São Paulo, sábado, 18 de março de 2000


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MÚSICA
"Mama Mundi", novo disco do compositor paraibano, enfoca o Brasil para fazer sucesso no exterior
Chico César está de olho no mundo

especial para a Folha

Amparado pela erudição do maestro Nelson Ayres e pelo suingue do percussionista Marcos Suzano, Chico César lança o seu quarto disco, "Mama Mundi", de olho no mercado internacional. Se por aqui o cantor e compositor não conseguiu repetir o sucesso do disco "Cuzcuz-Clã", lançado em 1996, no exterior o paraibano de Catolé do Rocha tem sido cada vez mais respeitado.
Assim como no ano passado, Chico vai passar boa parte do segundo semestre em turnês pela Europa e EUA, onde os seus discos já estão sendo lançados por selos locais. O tempo passado fora do país acabou influenciando diretamente nas gravações de "Mama Mundi". A faixa "Barco" foi composta na Itália e "Aquidauana", inspirada na visita de Chico a Istambul, na Turquia. "Procurei ir na contramão dessa onda de globalização. Quis realçar as individualidades e as características de cada país", explica o músico.
As grandes novidades no disco são as presenças do produtor Mário Manga e do maestro Nelson Ayres. "Eu queria buscar uma maturidade musical neste CD e consegui com o Manga. É um disco praticamente acústico, parecido com o meu primeiro trabalho ("Aos Vivos"), mas com uma produção mais sofisticada e bem cuidada", diz Chico. "A participação de Nelson (Ayres) foi decisiva para a sonoridade do disco. Ele reforçou o meu violão, deu um caráter mais intimista às canções. É um arranjador de primeiro time. O músico brasileiro, por ser colonizado, tem mania de trabalhar com arranjadores que fazem sucesso no exterior. Foi só o Eumir Deodato participar de um disco da Björk para começar a ser idolatrado por aqui."
Bem servido de arranjadores, Chico César conta com a nata da percussão brasileira no CD. Além de Marcos Suzano, que participa em quase todas as faixas, o músico tem o reforço de Naná Vasconcelos em "A Força Que Nunca Seca", já gravada divinamente por Maria Bethânia, e em "Aquidauana", esta última um delicioso coco sampleado.
Como bom herdeiro de Luiz Gonzaga e de Jackson do Pandeiro, Chico não poderia deixar de gravar um forró no disco. "Nego Forró" tem tudo para estourar nas casas de forró paulistanas, frequentadas hoje pela classe média alta da cidade. "Aqui em São Paulo o forró tradicional tem sido mais respeitado e valorizado do que no Nordeste, onde grupos comerciais, na linha do Mastruz com Leite, dominam o mercado. Acho genial a juventude paulista saber de cor músicas do Gonzagão e do Jackson."
A estréia de "Mama Mundi" nos palcos vai ocorrer dia 4 de abril no Heineken Concerts, no Tom Brasil, festival em que Chico vai se apresentar na mesma noite da cantora alemã Cora Frost. Em maio, nos dias 5 e 6, o compositor se apresenta no Festival de Jazz, em New Orleans, nos Estados Unidos, e volta ao país em agosto e setembro para uma grande turnê. Antes, passa o mês de julho em shows pela Europa.
Enquanto não cai na estrada, Chico vai cuidando da divulgação do disco. Durante toda a semana, o cantor esteve em Matão, interior de São Paulo, gravando o videoclipe para a canção "Pensando em Você". O local das gravações foi uma fazenda da cidade, onde estão instaladas cerca de 1.200 famílias de sem-terra. "Não quero ser panfletário, mas achei importante me aproximar dessas pessoas. Já toquei em festivais de sem-terra, tenho uma ligação forte com essa gente. Além disso, será importante para a molecada que assiste MTV saber um pouco da rotina de vida desse povo." (TOM CARDOSO)


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