São Paulo, Terça-feira, 18 de Janeiro de 2000


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Concertos ganham versão revolucionária

especial para a Folha


É de um polonês a mais estimulante homenagem fonográfica aos 150 anos da morte de Chopin. Abrindo mão de regente, o pianista Krystian Zimerman, 43, montou uma orquestra especialmente para gravar os dois concertos para piano e orquestra do compatriota.
Zimerman audicionou, por fita de vídeo, mais de 350 candidatos, até escolher os 50 poloneses, entre 25 e 35 anos, que formaram sua Polish Festival Orchestra.
Para que tudo isso?, perguntava-se. Afinal, em 1978, Zimerman fizera uma bela gravação dos concertos de Chopin, com a Filarmônica de Los Angeles, regida por Carlo Maria Giulini.
Duas décadas depois, contudo, a ambição do pianista não era realizar só mais uma boa gravação de Chopin. Queria amadurecer e registrar uma concepção completamente nova dos concertos.
Para entender a dimensão da revolução, é necessário que se diga que os concertos, obras de Chopin de 19 anos, nunca foram tidos em alta conta pela crítica. Berlioz dizia que a orquestra de Chopin era "um acompanhamento frio e quase inútil". Tanto o "Concerto nº 1 em Mi Menor, op. 11" quanto o "Concerto nº 2 em Fá Menor, op. 21" (apesar da numeração, composto antes do "Concerto nº 1") são vistos como obras mal-orquestradas, prolixas e conservadoras.
Sua função: mero veículo para o virtuosismo dos grandes pianistas. E assim podemos ler as gravações de gênios como Arthur Rubinstein, Guiomar Novaes e Martha Argerich, entre outros.
É relativamente fácil de encontrar, no mercado brasileiro, a partitura dos concertos para piano de Chopin (Edição Dover, feita a partir de Breitkopf & Härtel). Confrontá-la com a gravação de Zimerman é entender o quão sua concepção é diversa de todos os que o precederam.
Zimerman, o pianista, é um virtuose nem mais nem menos dotado que seus colegas. As boas surpresas do disco vêm de Zimerman, o regente. Tome-se como base a exposição orquestral do primeiro movimento ("Allegro Maestoso") do "Concerto em Mi Menor".
Normalmente tido como longo e maçante, o trecho ganha grandeza e refinamento.
Algumas indicações de Chopin (como acentos) são escrupulosamente respeitadas; outras (como passagens marcadas "a tempo"), deliberadamente ignoradas; e dinâmica e fraseados não previstos pelo compositor são acrescidos.
No segundo movimento, mais novidades: o diálogo entre as madeiras e o piano solista é valorizado, e a música alça vôos dignos de Schumann. Se Zimerman comete algum pecado, é o de tentar tornar a música de Chopin melhor do que ela é.


Avaliação:     


Disco: Chopin - Piano Concertos n.1 & 2
Artista: Krystian Zimerman
Gravadora: Deutsche Grammophon
Quanto: R$ 44 (o CD duplo, em média)


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