|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESTUDO/"INTRODUÇÃO AO DOCUMENTÁRIO BRASILEIRO"
Labaki traça panorama documental
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Quase simultaneamente à 11ª
edição do festival de documentários É Tudo Verdade, que
se inicia na próxima quarta, em
São Paulo, seu criador e curador,
Amir Labaki, lança "Introdução
ao Documentário Brasileiro",
uma obra que não se pretende
exaustiva, mas é capaz de pontuar, com precisão, a trajetória da
produção não-ficcional no Brasil.
O livro nasceu a partir de um
curso que Labaki preparou para o
Instituto Moreira Salles -mas,
para além de sua função didática,
a característica mais interessante
do conjunto de textos é que eles
não se desligam da atualidade,
procurando iluminar pontos e
construir pontes que possam contextualizar o "lugar privilegiado"
conquistado pelo documentário
nesse período da retomada.
Logo na introdução, Labaki situa o leitor na perspectiva que vai
desenvolver. Em primeiro lugar,
destaca o fato de que o documentário atravessou com "rara regularidade" a história do cinema no
Brasil. Observa também que, por
trás de obras ficcionais marcantes
da última década, existem, "como
semente ou espelho", documentários. "Central do Brasil", de
Walter Salles, nasceu do curta
"Socorro Nobre"; "Cidade de
Deus", de Fernando Meirelles, bebeu na fonte de "Notícias de uma
Guerra Particular", de João Moreira Salles e Katia Lund; e "Carandiru", de Hector Babenco, ganhou um interessante complemento/contraponto em "O Prisioneiro da Grade de Ferro", de
Paulo Sacramento.
Labaki afirma também que "a
mais inovadora escola do atual
documentário brasileiro é egressa
da geração de videoartistas das
décadas de 80 e 90", um reconhecimento merecido a um conjunto
de autores -entre eles Cao Guimarães, Lucas Bambozzi e Sandra
Kogut, que está contribuindo para a renovação de linguagem do
cinema brasileiro, ainda que seus
filmes sejam pouco vistos.
Na condição de curador, Labaki
está atento ao conjunto da produção contemporânea, e propiciou,
na janela do festival, oportunidade fundamental para que tais
obras ganhassem influência.
Essa preocupação, porém, não
abandona a perspectiva histórica.
Há um apanhado do documentário da era silenciosa aos dias de
hoje, que inclui um apêndice com
comentários sobre 50 títulos disponíveis em VHS ou DVD.
Não faltam informações que
elucidam uma trajetória repleta
de singularidades -com destaque para o papel do "cinema de
cavação" nos tempos do cinema
mudo (filmes de encomenda realizados por cinegrafistas para ricos e poderosos, nem sempre sob
encomenda), a importância de
Luiz Thomas Reis (responsável
pelos filmes da Comissão Rondon) e de Silvino Santos, Humberto Mauro e sua farta produção
para o Instituto de Cinema Educativo; a riqueza da caravana Farkas, que desbravou o Nordeste; o
marco histórico "Aruanda", de
Linduarte Noronha; Glauber e
seu revolucionário curta "Di-Glauber"; e Eduardo Coutinho e
seu "Cabra Marcado para Morrer", que deu nova guinada no documentário nacional.
Introdução ao Documentário Brasileiro
Autor: Amir Labaki
Editora: Francis
Quanto: R$ 16,50 (128 págs.)
Texto Anterior: Livros - Romance: A bruta periferia de Bonassi, para além do determinismo Próximo Texto: Vitrine Brasileira Índice
|