São Paulo, Terça-feira, 18 de Janeiro de 2000 |
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"Invasão Chopin" chega com CD biografia, romance e... atraso
IRINEU FRANCO PERPÉTUO especial para Folha Livros, discos, partituras: subitamente, há uma invasão de Chopin no mercado brasileiro. Tamanha abundância parece atrasada. Afinal, foi no ano passado que a morte do compositor polonês completou 150 anos. A face mais substancial e visível da "invasão" é "Chopin em Paris", livro de 476 páginas de Tad Szulc que a editora Record lança simultaneamente com "Tchaikovski -°Uma Biografia", de Anthony Holden (leia texto abaixo). Não deixa de surpreender ver Szulc -mais conhecido por uma polpuda biografia de Fidel Castro- se aventurando no terreno da música. "Chopin em Paris" se concentra nos 18 anos finais da vida do compositor, passados na capital francesa. Mas não negligencia a juventude, na Polônia. Embora preferisse o barroco de Bach e o classicismo de Mozart ao romantismo de seus contemporâneos (como Berlioz e Liszt), Fryderyk Franciszek Chopin (1810-1849) ficou para a posteridade como ícone do romantismo. O virtuosismo ao piano, a saúde frágil, os modos aristocráticos e a morte prematura (de tuberculose) alimentaram uma série de mitos e lendas a respeito do autor. Szulc tenta não se render à mitologia em torno de Chopin e o situa em um contexto de grande agitação social (Paris viveu duas revoluções na época, em 1830 e 1848) e cultural, contemporâneo de Victor Hugo, Balzac, Flaubert e Delacroix, entre outros. O problema é que, para se embrenhar na intimidade do compositor, Szulc tem de mexer com sua correspondência. E a biografia ganha um certo tom de fofoca. O autor se esbalda, por exemplo, nos sete anos do controverso relacionamento do compositor com Aurore Dudevant (1804-76) -escritora conhecida pelo pseudônimo Georges Sand, notória por seus hábitos masculinos e por seus incontáveis amantes. Szulc é benevolente com Sand, descrita por outros biógrafos do compositor como uma megera tirânica. Outro ponto controverso é a sexualidade de Chopin. Embora tenha morado com Aurore, o relacionamento sexual entre os dois teria ficado restrito apenas aos primeiros meses do convívio. Para alguns autores, Chopin era homossexual -como atestariam os elementos homoeróticos de sua correspondência com o amigo polonês Tytus Woyciechowski. Szulc, contudo, crê que o compositor fosse "assexuado". Embora fale da técnica de Chopin como professor e de sua maneira de tocar, o livro é falho ao abordar justamente o mais relevante: sua música. Szulc desculpa-se no prefácio por não ser musicista e emprega o tempo todo citações de peritos em Chopin. O problema é que, não conhecendo música, Szulc nem sempre é criterioso na seleção. Quando não sabe o que dizer sobre determinada peça, afirma que é "uma das maiores". E não economiza a palavra "gênio", à falta de outros adjetivos. Avaliação: Livro: Chopin em Paris Autor: Tad Szulc Editora: Record Quanto: R$ 48 (476 págs.) Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Concertos ganham versão revolucionária Índice |
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