São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997.

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DANÇA
Coreógrafo francês apresenta em Paris seu mais novo espetáculo, que estará no Brasil a partir de 5 de abril
Béjart prova que mantém fôlego criador

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha, em Paris

O novo espetáculo de Maurice Béjart, que estreou ontem em Paris, promete ser sucesso no Brasil, durante a temporada que o coreógrafo francês e seu grupo, o Béjart Ballet Lausanne, realizarão no país a partir de 5 de abril.
Segundo Béjart, ``Le Presbytre Ná Rien Perdu de Son Charme, Ni le Jardin de Son Éclat'' (O presbitério não perdeu seu charme, nem o jardim seu brilho), título de seu novo espetáculo, não possui conotações específicas.
``Para mim, é uma frase atraente, bonita poeticamente e que nos anos 20 serviu de referência aos surrealistas'', ele diz sobre o título tirado de ``Le Mystre de la Chambre Jaune'', de Gaston Leroux.
No imenso repertório de Béjart, ``Le Presbytre'' assinala um novo momento. Longa, mas capaz de prender a atenção do espectador durante quase duas horas, essa obra revela uma transcendência após certo esgotamento criativo enfrentado pelo coreógrafo.
Após a morte prematura do bailarino Jorge Donn, vítima da Aids e fonte de inspiração de Béjart durante 30 anos, o coreógrafo chegou a dissolver o Béjart Ballet Lausanne, que agora se recompõe.
De novo Béjart exibe bailarinos divinos. Com o domínio cênico que lhe é natural, o coreógrafo também introduz sua coreografia em um belo ambiente.
Com ``Le Presbytre'', Béjart dá um corte no repertório de obras rebuscadas e grandiloquentes, que muitas vezes abordavam figuras ou acontecimentos históricos.
Mais simples e despojado, Béjart chega agora à Aids, sem fazer do tema um lamento ou um manifesto. ``Não se trata de um balé sobre Aids, mas sobre aqueles que morrem jovens'', explica Béjart.
Coreograficamente, ``Le Presbytre'' não apresenta novidades. Apóia-se, somente, na linguagem que sempre caracterizou Béjart, ou seja, técnica clássica como suporte fundamental de uma dança símbolo de poder vital.
O filme projetado no final, sobre Donn em cena, peca pelo excesso, mas não deixa de ser comovente.
Se não é a melhor obra de Béjart, ``Le Presbytre'' mostra que o coreógrafo ainda tem fôlego criador.


A jornalista Ana Francisca Ponzio viajou a convite da Media Mania.

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