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TV
Edição reúne compilação de esquetes e mininovelas do programa humorístico
Besteirol tabu da série "TV Pirata" chega ao DVD
MARCELO BARTOLOMEI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
"Não fui ver sua peça porque
você matou o Barbosa." O ataque
a Ney Latorraca ocorreu num restaurante do interior de São Paulo,
enquanto jantava após se apresentar no teatro. O eco do pai de
família que virou ícone do besteirol nos anos 80 retorna no DVD
"TV Pirata", lançado ontem, 13
anos após a exibição da última
temporada da série que mudou a
linguagem do humor na TV.
Seu retorno e o dos mais de cem
personagens criados pela equipe
do "TV Pirata" (1988-1992) demorou. Segundo Cláudio Paiva,
47, redator final do programa e
responsável pela edição do DVD
-uma compilação com pouco
mais de oito horas de vídeo-, há
material de sobra. "É um produto
com os melhores momentos.
Tentei também colocar apenas as
esquetes e personagens que não
envelheceram, que são atuais",
diz o roteirista, que atualmente
escreve "A Grande Família".
Considerado o embrião dos
programas de humor realizados a
partir dos anos 90, "TV Pirata" revelou uma geração de roteiristas
-tinha, no time de criação, integrantes do "Casseta & Planeta" e
o dramaturgo Mauro Rasi (1949-2003), entre outros-, diretores e
atores. "Era uma seleção canarinho. Sou o maestro de uma grande orquestra", afirma Paiva.
Na época alternativo, o grupo
agora faz parte da história da TV
brasileira. Saiu das bases do teatro
besteirol, da imprensa e do grupo
Asdrúbal Trouxe o Trombone,
entre outros. "Tínhamos excelentes comediantes. Eu já conhecia
todos, o que facilitou o trabalho. É
difícil conseguir realizar um exercício de ator na TV, coisa que a
"Pirata" proporcionava", afirma
Latorraca, peça-chave do time de
atores que buscou na infância a
concepção de Barbosa. "Eu fazia
ele na praia para os meus primos.
Veio da memória emotiva."
Para Pedro Paulo Rangel, 56,
"TV Pirata" garante as melhores
recordações. "Apesar do trabalho
extenuante, me lembro do prazer
de fazer. Era tudo incipiente e experimental. Era ousado para o horário nobre", diz o ator, que entrou no segundo ano do seriado
para substituir Marco Nanini.
O produto está dividido em dois
discos. No primeiro, há quatro
blocos, dois com a programação
-mininovelas, minisséries, telejornais e publicidade- e outros
dois com esquetes. O segundo
disco traz as novelas "O Segredo
de Darcy" e a antológica "Fogo no
Rabo", completa em 33 capítulos.
Ninguém escapava das sátiras
do programa, cujos temas misturavam política, violência, publicidade, economia, cultura, sociedade e televisão, subvertendo os valores e adicionando temas até então discutidos como tabus com
uma pesada dose de surrealismo.
A repercussão foi tanta que deixou órfãos. "As pessoas são muito
saudosistas e carentes. "Pirata" está presente, não há orfandade.
Trabalho com o seguinte conceito: a gente faz uma coisa e, após
um tempo, quer fazer coisas novas", diz Paiva. "Artisticamente,
ela cumpriu sua missão. Tinha de
dar espaço para outras coisas."
O seriado é reexibido na TV paga -até outubro, no Multishow.
O DVD chegou, mas veio apenas como aperitivo para os fãs. É
bem provável que a orfandade vá
reclamar da compilação, que deixou de lado alguns bons personagens e esquetes que ainda renderiam uma segunda edição.
TV Pirata (461 min.)
Direção-geral: Guel Arraes
Distribuidora: Som Livre; R$ 60
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