São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TV

Edição reúne compilação de esquetes e mininovelas do programa humorístico

Besteirol tabu da série "TV Pirata" chega ao DVD

MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

"Não fui ver sua peça porque você matou o Barbosa." O ataque a Ney Latorraca ocorreu num restaurante do interior de São Paulo, enquanto jantava após se apresentar no teatro. O eco do pai de família que virou ícone do besteirol nos anos 80 retorna no DVD "TV Pirata", lançado ontem, 13 anos após a exibição da última temporada da série que mudou a linguagem do humor na TV.
Seu retorno e o dos mais de cem personagens criados pela equipe do "TV Pirata" (1988-1992) demorou. Segundo Cláudio Paiva, 47, redator final do programa e responsável pela edição do DVD -uma compilação com pouco mais de oito horas de vídeo-, há material de sobra. "É um produto com os melhores momentos. Tentei também colocar apenas as esquetes e personagens que não envelheceram, que são atuais", diz o roteirista, que atualmente escreve "A Grande Família".
Considerado o embrião dos programas de humor realizados a partir dos anos 90, "TV Pirata" revelou uma geração de roteiristas -tinha, no time de criação, integrantes do "Casseta & Planeta" e o dramaturgo Mauro Rasi (1949-2003), entre outros-, diretores e atores. "Era uma seleção canarinho. Sou o maestro de uma grande orquestra", afirma Paiva.
Na época alternativo, o grupo agora faz parte da história da TV brasileira. Saiu das bases do teatro besteirol, da imprensa e do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone, entre outros. "Tínhamos excelentes comediantes. Eu já conhecia todos, o que facilitou o trabalho. É difícil conseguir realizar um exercício de ator na TV, coisa que a "Pirata" proporcionava", afirma Latorraca, peça-chave do time de atores que buscou na infância a concepção de Barbosa. "Eu fazia ele na praia para os meus primos. Veio da memória emotiva."
Para Pedro Paulo Rangel, 56, "TV Pirata" garante as melhores recordações. "Apesar do trabalho extenuante, me lembro do prazer de fazer. Era tudo incipiente e experimental. Era ousado para o horário nobre", diz o ator, que entrou no segundo ano do seriado para substituir Marco Nanini.
O produto está dividido em dois discos. No primeiro, há quatro blocos, dois com a programação -mininovelas, minisséries, telejornais e publicidade- e outros dois com esquetes. O segundo disco traz as novelas "O Segredo de Darcy" e a antológica "Fogo no Rabo", completa em 33 capítulos.
Ninguém escapava das sátiras do programa, cujos temas misturavam política, violência, publicidade, economia, cultura, sociedade e televisão, subvertendo os valores e adicionando temas até então discutidos como tabus com uma pesada dose de surrealismo.
A repercussão foi tanta que deixou órfãos. "As pessoas são muito saudosistas e carentes. "Pirata" está presente, não há orfandade. Trabalho com o seguinte conceito: a gente faz uma coisa e, após um tempo, quer fazer coisas novas", diz Paiva. "Artisticamente, ela cumpriu sua missão. Tinha de dar espaço para outras coisas."
O seriado é reexibido na TV paga -até outubro, no Multishow.
O DVD chegou, mas veio apenas como aperitivo para os fãs. É bem provável que a orfandade vá reclamar da compilação, que deixou de lado alguns bons personagens e esquetes que ainda renderiam uma segunda edição.


TV Pirata (461 min.)
Direção-geral:
Guel Arraes
Distribuidora: Som Livre; R$ 60


Texto Anterior: "A Vida É um Milagre": Anarquia de Emir Kusturica tropeça em excessos
Próximo Texto: Coleção de livros conta princípio do "Casseta"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.