até que todos eles fossem claramente compreendidos. E, como numa escola, o público teve de aprender direitinho as diferenças entre tecno, house, trance, drum'n'bass... A cultura da noite é a cultura do gosto. Afinal, nos unimos, antes de tudo, já da porta, por preferências musicais. Atualmente, as coisas estão mais misturadas, mais bagunçadas. E eu gosto é de bagunça (parafraseando Adriano Costa). Profissionalmente, considero ter cumprido meu papel -ao menos em relação aos Melhores da Noite Ilustrada. E quem esteve com a gente na inesquecível festa dos dez anos, no Teatro Municipal, em 2002, sabe do que estou falando e sabe também que ali foi o clímax, a apoteose desses assuntos. E de dois anos para cá se fortaleceu minha crença de que nada vai superar aquelas emoções. Não precisamos de mais nada. O resto vai ser mera repetição ou arremedo, flop ou frustração. Para quem não participou dos últimos 13 anos, está chegando agora e pode lamentar a decisão, abro as portas de uma nova década e de novos tempos. A história está aí para ser escrita. Gosto de olhar para a frente, não para trás. Gosto de fazer coisas que nunca fiz, gosto de renovação, reinvenção e, como boa escorpiana, de mudança. O que não é privilégio meu: tenho certeza de que também pensa assim o povo que realiza as coisas nesses territórios (música e noite). Por isso convido todos aqui para uma nova era. Parafraseando minha amiga Miss Kittin: "It's over. 'Cause I've decided it's over". Feliz 2005.


Colaborou Sergio Amaral, free-lance para a Folha

epalomino@folhasp.com.br

2004, O ANO QUE NÃO ACABA MAIS!!
Não parece? Nossa! Bom, enquanto 2004 não vai embora, vamos recapitular o que rolou. Foi tipo bombator. Com grandes marcas e multinacionais investindo forte no moderno público da noite nas principais capitais brasileiras, a programação tirou várias noites de sono do povo. O evento mais legal foi a edição paulistana do sonarsound, que rolou por aqui sob o guarda-chuva Nokia Trends. Eles arrebentaram, trazendo muita coisa nova na música de hoje, escapando de rótulos eletroniquinhos e de medalhões clichê -armadilhas de outros megafestivais, né? O Sónar foi tudo, da glamourosa abertura com Matthew Herbert & Big Band (com direito a muito champanhe e à diva Dani Siciliano) à noite de loucurinhas com o incrível LCD Soundsystem e às performáticas Chicks on Speed, às deliciosas tardes no Tomie Ohtake, ao projeto Junior Boys, ao produtor Akufen, da cena minimal, ao Live P.A. cool do espanhol Fibla + Randomzeta, a que todo mundo assistiu sentado e deitado no chão, em clima de chill-out do bem. E não deixaram de lado os artistas brasileiros legais. Os pontos altos foram o show electro e funk do Tetine -tendo como highlight o topless de Eliete Mejorado- e finalmente a revelação brasiliense Nego Moçambique. O jet-lag clubber reinou. Muitos internacionais deram as caras por aqui. A temporada abriu com Kevin Saunderson, no Lov.e. O top Tiesto também veio, para superfesta de progressive da Heineken, no Unique. No casting das festas institucionais quem arrasou mesmo foi a Diesel com a inesquecível noite de Moby, que reuniu jet-set, clubbers e pencas de celebrities do Rio e de São Paulo no hotel Glória. Foi tudo. E o Tiga, hein? Veio, mas tocou numa festa tão fechada que nem valeu.

SE JOGA NO I-POD
Fizemos uma retrospectiva rápida (porque retrospectiva é um saco!) das melhores músicas de 2004. Vários covers absurdinhos marcaram o ano. Os mais legais: Dani Siciliano para "Come as You Are", Erlend Oye (um herói, ele!) para "There's a Light that Never Goes Out", do Morrisey; o CD inteiro do projeto francês Nouvelle Vague, para Sisters of Mercy, P.I.L., Joy Division e Depeche Mode. Ainda teve Franz Ferdinand com "Take me Out" e "Dark of Matinee"; o CD todo do !!! (tsk tsk tsk); PFN, "Fascination" (ai, era tudo!); Miss Kittin com "Requiem for a Hit"; Munk feat. James Murphy, "Kick out the Chairs" (na verdade, tudo do Munk e tudo do James Murphy, tipo via LCD Soundsystem, com "Yeah"); Tiga, "Louder than a Bomb"; Scissor Sisters com "Take Your Mama Out" (na real, tudo deles); Felix da Housecat, "Everyone Is Someone in L.A."; Kings of Convenience, "I'd Rather Dance with You" (a mais incrível, mas o CD todo é bom); VHS or Beta, "Night on Fire" (os clones do The Cure). Entre os projetos que arrebentaram também estão o Sound of Young New York e o How to Kill the DJ. Tem mais, claro. É que a memória da noite é fraca, fraca... Até mesmo por conta disso aproveito para me despedir deste ano maluco. Esta colunista entra em férias, retornando para a temporada de moda que começa em 12 de janeiro, com o Fa- shion Rio. Agora vou me jogar!

VEIO CEDO OU VEIO TARDE?
O Fischerspooner trouxe sua ópera bufa no Skol Beats, fa- shion até dizer chega. Como o público do evento estava mais preparado para o Benny Benassi, nem as milhares de pessoas nem os críticos estavam preparados para tanto cinismo. Ultrafashion foi a PJ Harvey, no Tim Festival, a melhor atração do evento. Linda e sexy, surpreendeu até quem já gostava dela. Outros high-lights: Primal Scream, Massive Attack, Mount Sims, Green Velvet, Chemical Brothers (para os retardatários, é verdade), Fatboy Slim (no Aterro do Flamengo, quem foi adorou) e até Ru Paul, que micou total em festa da semana da Parada Gay -esta com recorde mundial de cerca de 1,5 milhão de pessoas.

na noite ilustrada...
Arrasa! Hoje tem 1234U com Paula e Ana Flavia no Bar 13 (Pix); na Technova tem o francês Tonio, do clube Rex; no Atari rola especial Garbage com Lu Riot e Logan no som; Marcão Morcerf e Renato Ratier dividem o line-up da Freak Chic. Na Heaven, o hip hop do DJ Puff; no Lótus é a noite de house do DJ Felipe Venancio. Para as bis tem festa de um ano da Club Kids, no Ultra, com bateria de escola de samba. Sábado: Marcio Vermelho e Pareto tocam na Xarope, no Espaço Guanabara (av. Prestes Maia, 62). No Sirena, em Maresias, tem lançamento da revista do clube com o DJ inglês John Digweed. No domingón tem mais uma edição da Dois em Um, no Avenida (av. Pedroso de Moraes, 1.036, Pinheiros), com show de lançamento do CD "Carniça", da cantora Geanine Marques com o clã do Pullovers. Ainda tem o Grind e a Climax, no Ultralounge. Na segunda, Zé Gonzales toca na On the Rocks, do D-Edge, e na quinta o top King Britt é atração da Black to the Future, no Amp. Se joga!


Texto Anterior: Música: James Brown é operado com sucesso
Próximo Texto: Artes: Brennand busca o horror na mitologia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.