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BRASIL DESAFINADO
Site atribui resultados ainda pequenos à baixa adesão de gravadoras e artistas à venda por internet
Loja virtual vende só 15 mil faixas por mês
DA REPORTAGEM LOCAL
A experiência mais consistente
de comercialização de música via
internet no Brasil é ainda ínfima:
o site iMusica, uma espécie de
iTunes à brasileira, afirma vender
em média 15 mil downloads por
mês, por preços que variam entre
R$ 0,99 e R$ 2,90 cada faixa.
Se o iTunes conta com o acervo
de todas as grandes gravadoras
multinacionais, a versão local só
conseguiu se acertar até agora
com a EMI e a BMG -as negociações ocorrem diretamente nas
matrizes, e não nas filiais locais.
"O principal obstáculo para nós
é a falta de conteúdo", segundo
um dos diretores do iMusica, Alexandre Agra. "Tecnologicamente
estamos em igualdade de condições com o mundo", completa,
divergindo da impressão de que o
fosso brasileiro entre o modelo
antigo e o novo seja tecnológico.
"Aqui as pessoas podem não ter
saneamento básico, mas têm telefone celular", argumenta seu sócio Cláudio Campos.
O site (www.imusica.com.br)
tem cerca de 60 mil faixas licenciadas, mas só 25 mil delas estão
totalmente disponíveis para compra por download. Os diretores
atribuem isso à falta de estratégia
e empenho das grandes gravadoras, mas também remetem cota
de responsabilidade aos artistas.
"Apesar de termos acordos com
suas gravadoras, artistas como Ed
Motta, Paralamas do Sucesso e
Los Hermanos não permitem que
suas músicas sejam vendidas no
site", diz Campos.
O empresário dos Los Hermanos, Simon Fuller, nega que a
banda seja contra o comércio virtual. "É uma posição estratégica.
Começamos um serviço de clube
no site da banda, em que os assinantes têm acesso ao conteúdo
exclusivo", explica.
Segundo o empresário dos Paralamas, José Fortes, o grupo não
tem nada contra a venda virtual
de fonogramas, mas está estudando propostas de comercialização.
Ed Motta é o único que assume
uma atitude resistente ao novo
modelo. "Como entusiasta e colecionador de discos, não me interessa ser um dos pioneiros da
venda de MP3", afirma. Usuário
do iPod, ele promete aderir ao novo modelo quando virar praxe.
Os independentes
Presidente da Associação Brasileira da Música Independente
(ABMI), Pena Schmidt acompanhou as discussões sobre o novo
panorama na feira internacional
Midem, em janeiro, e tenta ostentar um discurso otimista -sem
negar o fosso atual.
"O modelo antigo morreu e o
novo não está pronto. A boa notícia é que vamos sobreviver, após
um período que chuto ser de uns
dois anos de transição. A pior etapa é a que vem agora", prevê.
As soluções que ele vislumbra
incluem música paga por assinatura, coligação da indústria fonográfica com grandes empresas de
telefonia e informática e a permanência do CD em outra escala.
Uma das atitudes já tomadas
pela ABMI, segundo ele, é a união
dos independentes. "O cooperado e o coletivo são obrigatórios no
novo modelo. Não adianta vender
pingado, a ABMI tem de oferecer
10 mil músicas de uma vez."
Schmidt vê vantagem crucial no
novo cenário. "A música volta a
ser o que era antes de inventarem
a cadeira do diretor de marketing
de gravadora. Se a música é boa a
gente gosta -é simples assim."
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
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