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LIVRO
No filme, quem morre é Ripley
especial para a Folha
É melhor não ler "O Sol
por Testemunha", de Patricia Highsmith, antes de ver o
filme de Minghella, que só
aproveita nomes e traços de
personagens, a ambientação
e o fio da trama. Não haveria
problema em jogar parte do
livro no lixo, sob o pretexto
de que não daria bom cinema. Mas as opções são duvidosas: mudam a personalidade das figuras e o jogo de
forças entre elas, e situações
inquietantes ficam patéticas.
Das duas, uma: ou o diretor
leu Highsmith enxergando o
que queria, ou seu modo de
tornar autoral a adaptação
foi afirmar-se pela diferença.
Minghella faz Ripley pianista para justificar o encontro com o pai de Dickie (que
no livro o persegue), arruma-lhe uma namorada, apaga de sua vida pequenas infrações e laços complicados
e o torna sorridente e apalermado, com um problema latente de identidade sexual.
A Marge do livro é uma
caipira com quem o presunçoso Dickie (aspirante a pintor, e não a músico) nem
transa e de quem tem pena.
No filme, são pombinhos.
A milionária em viagem
pela Europa, a jovem de
Mongibello e o gay de Veneza são invenções do diretor,
muletas a que recorre para
tapar (mal) alguns buracos.
Mas nada suplanta a violência contra Ripley, que René
Clément (no filme de 59) e
Wim Wenders (em "O Amigo Americano", de 77) compreenderam bem. Autor de
crimes premeditados, de inteligência diabólica, vira no
filme um carente que age
por improviso e quase em legítima defesa. Ah, sim: o Ripley de Highsmith tem 1m90
de altura. Matt Damon?
(SÉRGIO RIZZO)
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