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CRÍTICA
Compositor procura a rota da sofisticação
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
"Mama Mundi",
quarto CD de Chico César, 36, é
aprumo de rota na
sua carreira.
Se vinha migrando a certo comercialismo populista em seus segundo ("Cuscuz
Clã", 96) e terceiro ("Beleza Mano", 97) álbuns, agora ele parece
perseguir a sofisticação -e sem
apelar para modismos tecno.
Seu apreço pela world music
está mantido ("4h14 ou 10 p/3",
que abre o disco, já entra na fase
terceiro-mundista de Paul Simon), mas aqui ele busca o novo.
Assim, congrega gaitas de foles
(na já citada "4h14 ou 10 p/3") ou
referências orientais ("Aquidauana", gravada primeiro nas
ruas de Istambul), em arranjos
quase sempre complexos.
Outro nicho de referência de
Chico César, o caetanismo, passa
pelo mesmo processo. A influência tropicalista fica marcada (Gilberto Gil é evidente em "Dança",
regravada de seu primeiro CD,
"Aos Vivos", de 95, e na "gonzaguiana" "Nego Forro").
Mas Chico resolveu tomar
constituintes mais sofisticados
da tropicália. Tal se pode perceber no belíssimo arranjo de "Barco" (impossível não lembrar
de"Os Argonautas", do disco
pré-exílio de Caetano), de evocação aos de Rogério Duprat no refluxo tropicalista de 69.
A mesma "Barco", um dos ápices do CD, se comunica com o
pós-tropicalismo sideral/siderado de Jorge Ben em "Errare Humanum Est" (74) e, daí, com o
outro ápice, "Talvez Você", forrado de violinos afetuosos (um
pouco como os que Ben usava
em 71), sob uma letra inspirada
de espiral amorosa: "Se é melhor
ficar só não sei/ Talvez sair/ E alguém me achar/ Talvez você".
As letras ainda giram em torno
do pós-modernismo tropicalista
e do romantismo de desamor.
Em "Dança do Papangu", entretanto, ele ousa modesto protesto, dizendo que "não é o
Tchan/ nem U2/ na dança do papangu/ dança lady Diolinda/
dança Lady Zu".
De cara parece nacionalismo (a
líder-mulher do Movimento dos
Sem-Terra já foi tema de Chico
em "Diolinda", que o co-autor
Vicente Barreto lançou há pouco, assim como fez com "Talvez
Você"), mas não é. É U2 versus
Lady Zu -a disco-rock de lá
contra a disco-funk daqui-, é
Carla Perez versus Diolinda -a
bunda de lá contra a cabeça daqui. De leve, que é contravenção.
Na ponta oposta, há "Sou Rebelde", aquela da versão brega-lindinha de Paulo Coelho para o
sucesso de Lilian (a do Leno) em
79, em releitura ultracool.
Não é feia -Chico sempre se
dá melhor quando amansa a voz,
embora goste da aspereza e grite
à vontade no CD, notadamente
na canção-título e em canções
que havia dado antes a Maria Bethânia ("A Força Que Nunca Seca", 99) e a Rita Ribeiro (a bela
"Pensar em Você", também 99).
Mas quer apostar que foi idéia
luminosa da gravadora, doida
para que se refaça o "ressucesso"
de Peninha por Caetano, "Sozinho"? Repare nas fundas semelhanças de tema e tratamento entre ambas... Vai ser moda.
Outra fresta é que "Mama
Mundi" força a mão em estranhos temas world-indígenas
-eles transpassam a faixa-título
(uma realocação de "Um Índio",
de Caetano), "Aquidauana",
"Dança" (arranjo vindo direto
da oca), os gritos finais do tecno-reggae "Folclore", o samba-enredo "Sonho de Curumim".
Fica um cheirinho de 500 anos
de Brasil, de adesismo à festa que
não tem razão de ser (os Pitta
que o provem). Chico César fica
de lá, fica de cá. Muito múltiplo,
escolheu a sofisticação -o que
já são óculos escuros na claridade cegante da indústria da bunda-, mas não ideologia.
Avaliação: ![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
Disco: Mama Mundi
Artista: Chico César
Lançamento: MZA/Universal
Quanto: R$ 20, em média
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