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"Querem um novo realismo socialista"
SYLVIA COLOMBO
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA
A editora estatal Monte Avila já
foi uma das mais importantes da
América hispânica. Em termos de
publicações, perdia apenas para a
gigante mexicana Fondo de Cultura Económica. Nos anos 2001 e
2002, porém, a Monte Avila lançou pouco mais de uma dúzia de
livros, sendo a maioria reedições.
A agonia da tradicional editora
-que chegou a publicar autores
espanhóis perseguidos pelo franquismo quando esses eram proibidos na Espanha- é um dos sinais de como a cultura vem sofrendo na Venezuela, por falta de
recursos, por descaso governamental ou pelos dois juntos.
"Em seus discursos, jamais escutei Chávez pronunciar a palavra cultura como preocupação real. Tudo o que diz são frases de
efeito, como a idéia de que a cultura deve servir de instrumento
para a sua revolução bolivariana."
Quem observa é Sofia Imber, 78,
ex-diretora do Museu de Arte
Contemporânea de Caracas Sofia
Imber (Maccsi) em entrevista à
Folha, por telefone, de Caracas.
"Nos anos 70, a Venezuela viveu
um período de extrema criatividade artística e abriu-se para exposições internacionais. Hoje, só
se fala de cultura "patriótica'", diz.
Imber criou o Maccsi em 1971.
Depois, este passou a pertencer ao
governo por obter crescentes subsídios estatais. Transformou-se
num dos mais importantes acervos de arte contemporânea da
América Latina. Conta com cerca
de 3.000 obras (há Picasso, Chagall, Bacon, Vasarely e outros).
Imber se manteve à frente da
instituição por quase 30 anos. Em
janeiro de 2001, Chávez anunciou
a destituição de dirigentes de 36
instituições culturais ligadas ao
governo por considerá-las elitistas. Imber foi um deles. À época,
os opositores de Chávez compararam o processo à Revolução
Cultural chinesa. O presidente
disse que sua revolução era "bolivariana", o que em suas palavras
significava que a cultura deveria
"ser popular e criadora da libertação dos venezuelanos."
Hoje, dois anos depois do afastamento, Imber, que também é
jornalista, prepara o lançamento
de um livro sobre a importância
dos museus no Terceiro Mundo e
a edição de entrevistas que fez para a TV com personalidades políticas do país nos últimos 20 anos.
"Até hoje, só o que foi feito pelos
que ficaram responsáveis pelo
museu foi discutir, nada aconteceu", diz Imber. A nova direção
do Maccsi apresenta como proposta a valorização da produção
artística e do artesanato nacionais. "É algo parecido com a propaganda soviética", diz. "Crêem
que a agricultura, o trabalho urbano, devem estar representados
na arte, como na época de Stálin e
do realismo socialista, operários
trabalhando nas fábricas, mulheres com crianças..."
Por uma ironia do destino, Imber vem a ser filha de um casal de
imigrantes russos que fugiu justamente do bolchevismo. Viúva de
um dos mais destacados pensadores venezuelanos, Carlos Rangel, Imber nasceu na Rússia, e chegou à Venezuela em 1930.
Além de dirigir o Maccsi, Imber foi editora de cultura do jornal "El
Universal" -um dos mais importantes da Venezuela. "Existe
uma impressão muito daninha de que há liberdade de expressão pelo fato de os jornais publicarem artigos contra Chávez. Mas, a cada artigo, aumenta o ódio que ele alimenta pelos jornalistas e a retaliação não tarda. Acusa-nos de
fascistas, mas sei que não sabe o que significa essa palavra."
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