São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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ESTUDO/"INTRODUÇÃO AO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO"

Labaki traça panorama documental

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Quase simultaneamente à 11ª edição do festival de documentários É Tudo Verdade, que se inicia na próxima quarta, em São Paulo, seu criador e curador, Amir Labaki, lança "Introdução ao Documentário Brasileiro", uma obra que não se pretende exaustiva, mas é capaz de pontuar, com precisão, a trajetória da produção não-ficcional no Brasil.
O livro nasceu a partir de um curso que Labaki preparou para o Instituto Moreira Salles -mas, para além de sua função didática, a característica mais interessante do conjunto de textos é que eles não se desligam da atualidade, procurando iluminar pontos e construir pontes que possam contextualizar o "lugar privilegiado" conquistado pelo documentário nesse período da retomada.
Logo na introdução, Labaki situa o leitor na perspectiva que vai desenvolver. Em primeiro lugar, destaca o fato de que o documentário atravessou com "rara regularidade" a história do cinema no Brasil. Observa também que, por trás de obras ficcionais marcantes da última década, existem, "como semente ou espelho", documentários. "Central do Brasil", de Walter Salles, nasceu do curta "Socorro Nobre"; "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles, bebeu na fonte de "Notícias de uma Guerra Particular", de João Moreira Salles e Katia Lund; e "Carandiru", de Hector Babenco, ganhou um interessante complemento/contraponto em "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de Paulo Sacramento.
Labaki afirma também que "a mais inovadora escola do atual documentário brasileiro é egressa da geração de videoartistas das décadas de 80 e 90", um reconhecimento merecido a um conjunto de autores -entre eles Cao Guimarães, Lucas Bambozzi e Sandra Kogut, que está contribuindo para a renovação de linguagem do cinema brasileiro, ainda que seus filmes sejam pouco vistos.
Na condição de curador, Labaki está atento ao conjunto da produção contemporânea, e propiciou, na janela do festival, oportunidade fundamental para que tais obras ganhassem influência.
Essa preocupação, porém, não abandona a perspectiva histórica. Há um apanhado do documentário da era silenciosa aos dias de hoje, que inclui um apêndice com comentários sobre 50 títulos disponíveis em VHS ou DVD.
Não faltam informações que elucidam uma trajetória repleta de singularidades -com destaque para o papel do "cinema de cavação" nos tempos do cinema mudo (filmes de encomenda realizados por cinegrafistas para ricos e poderosos, nem sempre sob encomenda), a importância de Luiz Thomas Reis (responsável pelos filmes da Comissão Rondon) e de Silvino Santos, Humberto Mauro e sua farta produção para o Instituto de Cinema Educativo; a riqueza da caravana Farkas, que desbravou o Nordeste; o marco histórico "Aruanda", de Linduarte Noronha; Glauber e seu revolucionário curta "Di-Glauber"; e Eduardo Coutinho e seu "Cabra Marcado para Morrer", que deu nova guinada no documentário nacional.


Introdução ao Documentário Brasileiro
    
Autor: Amir Labaki
Editora: Francis
Quanto: R$ 16,50 (128 págs.)


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