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São Paulo, terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

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LIVRO/LANÇAMENTO

Obra de Marcia Camargos retoma críticas ao aplaudido festival, marco zero do modernismo

Semana de 22 recebe "vaias" outra vez

Reprodução de "Semana de 22"
"O Homem Amarelo" (Anita Malfatti)


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos urros, assobios, risos e vaias se juntaram até arremessos de batatas. Desvairada, a paulicéia recebeu com artilharia pesada os jovens que apresentavam seus modernismos no elegante Theatro Municipal, em São Paulo.
O tempo levou ao volume zero os protestos. Para a chamada Semana de Arte Moderna, sobraram basicamente aplausos veementes, em estéreo.
Hoje, um 18 de fevereiro, como o que sucedeu ao festival de 1922, a turma dos Andrades, Mário e Oswald, volta a ser questionada.
A editora Boitempo está lançado em São Paulo o ensaio "Semana de 22 - Entre Vaias e Aplausos", que relativiza algumas importâncias do chamado marco zero da arte moderna brasileira.
Trabalho da historiadora e escritora Marcia Camargos, o livro não "joga batatas" nesse momento indiscutivelmente importante da história cultural tupiniquim. Mas além de reconstituir com precisão tanto antecedentes da Semana quanto os quatro dias daquele agitado fevereiro o volume instala uma interessante moldura crítica no oba-oba modernista.
Biógrafa de Monteiro Lobato ("Furacão na Botocúndia", feito com Vladimir Sacchetta e Carmen Lucia de Azevedo) e autora de saborosa pesquisa sobre a Villa Kyrial (casa e espécie de "centro cultural" onde José de Freitas Valle recebia a elite intelectual paulistana no início do século 20), Camargos questiona a "nota de corte" dos modernistas.
Em tema pouco abordado na ampla bibliografia da Semana, lembra que fotografia, cinema, teatro e caricatura, áreas nas quais existiam manifestações sintonizadas com os modernistas, foram deixadas de lado do festival.
Parte da coleção Paulicéia, da Boitempo -de livros sobre São Paulo- o volume também analisa essas ausências à luz paulistana. Por que o estopim do modernismo brasileiro foi aqui e não na então frondosa capital, o Rio?
É nesse quadro que é lembrada a abstenção de nomes como Monteiro Lobato e Juó Bananere, que segundo ela fizeram a cama para o modernismo deitar em Sampa e ficaram de fora do colchão (depois ensacados no rótulo "pré-modernistas", balaio de ótimos mas diferentes gatos, de Lima Barreto a Augusto dos Anjos).
"A Semana foi coisa de uma panelinha", diz a autora, que também aponta no livro como ela teve pouca repercussão na época. "Era coisa de grã-finos."

SEMANA DE 22. De: Marcia Camargos. Editora: Boitempo (tel. 3872-6869). Quanto: R$ 26 (184 págs.). Lançamento: hoje, às 18h30. Onde: Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073, tel. 3285-4033)


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